CAPITULO XII - LIVRO IMITAÇÃO DE MARIA
QUE SÃO RESERVADAS PARA
OS HUMILDES AS GRACAS DE DEUS
Maria - Meu filho, quero te ensinar um segredo para obteres de Deus
imensas graças: é sempre te julgares indigno de as receber. Deus "dá suas graças
aos humildes" (Tg 4,6). Em um coração cheio de si mesmo, não encontra
lugar para os seus favores.
O Servo - Ó Rainha dos Santos, exemplos nos destes disso, exemplos que
nos valem como fecunda fonte de ensinamentos.
Basta
considerar o modo como vos comportastes durante a visita do Anjo, vindo por
ordem do Senhor, para que vejamos os sentimentos de humildade de vossa parte.
O Anjo vos
anunciou que próxima estava a hora de serdes Mãe de Deus; e todavia não podíeis
entender como Deus se dignara vos escolher para tão eminente dignidade.
A ideia de
tão culminante elevação sobre a natureza humana de algum modo vos tornou
suspeitosa a visita d'aquele Anjo. E no momento em que o Ser Supremo se
resolvera encerrar-se em vosso seio, só pensastes em vos abismar no vosso
"nada".
De quantos
títulos relacionados com a dignidade
de Mãe de Deus, só bem quisestes
imprimir no espírito o de "Serva do Senhor". Nova Eva, bem diferente
da primeira Eva quisestes ser. O orgulho daquela foi a causa da perda dos
privilégios divinos. Mas a vossa humildade foi a fonte mesma dos vossos
privilégios.
Para
"operar" em vós "grandes maravilhas", o Todo-Poderoso não
levou em conta vantagens naturais ou nobrezas de origem, senão antes a vossa
condição modesta. Fora natural que um Deus, humilhando-se até à natureza humana
de que se revestiu, tivesse infinitas complacências para com a humildade.
Convinha que para sua mãe escolhesse aquela que, por uma profunda humildade
mereceria sem dúvida a mais alta de todas as dignidades.
A Deus
agradastes pela virgindade. E pela humildade, Senhora, foi que a Deus
concebestes!
Maria - Aos olhos de Deus, filho meu, bem mais ainda que aos dos
homens, o que mais méritos tem é o que menos julga ter, ainda quando muitos méritos
possua. Na verdade, o que Deus com complacência "olha no céu e na terra?
As almas humildes" (Sl 112,6). "Sobre quem porei as minhas
vistas", di-lo Ele próprio, "senão sobre o pobre, o que tem o
espírito humilhado?" (Is 66,2).
Causa é o
orgulho da pobreza de tantos cristãos vazios dos bens da graça. Se estudassem a
si mesmos, o conhecimento próprio lhes daria a humildade, e esta, por atrair
novas graças, remediaria a indigência deles.
Esvazia-te
de ti mesmo, filho, para que de seus dons te farte Deus. Faze-te rico,
confessando em teu íntimo que não és mais que miséria. Se te mostrares humilde,
de ti se servirá Deus para sua glória aos que não pretendem usurpá-la nem dela
se favorecer.
Quando de
Deus alguma graça receberes, pensa com humildade e reconhecimento quanto
necessário é que seja Deus um "bom Mestre" para gratificar assim ao
último dos seus servos.
Nada
atribuas a ti mesmo, daquilo que faças de bom ou de bom possuas. Ainda quando
correspondas com fidelidade à graça que recebeste, lembra-te que fiel não
poderias ser se acaso te faltasse o socorro da mesma graça.
Se Deus
recompensa a tua fidelidade, são os seus próprios dons que Ele coroa. Traze
sempre contigo estes três sentimentos: Deus é tudo, eu sou nada; Deus possui
tudo, eu só miséria possuo; Deus pode tudo, eu nada posso sem o seu auxílio.
Então, em
nada seres, nem possuíres nem poderes, algo serás aos olhos de Deus. Verás
assim como te concederá o Senhor de bom-grado os seus favores, e que forças te
dará para que saias vitorioso contra todos os inimigos que te venham a atrapalhar
os passos na senda da perfeição cristã!
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