AMAR MARIA (II)
A eficácia da Ave Maria
1) Primeiro exemplo: Um irmão havia extraviado em sua cela um livreto e, apesar de prolongadas e cuidadosas buscas não logrou encontrá-lo. Estava muito entristecido por esta perda e se desvanecia sua esperança, até que se refugiou na oração e invocou à Bem-aventurada Virgem com a Ave Maria. Aconteceu que, começando a Ave Maria e continuando em sua aflição pela perda, lhe ocorreu esta inspiração: “Busca aqui, diante de ti, abaixo da palha do leito onde te encontras rezando frente à imagem de Maria”. Esticou em seguida a mão para averiguar se estava ali embaixo e foi aí que, apenas levantou um pouco a palha, encontrou o livreto e o retirou. Emocionado o beijava, agradecendo a Deus e a Bem-aventurada Virgem; e acabou de rezar a Ave Maria, que havia só começado. Pensava: “Talvez Nossa Senhora desejasse receber algumas Ave Marias. Por isso não pode achar de imediato o livreto”. Está bem, então, recitar freqüentemente a Ave Maria, invocando devotamente à Mãe de Jesus.
2) Segundo exemplo. Outro irmão, enquanto estava escrevendo um livro em sua cela, era molestado pelo demônio com maus pensamentos. Por isso se levantou indignado, com a intenção de sair da cela. Mas, antes de fazê-lo, teve uma inspiração divina: olhou para a imagem da Virgem Bem-aventurada, que tinha consigo e costumava saudar com devoção. Ajoelhou-se e começou a repetir a Ave Maria com as mãos juntas. Subitamente foi ajudado pela graça divina. Com efeito, lhe acudiram Maria, Nossa Senhora e seu divino Filho. Então concluiu a Ave Maria que, devido a agitação, só havia começado. Quando disse: “... Jesus Cristo. Amém”, sentiu em si mesmo o poder de Deus e desapareceu toda tentação. Maravilhou-se de haver sido atendido com tanta rapidez e compreendeu a grande utilidade da Ave Maria contra qualquer tentação do inimigo. Agradeceu, pois, a Deus e disse para si: “Agora entendo que Nossa Senhora Santa Maria é poderosa, e pode ajudar a todos os que recorrem a ela”. A noite seguinte lhe apareceu em sonho esta visão: parecia que caminhava só pelo horto adjacente ao limite da cidade. Satanás lhe apareceu e começou a espantá-lo e a pô-lo em fuga. O frei, impressionado de seu aspecto, começou a correr para salvar-se dele. Não atrevendo-se a sair fora dos confins do monastério, deixou logo de correr e caiu em um foco de água, cheio de lodo. Tinha medo de se afogar, pois não havia uma alma viva que lhe estendesse a mão para ajudá-lo. Então começou a recitar a Ave Maria e pedir auxílio. Profundamente aliviado, quase liberado do laço da morte, voltou a si. Levantando-se do leito começou a chorar de alegria e, de joelhos, rezou muitas Ave Marias, acrescentando também estas palavras: “Ave Maria, doce Senhora nossa, cheia de graça, o Senhor esteja contigo, porta da misericórdia”.
3) Terceiro exemplo: Dois freis regulares caminhavam juntos em direção a uma montanha, para visitar parentes e fiéis em Cristo. Sucedeu que se desviaram um tanto do caminho certo. Então, o monge mais velho disse ao mais jovem: “Irmão, parece-me que nos equivocamos; portanto, voltemos atrás”, e começou a rezar e a invocar a Virgem Bem-aventurada, para que lhes enviasse um guia que lhes indicasse o caminho correto. Havendo recitado algumas “orações, hinos e coletas em honra da Bem-aventurada Virgem, eis então que se lhes apresentou de improviso um homem com aspecto de peregrino, que levava sobre seus ombros um bastão e uma bolsa de viagem. Este saudou aos dois freis e com gosto se uniu a eles. Sem demorar seguiram ao guia pelo caminho certo durante um longo trajeto, até que chegaram ao lugar onde tinham que ir. Então, o frei mais velho, compreendendo que se lhes havia concedido uma ajuda divina, agradeceu à Virgem Santa por haver enviado um guia que lhes conduzisse a meta, recordando as palavras de São Pedro: “Descarreguem n’Ele todas suas inquietudes, e Ele se ocupará de vocês (1 Ped 5, 7)
4) Quarto exemplo: Um frei, quando tinha tribulações, costumava invocar Jesus e a piedosíssima Mãe Maria e quando era tentado por alguma viciosa paixão ou tristeza, se refugiava na meditação da paixão de Jesus, rezando a Ave Maria e invocando o auxílio de Jesus e Maria contra a tentação. Uma noite viu em sonhos ao diabo, que se aproximava e queira causar-lhe dano. Temendo que se lhe sucedesse o pior, sem possibilidade de escapatória, começou a recitar em voz baixa a Ave Maria. Quando o diabo o ouviu invocar a Jesus, imediatamente se afastou dele e começou a fugir a toda velocidade. Ao ver isto, o irmão começou a gritar-lhe de atrás: “Jesus, Jesus”, e quanto mais forte gritava esse nome, tanto mais velozmente se afastava Satanás aterrorizado pelo doce nome de Jesus e de Maria sua Mãe. E desapareceu. Frente ao feito sonhado, o monge despertou pela inesperada alegria e exclamou: “Se com uma Ave Maria posso por em fuga ao diabo, que tenho que temer?
5) Quinto exemplo: Em nosso convento havia um frei ancião chamado Egberto. Era devoto a Deus e à Bem-aventurada Virgem, como também fervoroso amante da santa pobreza. Na medida em que permitiam suas forças, trabalhava intensamente, lavrando a terra com a enxada ou arando. Enquanto transpirava em seu duro labor, pensava nas dores da paixão de Cristo. Logo, cansado pelo trabalho e com o fim de dar alívio ao corpo, insistia na oração. Longo tempo o diabo o tentou para que abandonasse o monastério e fosse mendigar pelo mundo, dizendo-lhe que isso era mais agradável a Deus e que assim se despojaria das comodidades das que ele se considerava indigno. Mas, abandonou este projeto por conselho do prior e pelas recomendações dos co-irmãos, evitando deste modo afrontar perigos e cometer erros ao andar vagando pelo mundo. Com freqüência o astuto tentador engana sob as aparências de um anjo e distancia as almas do caminho do bem. De qualquer modo, como não estava contente de permanecer no convento, mas tampouco queria abandoná-lo sem a devida permissão, se dirigiu à Bem-aventurada Virgem mediante a oração. Um dia, cansado pelo trabalho, ajoelhou-se para rezar segundo seu costume. Enquanto se achava só prostrado no chão, dormiu docemente e viu a Venerável Senhora que estava ao seu lado e lhe dizia estas palavras: “Fica neste lugar e faz o que te hão dito o prior e os co-irmãos”. Depois desta indicação, a Senhora desapareceu e o frei, tendo voltado a si, chorou copiosamente. Dirigiu-se com rapidez para onde estava o prior e entre gemidos e pranto lhe relatou o que havia visto e ouvido. O prior, como bom pastor, respondeu com palavras de alento à triste ovelha: “Isso me agrada, querido Egberto. Fica conosco, tal como há um momento te há recomendado Nossa Senhora”. O frei não seguiu vivendo muito tempo, mas em troca de um breve labor receberia o prêmio da vida eterna. Perseverando na paciência e na obediência, dormiu no Senhor na manhã da oitava de São João Apóstolo e Evangelista, do ano 1420.
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“de Maria nunquam satis"
"sobre Maria nunca se falará o bastante"
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(KEMPIS, Tomás de. Imitación de María: Libro Tercero, Capítulo I. pág. 79 - 84)