CAPÍTULO VIII – LIVRO IMITAÇÃO
DE MARIA
DE COMO ESCOLHER UM
ESTADO
Maria,
desde os primórdios de sua vida, só a Deus buscava e amava. Por isso, merecera
de Deus todas as bênçãos, e, sobretudo, a preparação de um estado tal como fora
necessário, a fim de que na pessoa da santíssima Virgem se cumprissem os
adoráveis oráculos de Deus.
Para obter
uma feliz vocação, é mister que haja um concurso de coisas e circunstâncias que
a Providência habitualmente reserva às almas fiéis, aquelas almas que O
consultam sobre a escolha de um estado. Poderá esperar que Deus lhe reserve
alguém que tenha aquiescido aos funestos impulsos das suas paixões? A
Providência recolhe no seio de Maria, por seu casamento com São José, o
precioso fruto das virtudes que ela com fidelidade praticou.
Se só ao
mundo houvessem consultado , sobre a união de Maria com um esposo, sem dúvida
teriam escolhido um homem rico, ou distinto " pelo seu talento, ou outros
dons, menos, porém um homem de virtudes, um homem que vivesse' desde a infância
no temor de Deus. Não por esta última forma age o mundo, senão da outra.
Vistas
interesseiras, considerações meramente humanas servem de princípio à maior
parte dos casamentos. Conclusões se tiram das premissas dos bens materiais
antes que do tesouro das graças.
Daí o
grande número de insucessos matrimoniais, em que dois esposos mutuamente vão
vivendo o seu martírio.
Assim o
permite Deus para vingar, ainda nesta vida, o não ter sido consultado sobre um negócio,
cujo êxito depende de Sua sábia direção.
Assim, ele o permite como punição de se não
ter feito, desde a mocidade, pela prática de virtudes, digno de Sua proteção. A
escolha dos pais de Maria, ou melhor, a escolha de Deus recaiu em José, homem
justo, o mais virtuoso dos homens que já nesta terra existiu, o esposo mais
digno da mais digna das virgens.
Jamais
casamento algum poderia ser mais venturoso que esse. Nem jamais houve corações
que se alegrassem ao ponto dos de Maria e José, tão santamente unidos. A paz
reinante naquelas almas, quem a poderia alterar?
É que Maria
e José se achavam colocados no estado em que Deus os quis.
Há muitos
que vivem descontentes do seu estado. Sofrem muito, e muitas vezes fazem sofrer
os outros.
A razão
disso está em terem procurado um estado no qual Deus não os queria. Neles, bem
se ajustam as palavras do profeta: "Ai de vós, filhos desertores de minha Providência,
que vos aconselhastes, sem me consultar-(Is 30,1). A graça da vocação é uma
graça importante que encerra em si mesma uma infinidade de outras. Se com a
fidelidade se falta a esta graça, inútil será esperar pelas demais.
Se se
afasta da ordem desta Providência especial, que prepara graças de eleição para
quem esteja disposto a se conformar com a vontade divina, logo se cai na ordem
de uma providência comum, que só fornece graças comuns, com as quais alguém se
poderá salvar, porém faz temer que se não salve, ou ao menos que só se salve
dificilmente.
Consulta,
pois, e roga ao Senhor, sobre a escolha de um estado, antes que deliberes, e
dize como o profeta: "Fazei-me conhecer, Senhor, Os caminhos por onde
deverei seguir!" (Sl 142,8)
Vive, alma
crista, de modo tal que em ti o Senhor não veja um indigno de seus cuidados. Se
claramente não percebes a vontade de Deus, consulta os que são encarregados ou
delegados de Deus, aos quais compete iluminar-te a respeito do que tenhas de
fazer.
Jesus
prostrou por terra a Saulo no caminho de Damasco, mas não lhe explicou os seus desígnios
a respeito dele, senão que o enviou a Ananias, para que assim o conhecesse.
Não
consultes nem aos teus pais senão na medida em que o dever o exige. Pode
acontecer, infelizmente, que os pais deem a seus rebentos, a respeito de
vocações, conselhos em conformidade com as máximas do mundo. "Os inimigos
do homem estarão na sua casa" (Mt 10,36).
Em suma, é
prudente te aconselhares com a morte, isto é, decidires como certamente o
farias, se fosse aquela hora em que deliberas a última hora da tua vida.
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