CAPÍTULO
X – LIVRO IMITAÇÃO DE MARIA
DAS
PRECAUÇÕES NECESSÁRIAS À CONSERVAÇÃO DA PUREZA
Em virtude da graça de
sua Conceição, foi sempre Maria inacessível aos assaltos do vício. Entretanto,
ao avistar-se com o Anjo, aparecendo--lhe sob forma humana, Maria perturbou-se.
Saudando-a o Anjo logo "cogitou consigo mesma que saudação seria
essa" (Lc 1,29).
E com o Anjo a sós se
encontra, sem testemunhas, o que foi suficiente para que dela se apossasse um
santo temor. "De ti nascerá um Filho" (Lc 1,31), diz-lhe o Anjo,
"e lhe darás o nome de Jesus". Novo motivo de perturbação para Maria.
Não tem dúvida sobre a
realidade do mistério anunciado pelo Anjo. Sabe que "a Deus nada é
impossível". Apenas, quer saber do modo como se realizará o mistério.
Que discreta é a pergunta
de Nossa Senhora, Que prudência! Nada mais diz além do necessário! Só por isso,
já fácil se torna o reconhecimento de uma alma que da pureza faz o seu tesouro!
O pudor é a delicada flor
que murcha a um leve sopro. Basta um olhar para feri-la, uma palavra só para
assustá-la.
Uma virgem conhecedora do
alto preço de tal virtude teme as ocasiões de a melindrar, mesmo muito antes
que essas ocasiões se aproximem.
Palavras lisonjeiras,
oferendas e favores, conversas mesmo de aparência inocente, tudo lhe é
suspeitoso, tudo a faz redobrar na vigilância e solicitude. Mas, se de tantas
precauções precisa a pureza para que na sua integridade se conserve, como é
possível afirmar que existam tantas almas castas neste mundo?
Seria de desejar que se
tomassem para conservar essa virtude as precauções que em via de regra se tomam
para salvar as aparências.
Para quantas pessoas a
ociosidade, a vida negligente, as leituras perigosas, as conversas libérrimas
foram ocasiões de pecado mais grave?
Muitas virgens cristãs
conversam frequentemente, sem temor, com pessoas que não são Anjos. Se alegarem
que velam sobre a pureza, pode-se retrucar que também vela o demônio para
perdê-las.
Sobretudo, uma virgem que
ama os louvores, não será muito tempo indiferente às habituais adulações.
Em matéria de pureza,
tudo é motivo para temer, pela razão mesma de que nunca é demasiado o quanto se
teme. Em via de regra, buscamos dissimular os perigos que amamos. E a prova de
que os amamos está na diligência em os ocultarmos a nós mesmos.
Somos todos formados do
mesmo barro. De nós pode muito bem ser o que de outros por desgraça já tem
sido, quando procuram experimentar a sua fraqueza. Ainda que conte com o
socorro da graça, ninguém tem direito de se expor ao perigo.
Só, em verdade, podem
estar seguros aqueles que na tentação se achem sem que a tenham procurado.
Quando, após anos a fio,
puderes empilhar as vitórias alcançadas contra o demônio da impureza, não te
julgues, ainda assim, invencível.
Continua a desconfiar dos
inimigos e de ti próprio. Evita as ocasiões diárias que de toda parte se te
apresentam e que se encarrega o demônio de multiplicar.
Então, de Deus virá sobre
ti a fortaleza para triunfares nessas ocasiões imprevistas, as quais de tua
parte requerem grande virtude.
Ó Virgem, Mãe de Deus,
consegui para mim a graça de desconfiar de mim próprio, a prudência e a
mortificação dos meus sentidos, condições tão necessárias para que me conserve
na castidade.
Não pode dizer que vos
ama quem não ame com especial carinho uma virtude que foi um dos princípios de
vossa glória.
Ó Mãe Puríssima! Obtende
para mim a graça de viver em tão exata pureza, de jeito que sempre encontrareis
em vosso servo o mais certo sinal dos mais diletos filhos de Maria!
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