CAPÍTULO IX – LIVRO IMITAÇÃO
DE MARIA
DE COMO SE DEVE ESTIMAR
O SEXTO MANDAMENTO
Quando o
Anjo propôs a Maria tornar-se ela a Mãe de Deus, não lhe explicou se esta
augusta prerrogativa concordava com o voto de virgindade que ela fizera. Então,
Maria suspendeu o seu consentimento. É que mais grato lhe fora ultrapassar em
méritos as criaturas pela virgindade. Tranquilizou-a o Anjo: "não tenhas
receio, Maria" (Lc 1,30). Essa pureza que tão zelosamente guardas, ela
própria é que fará descer ao teu seio este Deus que só quer nascer de uma
Virgem.
Em verdade,
só depois de ter entendido bem é que Maria consentiu. O que compreendeu ela,
senão que, ao se tornar Mãe de Deus, não poderia jamais ter receio de perder a
sua pureza?!
Ó preciosa
virtude! Em que alto preço por nós deves ser tida! Foste tu, santa pureza, que
nos deste ao mundo o Redentor! Tu mereceste da mais pura e perfeita criatura a
preferência na escolha entre ti e a própria maternidade divina! Foste tu que
mereceste o favor de Jesus para o "discípulo bem-amado"!
Felizes as
almas que neste mundo enfeitastes! Elas terão na eternidade a singular
recompensa de acompanharem o Cordeiro (Ap 14,4). Grandes privilégios teve o
príncipe dos Apóstolos. Mas só ao discípulo que era virgem permitia Jesus que descansasse
a cabeça em seu seio na noite em que instituiu o sacramento do amor. Deu Jesus
a Pedro o bastão de pastor da sua igreja, mas deu a João a própria mãe de Deus.
Graças à
pureza, representamos na terra a vida dos bem-aventurados no céu! Pela prática
desta virtude adquirimos um mérito que os próprios Anjos não têm. São as almas
mais castas as que mais diretamente participam da união que o Verbo humanado se
dignou contrair com os homens.
Quem quer
que julgue bem perdoável o vício contrário a esta virtude, sob argumentos da natural
fraqueza, não deve ter em descaso o fato de que ter poucos vícios implica que
Deus tenha menos perdoado e mais severamente punido.
Esse vício
afasta o espírito de Deus, o qual não habita, diz a Escritura, no homem carnal
(Gn 6,3). Esse vício faz o homem cair em uma espécie de cegueira. Foi necessário
um David-profeta para que o mesmo David-adúltero compreendesse toda a extensão
de seu crime e pensasse em fazer a justa penitência.
Esse vício
petrifica. Salomão, que foi prodígio de sabedoria durante tantos anos, tornou-se
idólatra nos seus últimos dias, porque se tornara obsceno.
"Nossos
corpos são o templo do Espírito Santo" (1Cor 6,19). A impureza num cristão
é bem "a abominação no lugar santo" (Mt 24,15).
Ó Jesus,
esposo das virgens, vós que escolhestes uma virgem para ser a vossa Mãe, inspirai-me
terno amor à pureza e o máximo horror ao vício que se lhe opõe.
Mas a
virtude da pureza ultrapassa as forças naturais. "Não posso viver na
continência sem uma graça particular" (Sb 8,21). Esta graça, Senhor, eu
vo-la imploro, por aquela pureza que fez Maria tão agradável aos vossos olhos e
à qual deveu a honra de vos ter por Filho!
Eu vo-la
imploro pelo amor que vos têm consagrado tantas virgens, às quais neste mundo
só conseguiram fascinar os encantos do divino Esposo. Fazei que seja o
maior dos meus prazeres,
ó meu Jesus, vencer os prazeres que a vossa lei condena.
Despertai
em mim o temor das labaredas eternas, preparadas que foram para os obscenos.
Extingui dentro de mim o gosto dos prazeres sensuais e dai-me em troca o das
celestiais delícias! Livrai-me dessas tentações importunas que me acompanham
até nos exercícios da piedade cristã. Ou, se as permitirdes, Senhor, fazei que,
em fielmente as combatendo, eu aproveite as ocasiões assim para vos dar ainda
maiores provas do meu amor!
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