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Vida de São Paulo da Cruz - Sua Festa - Dia 19 de Outubro







NASCIMENTO DE PAULO
A bela e fecunda Itália, berço de tantos santos, foi a pátria de são Paulo da Cruz.Nasceu em Ovada, república de Gênova, aos 3 de janeiro de 1694. O pai, Lucas Dánei, natural de Castellazzo, diocese de Alexandria, era de família tradicionalmente ilustre, mas decaída do antigo esplendor. A mãe, Ana Maria Massari, descendia igualmente de nobre linhagem. Sua terra natal foi Rivarolo, na república de Gênova, mas desde a infância vivia com a família em Ovada. Aqui também se estabelecera Lucas, ainda jovem, em casa de um tio sacerdote, pe. João André Dánei. Realizou-se o enlace matrimonial do virtuoso par a 6 de janeiro de1692.
 Modelo perfeito de união conjugal, mais cobiçosos dos bens imorredouros do Céu que das efêmeras riquezas da terra, buscavam em honrado comércio o necessário para o sustento da numerosa prole.
 Homem virtuoso e pio, Lucas encontrava suas delicias na prece, na leitura de livros edificantes, nomeadamente nas biografias dos santos.
 Oh! se todos os pais lhe seguissem o exemplo! Nessas fontes hauria virtudes tão sólidas, que por Deus houvera sacrificado, os mais caros interesses, as mais puras afeições, a própria vida, enfim. Apesar dos compromissos de esposo e pai, aspirava ao martírio.
 Para com o próximo era justo, bom e indulgente; no leito de morte coroa sua vida com um ato da caridade mais heróica. Igual fisionomia espiritual, realçada com os suaves atrativos de esposa e mãe, se nos depara na incomparável figura de Ana Maria. Humilde, recatada e piedosa, vivia para o lar e para a igreja, repartindo seu tempo entre Deus e a família. Dedicava-se às lides domésticas e à educação dos filhos como a dever sagrado.
 De paciência inalterável, reprimia qualquer sentimento de revolta e, ao invés de irromper em palavras de censura, seus lábios tão meigos só sabiam proferir esta expressão de bênção:“ Que Deus vos torne santos! ”
 Doçura tão constante granjeou-lhe o afeto de quantos dela se acercavam. Foi a mulher forte, de que falam as Letras Sagradas. Ao falecer-lhe o esposo, em agosto de 1727, suportou sozinha e sem queixa, apesar das contínuas enfermidades, o peso da numerosa família.
 Modelo de perfeição, entregou a alma ao Criador em idade avançada, indo receber o prêmio de suas virtudes, em setembro de 1746. Estas as plantas eleitas donde desabrochou flor tão pura, cujo aroma de santidade vamos aspirar.
 Dezesseis filhos, preciosas dádivas do Céu, vieram alegrar os corações daqueles santos pais. E’ de ordinário entre famílias numerosas que Deus sói escolher os privilegiados de sua graça. Paulo foi o primogênito, se não levarmos em conta uma irmãzinha que o precedeu mas viveu apenas três dias. Neste amado filho pressentiam os pais desígnios extraordinários.
 Todo o tempo que o trouxe em suas entranhas, jamais sentiu a mãe os sofrimentos que soem preceder a maternidade. Seu nascimento foi assinalado de circunstâncias extraordinárias. Sendo noite, luz maravilhosa inundou o quarto com resplendor tão vivo, que as lâmpadas pareciam apagadas. Paulo será a luz radiante que há de espancar as trevas em que jaz o século XVIII.
 Veio ao mundo no dia da oitava da festa de são João Evangelista; como este, há de permanecer em espirito ao pé da Cruz. Foi batizado no dia da Epifania, que quer dizer MANIFESTAÇÃO DE JESUS. E ele manifestará ao mundo, pela pregação, os mistérios do Redentor. Recebeu o nome de Paulo Francisco. Como o Apóstolo das gentes, será o missionário de Jesus Crucificado e, a exemplo do seráfico patriarca, fundará uma Congregação alicerçada na mais rigorosa pobreza.
 Mulher prudente e cristã, quis Ana Maria alimentar com o próprio leite o filho pequenino, e este, com o leite, recebeu a piedade materna. Bem cedo deu claríssimas provas do que viria a ser um dia. Como se já possuíra o uso da razão, alimentava-se apenas de quatro em quatro horas, indicio da grande abstinência que guardaria mais tarde.
 SUA INFÂNCIA
(…)Ana Maria, penetrando a extensão da imensa responsabilidade, pôs todas as suas virtudes a serviço desse altíssimo dever: elevação de inteligência, delicadeza de sentimento; bondade e energia, unção e piedade, mas, sobretudo, grande fé em Deus. Com que solicitude zelou pelo tesouro que o Pai celeste lhe confiara!
 Com que cuidado não lhe depositou no coração pequenino a semente de todas as virtudes! Tinha-o sempre ante os olhos se esmerava por afastar dele tudo o que pudesse empanar-lhe a candura. E Paulo levará ao túmulo a inocência batismal!
 Ensinava-o a conhecer, amar e servir o Pai celeste, narrando-lhe a vida dos santos anacoretas. E como estava Intimamente unida a Deus, sabia dar às palavras tais acentos e tal expressão, que o menino a ouvia com o maior interesse. Foi assim que nasceu nele esse amor à solidão, que se tornou a característica de sua vida.
 Falava-lhe da Paixão e Morte de Nosso Senhor, e nos olhos puros do pequeno borbulhavam lágrimas. Se, ao penteá-lo, Paulo se punha a chorar, como fazem geralmente as crianças, narrava-lhe algum fato da vida dos santos, e era de ver o pequeno passar do pranto à mais viva atenção, ainda conservando nos olhos as últimas lágrimas. Colocava-lhe outras vezes nas mãos o crucifixo, dizendo:
“ Vê, meu filho, quanto Jesus sofreu por nosso amor! ”

E ele, fitando a devota imagem, como por encanto deixava de chorar. A santa mãe consagrara-o à Rainha das Virgens. Dizia lhe também repetidas vezes da obediência e docilidade do Menino Jesus e da ternura de Maria Santíssima, o que lhe despertava singularíssima devoção para com Eles.
 E Paulo, de joelhos, mãozinhas postas ante suas imagens, comprazia-se em dirigir-lhes breves orações. Essa esmerada educação materna foi corroborada pelos exemplos do virtuoso pai. A lembrança de mãe tão santa permanecerá indelével na alma agradecida de Paulo Francisco, até o final de sua longa existência. Dela discorria freqüentemente em público, comovido, propondo-a como exemplo.
 Mais tarde dirá: “Se me salvar, como espero, devo-o a educação que recebi de minha mãe ” . Felizes os pais que assim educam para Deus os seus filhos! Crescendo Paulo em idade crescia outrossim na virtude. Desenvolvia-se-lhe natural tendência à solidão, à prece e à penitência, enquanto começava a revelar caráter brando e afável, talhado para a conquista dos corações. Fugia dos divertimentos infantis e, com seu irmãozinho João Batista que, como veremos lhe foi companheiro fiel nos labores apostólicos entretinha-se em construir altarezinhos adornando-os com flores e imagens do Menino Jesus e da ss. Virgem. Ali passava horas e horas recitar o terço, devoção que conservou até a morte.
 Certa vez, enquanto oferecia esta prova de amor à Rainha do Céu, apareceu-lhe uma criança de encantadora formosura Era Jesus, que se dignava recompensar assim a ternura que Paulo lhe votava. Maria Santíssima também lhe patenteou de modo extraordinário, bem como a João Batista, sua materna proteção. Enquanto colhiam flores às margens do rio para ornamentar o altar da Virgem, ambos escorregaram e caíram no Olha. As águas eram profundam, rápida a corrente. Paulo e João Batista estavam prestes a perecer… quando de improviso vêm uma senhora de sobre-humana formosura e majestade que, caminhando sobre as águas, lhes estende a mão e os livra da morte. Graça tão assinalada inflamou mais e mais o coração de Paulo no amor e no reconhecimento para com a sua libertadora e para com aquele deifico Menino, cuja beleza o encantara.
 DEVOÇÃO À SAGRADA PAIXÃO
Em idade tão tenra comunicou-lhe Deus grandes luzes, o dom das lágrimas e da oração. Embora desconhecesse o método de meditar, guiado pelo espírito de Deus, fazia freqüentes e longas reflexões sobre a Paixão de Nosso Senhor, em que tanto o exercitara a piedosa mãe. Ana Maria, talvez sem o saber, preparava o caminho para os desígnios de Deus em relação a Paulo, ao inspirar-lhe tal devoção. Este tinha sempre ante os olhos a imagem de Jesus Crucificado, considerando os cruéis padecimentos do Redentor, enquanto as lágrimas lhe corriam abundantes. Jesus em pessoa o ia preparando suavemente para missão providencial. Fazia com que seus padecimentos fossem atrativo irresistível para o coração de Paulo, começando, desde então, a recreá-lo com freqüentes visões sobre sua vida, suas dores e sua morte. Apareceu-lhe certa vez com a cabeça coroada de espinhos, o rosto ensanguentado, as carnes maceradas!… Tão forte foi a impressão causada no bem-aventurado menino, que, ao recordá-lo, experimentava extrema tristeza. Não é, portanto, para estranhar que começasse desde os mais verdes anos a amar os sofrimentos. Mortificava o gosto e martirizava o delicado corpo. De noite deixava a cama e deitava-se sobre uma tábua, para assemelhar-se ao Salvador, que na agonia teve por leito o madeiro da Cruz. Mui de freqüente, no silêncio da noite e sempre de joelhos, meditava os cruéis padecimentos de Jesus. Às sextas-feiras, principalmente, entregava-se a muitos rigores, absorto nos tormentos do Homem-Deus. Assentava-se à mesa, triste, pálido e com lágrimas nos olhos. Conseguia-se a custo induzi-lo a comer um pedaço de pão, que banhava com suas lágrimas.
 João Batista aprendera de Paulo a amar as austeridades e oração. Ve-los-emos sempre juntos na prática das mortificações mais rigorosas. A Paixão de Nosso Senhor era o pensamento quase continuo do nosso santo. Reunia muitas vezes os irmãozinhos e lhes falava da Paixão, com vigor e unção verdadeiramente singulares em tão tenra idade. Seus jovens ouvintes comoviam-se ao vê-lo chorar, chorando com ele. Assim, pela penitência e pela prece, aparelhava em seu coração um santuário ao Deus da Eucaristia, que em breve iria receber pela primeira vez, A mãe não se descuidava de enviá-lo ao catecismo paroquial, impondo-se o dever de repetir ao filho aquelas verdades da fé. Não se tem cabal certeza da época em que Paulo recebeu pela primeira vez a sagrada Comunhão. E’ de crer, no entanto, que logo após ato tão solene, fosse enviado pelos pais a Cremolino para terminar os estudos, pois é certo que então se achegava amiúde à sagrada mesa, com fervor angélico. Embora nos faltem documentos, é fácil conjecturar ter Deus favorecido com graças assinaladas esta alma de escol em dia tão memorável, crescendo Paulo, desde então, de virtude em virtude, jamais cessando de marchar com passos agigantados pelo caminho da santidade. A Comunhão será sua felicidade e sua fôrça. Ela irá preservar este lírio de toda e qualquer mancha. O Tabernáculo será a torre inexpugnável onde Paulo resguardará a virtude.
 SEUS PRIMEIROS ESTUDOS
Tinha o nosso santo cerca de dez anos. Lucas, notando no filho inteligência lúcida e memória feliz, resolveu confiar-lhe a educação a mestre virtuoso. Incumbiu, pois, de tão delicada missão a um seu amigo, religioso carmelita de Cremolino. A docilidade do discípulo, sua inteligência, a aplicação ao estudo e à piedade, conquistaram-lhe a simpatia do mestre. Esmerou-se este na instrução e educação do aluno, levado por suas qualidades e pela amizade que o unia a Lucas Dánei. Paulo Francisco correspondeu às solicitudes do mestre e às esperanças do pai, sobrepujando os progressos nos estudos o que se podia esperar de sua idade. “ Não há dúvida, diz são Vicente Maria Strambi, que os dotes naturais foram causa desses progressos, mas a causa principal temo-Ia na aplicação ao estudo unida à serenidade de espírito e à tranquilidade do coração, isento de paixões, perturbadoras da inteligência.
 Aplicando-se Paulo mais tarde a estudos profundos e assíduos, aprendeu a raciocinar com solidez, a expressar-se com elegância, insinuação e eloquência. Sua palavra era grave, florida e comovente, o que muito agradava e comovia a
seus ouvintes no decurso das pregações ” . O estudo, que soube converter em oração, não lhe alterou a piedade, de maneira que os progressos na ciência dos santos não foram menos notáveis.
 Multiplicava os exercícios de piedade. Jamais deixou a meditação; diariamente assistia à santa Missa e o mais possível se alimentava do pão dos Anjos. O tempo que lhe deixavam o estudo e as aulas, empregava-o em piedosas leituras e visitas ao ss. Sacramento e à ss. Virgem. O trabalho e a oração foram como que o aroma a lhe preservar a alma da menor culpa. A modéstia, o candor e a piedade prognosticavam viria a ser um grande servo de Deus. Terminou seus estudos literários aos dezesseis ou dezessete anos.
SUA JUVENTUDE
Pelos fins de 1709, de Ovada se transferia a família Dánei para as proximidades de Gênova (Campo Ligúrio). Não diminuís aqui o santo jovem seu fervor nem suas práticas de piedade. Embora ao aconchego da família, vivia no meio do mundo, em idade em que a imaginação é vivida, fáceis as impressões e o coração afetuoso. Iluminado pela graça, compreendeu que o lírio da inocência somente se conserva entre os espinhos da mortificação e sob o orvalho do Céu. Austeridade, oração, modéstia angélica, desprezo do mundo, estudo constante e trabalho assíduo… eis o baluarte que lhe defendeu a virtude. Tal foi sua vida dos 15 aos 20 anos. Talvez seja para estranhar que Paulo, todo fervor e piedade, ainda não manifestasse vocação religiosa ou sacerdotal. E’ que ele tinha altíssimo conceito do sacerdócio, não ousando aspirar a tão sublime dignidade. Mais tarde aceita-la-á, mas tão somente por obediência. O que desejava era ocultar-se num deserto, lugar inacessível, e lá viver como os antigos anacoreta. Ter-se-ia, sem dúvida, afastado do convívio do mundo, não fôr a resistência do diretor espiritual, que o reputava arrimo necessário aos pais.
 Paulo jamais se deixou levar por fervores juvenis, mas, guia do por raro discernimento, lançou-se sem reserva às mãos do pai espiritual, cuja voz para ele era a mesma voz de Deus. Esperava, pois, em silêncio, a hora da Providência. Chegamos a um dos momentos mais solenes da vida espiritual do nosso santo. Quando Deus tem altos desígnios sobre um alma, começa por purificá-la, humilhando-a. Não outorga missões extraordinárias senão à pureza perfeita e à profunda humildade. E’ assim que vai preparar em Paulo seu vaso de eleição, adornando-o com os mais preciosos dons para torná-lo admirável instrumento de suas misericórdias. Vejamos em que circunstâncias lhe concedeu essa graça, que chamaremos de PREPARATÓRIA aos seus adoráveis desígnios.
 UMA GRAÇA EXTRAORDINÁRIA
Teria Paulo seus vinte anos. Assistia a uma instrução familiar de sul pároco, quando brilhante e improvisa luz lhe iluminou o mais recôndito da alma e lhe patenteou sua miséria e seu nada. Apesar de tão exemplar e virtuoso, julgou-se grande pecador. Tão vivo foi o sentimento de seu mísero estado, que lhe arrancou torrentes de lágrimas. “ Quando Deus, diremos com piedoso autor, por um raio de sua luz, faz conhecer à alma a pureza que dela exige, dá-lhe outrossim maior conhecimento dos próprios defeitos, obrigando a examiná-los com severidade e investigar as mais recônditas inclinações, assim viciosas como naturais. Prouvera a Deus que os pecadores chorassem seus maiores crimes com tanto pesar como esta alma chorou, então, suas mais leves faltas ” .
Deste insigne dom resulta o profundo desprezo de si mesmo, coar absoluto desapego de toda criatura e grande zelo pela glória de Deus da salvação do mundo. Exige este toque divino constante fidelidade e à voz do Céu. Com efeito, assim como a alma fiel pode elevar-se ao mais alto, pode a infiel descer ao mais profundo. Deparando um coração dócil, produziu esta graça os melhores frutos em Paulo Francisco. Colocado nessa região de luz, resolveu o santo jovem dar-se inteiramente a Deus. Percebeu insólita transformação interior, por ele chamada, em sua humildade, CONVERSÃO, e que nada arais era senão aumento de virtude.
 Muitos santos foram provados nesse crisol, quando o Senhor se comprazia em confiar-lhes alguma missão extraordinária. Afigurou-se, pois, a Paulo nada ter feito até então pela glória de Deus. Em sua alma apenas via pecados. Desejando purificar a vida passada por uma confissão geral, foi lançar-se aos pés do ministro de Deus, acusando-se das mais leves faltas como se foram enormes pecados. Sentiu compunção tão veemente, que o fez derramar amargas lágrimas e ferir desapiedadamente o peito com uma pedra, à imitação de são Jerônimo, na gruta de Belém.
 PROVAÇÕES ESPIRITUAIS
Quando Deus nos concede alguma graça particular, faz-se mister preparar-nos contra os ataques do inimigo da salvação Enquanto Paulo se inebriava no divino amor, desencadeou o demônio contra ele a mais terrível das tentações Dúvidas a respeito da fé acometeram-lhe o espirito, apossando-se dele a perturbação, a angústia e a perplexidade. Houvera, por ventura, ofendido a Deus, seu soberano Bem? Não combatera devidamente os pensamentos, que lhe moviam tão violenta guerra? Não sabendo como tranquilizar-se, corria à igreja e derramava a sua mágoa aos pés do divino Mestre, apoiando a cabeça fatigada na mesa da comunhão..
Ignoramos quanto durasse a provação; certo é, porém, que no dia de Pentecostes, quando implorava o socorro do Senhor, sentiu elevar-se a alta contemplação e o Espírito Santo esclareceu-lhe a inteligência com abundantes luzes, com que se lhe dissiparam para sempre todas as dúvidas.
 ENTRE OS CRUZADOS
Esta divina claridade acendeu-lhe também no coração labaredas de amor a Jesus Crucificado, com ardentes desejos de sacrificar-se pela sua glória. Por vezes dá Deus às almas sêde ardente de imolação, sem manifestar-lhes o gênero de sacrifício que lhes pede. Ao seráfico patriarca são Francisco, refere são Boaventura, mostrou-se-lhe em visão magnifico palácio repleto de resplandecentes armas marcadas com o emblema da Cruz.
“ Para quem são estas armas e este palácio tão encantador? ” ,perguntou o santo.“ São para ti e teus soldados ” ,respondeu-lhe uma voz.
E ele, julgando-se chamado a combater sob a bandeira dos reis da terra, já se dispunha a partir, quando a mesma voz lhe fêz compreender que aquilo significava os combates espirituais a serem travados sob o estandarte do Rei dos Céus.
 Desejoso de atirar-se às batalhas do Senhor, entregou-se Paulo a largas reflexões.
 Por aquele tempo a república de Veneza fazia grandes preparativos de guerra contra o império muçulmano, prestes a lançar formidável exército contra a Europa. Ronca acabava de elevar a voz, voz poderosa que tem sempre comovido e salvado a Europa da barbárie otomana. Clemente XI convidara, em duas Bulas, os príncipes cristãos para uma aliança contra esses inimigos da civilização e da Cruz. O Santo Pontífice, atemorizado pelo perigo que corria a cristandade, não se contentou em equipar os navios de seus Estados, mas apelou para todos os fiéis a fim de aplacarem a cólera divina com penitências e jejuns, e ordenou preces públicas para implorar o auxílio do alto. “ Eis, exclama Paulo de si para consigo, eis as batalhas a que Deus me chama ” . Combater por Jesus! Ser mártir da fé! Derramar o sangue por tão nobre causa!… Tais pensamentos lhe acenderam o entusiasmo no coração e, sem pôr tempo em meio, alistou-se como voluntário em Crema, na Lombardia. Ei-lo soldado, exercitando-se no manejo das armas, disposto a pelejar contra o inveterado inimigo da fé. Em o novo gênero de vida, não olvidava o seu Deus, frequentando, como em Castellazzo, a oração e os sacramentos. Prestes a embarcar em Veneza rumo ao Oriente, foi adorar o ss. Sacramento, solenemente exposto. Enquanto orava, fê-lo o Senhor compreender claramente que o chalrava para mais alta e santa milícia: a dos apóstolos do Evangelho. Deus falara e Paulo já não vacila. Solicita e obtém a devida baixa, retornando à cidade natal.
 De regresso, hospeda-se em Novello, em casa de uma família que se compunha unicamente do marido e da esposa. Estes, de idade avançada e sem prole, uniam à imensa fortuna sólida piedade. Descortinando no jovem peregrino, de maneiras afáveis e nobres, tesouros de virtudes ocultas sob o véu da modéstia, resolveram adotá-lo por filho e legar-lhe o rico patrimônio. Manifestaram a Paulo o propósito, mas este cortesmente o recusou, pois desejava consagrar a Deus o coração completamente desprendido de tudo e de todos.
CRESCENDO SEMPRE EM FERVOR
Transferindo-se com a família para Castellazzo, o soldado de Cristo recomeçou todos seus exercícios de piedade, esperando que a Vontade de Deus lhe manifestasse qual a sua vocação. Desde esse instante se entregou de vez à contemplação dos tormentos do Redentor, envidando todos os esforços por identificar-se com este divino modelo, mediante a mais rigorosa mortificação.
 Raras vezes dormia no leito. Teresa, sua irmã, notou-o e, desejando esclarecimentos, dirigiu-lhe algumas perguntas a respeito. Paulo, que desejava somente a Deus por testemunha, nada respondeu. No entanto, a irmã, que o vira subir muitas vezes ao sótão com João Batista, suspeitou lá passassem a noite. E, ambos ausentes, lá deparou com umas tábuas e sobre elas alguns tijolos e um crucifixo. Foi o que declarou com juramento no processo de beatificação.
 Outra testemunha também asseverou que Paulo dormia muito pouco e sobre tábuas nuas, com tijolos por travesseiros, meditando em tal maneira, sem interrupção, os cruéis tormentos de Jesus Crucificado. Após breve e torturante descanso, levantavam-se ambos, até ao mais rigoroso inverno, para entregar-se à contemplação do Sumo Bem. A meditação inflama o amor e com o amor nasce o desejo de assemelhar-se ao objeto amado. Com a Cruz em uma das mãos e na outra o instrumento de penitência, Paulo oferecia a Deus seu corpo, como hóstia viva, ao gravar nas carnes as chagas de Jesus. Certa vez a mãe teve ocasião de ouvir, em meio das trevas da noite, o ruído espantoso e lúgubre do instrumento de penitência e o narrou depois, soluçando, à filha. Também o pai os surpreendeu um dia, quando se feriam cruelmente com correias de couro, e não pôde deixar de exclamar:“ Vocês querem se matar? ”
Tão grande era o ardor que estimulava o nosso santo na prática da penitência, que João Batista, embora mui fervoroso, teve inúmeras vezes de arrancar-lhe das mãos o açoite. Quase sempre antecipava a hora de levantar e, sem fazer ruído, para não despertar o mano, entretinha-se com Deus em altíssima contemplação. Às sextas-feiras mais rigorosas eram as penitências e mais austero o jejum. Contentava-se de uma fatia de pão, que mendigava de joelhos, banhando-o com abundantes lágrimas. A bebida, diz-nos testemunha ocular, consistia numa mistura de fel e vinagre. A irmã, que já o suspeitara, surpreendeu-o certa vez com o fel nas mãos, perguntando-lhe, aflita:“ Que vais fazer com isto? ”
 O jovem guardou silêncio, lançando o conteúdo em pequeno frasco, que se esmerava em esconder. Quando Paulo deixou o lar paterno, certo dia Teresa, ao varrer a casa, bateu no frasco com a vassoura e o quebrou. “ Coisa admirável ” diz são Vicente Strambi,“ apenas quebrado o vaso, difundiu-se pela habitação estranho perfume, que surpreendeu a todos. A piedosa irmã recolheu os fragmentos, examinou-os com atenção e notou que ainda estavam impregnados do fel que o servo de Deus ai guardara. Levou um fragmento a uma de suas tias, Rosa Maria, irmã corista no convento de Santo Agostinho, que também se, inebriou daquele delicioso perfume, revelando Deus por este prodígio quão agradáveis lhe eram as austeridades de seu servo, em louvor da Paixão ss. De Jesus Cristo! ”
(…)
De volta a Castellazzo, inscreveu-se na Confraria dedicada a santo Antão, cumprindo o regulamento com escrupulosa fidelidade. Eleito presidente, em todas as festas dirigia aos confrades uma fervorosa palestra. Era-lhe a igreja o lugar predileto. Nela passava muitas horas do dia e da noite, modesto e recolhido, aos pés do Tabernáculo. Assistia quotidianamente ao santo sacrifício da missa; comungava ao menos três vezes por semana; recitava no côro, com os sacerdotes, o divino ofício, ou lá permanecia em oração. Tão freqüentes e prolongadas eram as visitas à igreja, que era voz corrente: “ Se desejardes encontrar o jovem Paulo, procurai-o na igreja ” .
 Para ele a noite mais deliciosa do ano era a de quinta-feira santa. Costumava passá-la diante do santo Sepulcro, aos pés do Deus do Calvário, acompanhando-o, com lágrimas e suspiros, nos diversos passos da Paixão. Oh! noite ditosa a que se passa junto ao Sepulcro do Salvador! Noite de trevas e de luzes, de dor e de alvor! Quantas graças não verte ali o doce Jesus nas almas que sofrem e velam com Ele! Assistindo certa vez ao Ofício de Trevas, ao ouvir as palavras: “ Cristo se fêz por nós obediente até a morte ” , sentiu-se penetrado do vivo desejo de imitar a Jesus Crucificado. Emitiu o voto de obediência, tomando por lema estas palavras de são Pedro: “ Sêde, pois, submissos a todos os homens por amor de Deus (1 Petr. 11, 13) ” .
 E, desde então, obedecia não somente aos superiores, mas até aos irmãos e a todos os que o mandavam, de modo a tornar-se, por amor de Deus, o mais submisso e dócil dos homens. Na igreja sua modéstia inspirava devoção. Permanecia muitas horas de joelhos em terra, sem apoiar-se, com as mãos cruzadas sobre o peito, transpirando viva fé e profunda humildade.
 Atraiu assim a atenção da condessa Canefri, que todos os anos de Alexandria vinha veranear em Castellazzo. Comovida por exemplo tão edificante, interrogou ao sacristão quem era aquele jovem. De volta ao palácio, comunicou ao marido a agradável impressão que recebera. “ Sem dúvida, exclamou, aquele jovem está por tomar graves resoluções. Grandes coisas se hão de ouvir a seu respeito ” .
 Aos pés do altar, Paulo se absorvia em Deus, parecendo privado de toda sensibilidade física. Certa feita, enquanto adorava o ss. Sacramento, exposto na igreja dos Capuchinhos, caiu-lhe sobre o pé um banco bastante pesado. Colho se nada acontecera, continuou imóvel. Seu companheiro, que nos relata o fato, diz são Vicente Strambi, ao ver escorrer o sangue, advertiu-o. Mas o santo, como se nada ouvisse, continuou na mesma atitude. Terminada a função, quis outro obrigá-lo a entrar no convento para medicar-lhe a ferida, ao que se recusou, dizendo:
 “ Isto são rosas em comparação do que sofreu Jesus e do que merecem os meus pecados ” .
(…)
 SEU CONFESSOR
Persuadido de que a obediência é o meio mais eficaz para o cumprimento dos divinos desígnios, desde o momento em que fizera a confissão geral entregara-se sem reserva à direção de seu pároco. O sacerdote, admirado dos singulares caminhos percorridos pelo penitente e desejando discernir o princípio que lhe animava o agir, submeteu-o a duras provações. Humilhava-o e o mortificava. Quando se apresentava na sacristia para se confessar, dizia-lhe o severo confessor que o atenderia na igreja; fazia-o esperar largo tempo, despachando-o sempre por último. Dizia-lhe, então, com aspereza: “ Vamos, depressa! ”
 E, quando o humilde penitente acusava alguma dessas imperfeições inevitáveis, de que só os santos se acusam, repreendia-o como dos maiores crimes.
 E’ para lamentar como esse diretor ultrapassasse por vezes os limites da prudência. Chegou a despedi-lo da mesa eucarística, negando-lhe a Comunhão, como a pecador público, quando era maior o concurso de povo. Diais que humilhação, era isso profunda ferida para o amor de Paulo. Nada obstante, resignava-se em silêncio, imolando ao Deus do Calvário seu ardente desejo de se unir misticamente a Ele. De outra feita, enquanto orava no côro da igreja, sentiu-se arrebatado pelo divino amor, entre delícias e lágrimas. A fim de ocultar esses dons, cobriu o rosto com a capa. O implacável diretor correu para ele e, arrancando-lha com desdém, admoestou-o severamente:
 “ E’ assim que se há de estar diante do SS. Sacramento? ”
E Paulo, de caráter vivo e sensível, sorvia, por amor de Jesus
Crucificado, o amargo cálice dessas ignomínias.
Dizia-lhe a natureza ou o demônio:
“ Abandona esse confessor e procura outro ” .
Ao que respondia o heróico jovem:
“ Não, o demônio não há de levar a melhor; continuarei, custe o que custar. Este é o confessor talhado para mim, pois me faz baixar a cabeça ” . Em dia de carnaval, quando muitos se entregam desenfreadamente a divertimentos profanos, dirigia-se o nosso santo à igreja para adorar o ss. Sacramento e reparar os ultrajes feitos à majestade divina. O confessor, que participava de uma festa familiar, quis submetê-lo a novo gênero de prova. Chamou-o e o intimou, com a severidade habitual, a que tomasse parte na dança. Nada mais contrário aos sentimentos do servo de Deus. Que penitência inesperada! Que fazer? Como conciliar o voto de obediência com as repugnâncias por tal divertimento?… Apressou-se Nosso Senhor a. tirá-lo da, angustiosa situação, porquanto, no momento em que se dispunha a obedecer, cessou de improviso a musica… é que todas as cordas dos instrumentos se romperam!… Tocados de pasmo, todos reconheceram nisto o dedo de Deus, e o confessor se convenceu de que Nosso Senhor destinava a grandes coisas o santo jovem.
 PROPOSTA DE CASAMENTO
Todavia, nova provação o esperava. Seus pais, desfavorecidos dos bens de fortuna, tinham que manter numerosa família. Todas as suas esperanças repousavam em Paulo. Um de seus tios, o sacerdote Cristóvão Dánei, desejoso de reintegrar a família no antigo esplendor, resolveu, de acordo com os pais de Paulo, uni-lo em matrimônio com rica e virtuosa donzela.
 O êxito da empresa parecia-lhe assegurado com o propósito de legar ao sobrinho todos os seus bens. Tratava-se, no entanto, de proporcionar-lhes uma entrevista, a fim de que tudo se ajustasse. Paulo, porém, que já se entregara sem reserva a Deus, recusou tão sedutoras ofertas. Às instâncias do tio, respondia cortesmente não julgar fossem esses os desígnios divinos sobre ele. O sacerdote, porém, aferrado sem dúvida à convicção da época, de que os primogênitos são destinados por Deus a perpetuarem a família, replicou-lhe ser seu dever aceitar a proposta em consideração aos pais, a quem o enlace iria tirar do humilde estado em que jaziam. Mas ele permanecia inflexível.
Todos os membros da família juntaram então seus rogos aos do tio. O jovem sempre irredutível! Julgando a modéstia a causa da negativa e abusando da ascendência de tio e sacerdote, Cristóvão o obrigou a acompanhá-lo à casa da moça. O humilde filho da obediência dispôs-se a segui-lo. Eis, porém, reproduzido o belo edificante exemplo de são Francisco de Sales: o angélico jovem nem sequer alçou os olhos para vê-la; pelo que nada se concluiu. E no entanto o tio pretendia triunfar a todo custo. HERANÇA PRECIOSA Cruel perseguição para o espirito de Paulo! Os sentimentos mais opostos agitavam-lhe a alma. De um lado, o propósito de corresponder ao chamamento divino; de outro, o amor aos pais a braços com as mais duras dificuldades… Nessa dolorosa perplexidade implorava o auxilio do Alto. E Deus lhe veio em ajuda de maneira extraordinária. Cai enfermo o tio e falece imprevistamente, deixando-lhe os haveres para garantir o bom êxito de seus planos. Mas o santo herdeiro renunciou generosamente à herança em presença do vigário forâneo.
 Tomou para si apenas o breviário e, dirigindo-se ao crucifixo, os olhos banhados em lágrimas, exclamou:
 “ Ó meu Jesus Crucificado, protesto que de tal herança desejo apenas este livro de oração, porque vós somente me bastais, ó meu Deus! meu único Bem!” .Daqui se infere quanto o servo de Deus amava a pobreza e a pureza de coração, consagrando-lhes igual estima, e às quais o texto sagrado promete a bem-aventurança celeste.Eis as duas asas que o elevaram acima das vulgares realidades do mundo e com as quais desenvolverá crescente apostolado pela glória de Deus e salvação das almas.
 PRIMEIROS ENSAIOS DE APOSTOLADO
Vimo-lo, desde os mais verdes anos, oferecer aos irmãozinhos exemplos de todas as virtudes. Entretinha-os diariamente com pias leituras e se esforçava por infundir-lhes terna e sólida devoção à Paixão de Jesus Cristo.  O zelo, porém, que de todo lhe incendia o coração, reclamava mais espaços onde projetar suas benéficas irradiações. Mal ingressara na Confraria de que já falámos, impuseram-lhe o cargo de presidente. Fora eleito por unanimidade. Ao presidente cumpria dirigir nas reuniões cirna exortação espiritual aos confrades. E Paulo o fazia magistralmente, comunicando às palavras tal calor e graça, tanta doçura e unção, que penetravam os corações. Em breve atraiu para si a população toda, desejosa de ouvi-lo.
 Explicava outrossim aos domingos a doutrina cristã às crianças. Estes primeiros ensaios, de zelo grangearam-lhe total influência. Desta se aproveitou Paulo para formar unia associação de jovens, inspirados pelo mesmo amor -à, solidão e à prece. Com eles ia, de freqüente, espairecer pelos campos, entretido em colóquios familiares, repassados de unção insinuando-lhes o desprezo do mundo e o amor à virtude ficai. Qual alguns como refere o santo, se tornaram exímios. Ensinava-lhes o modo de meditar a Paixão Jesus Cristo, patenteando-lhes assim a vereda segura e rápida que conduz à perfeição. Dentre eles, oito abraçaram o Instituto dos Servos de Maria, oito ingressaram na Ordem de Santo Agostinho e quatro vestiram o hábito ele São Francisco.
 Tinha para com os pobres e enfermos grande solicitude e cuidados maternos. A fim de proporcionar-lhes assistência pronta e regular, fundou um sodalício, alistando seus companheiros nessa milícia de caridade, cujo zelo avivava com a palavra e o exemplo. Distribuía esmolas aos pobrezinhos, de joelhos, em atitude de profunda veneração. Quando enfermos, assistia-os continuamente, prodigalizando-lhes todos os cuidados corporais e espirituais.
 Sua caridade os seguia além do túmulo, sufragando-os com a esmola da oração. Os cadáveres mais infetos, qual outro Tobias, carregava-os aos ombros. Tais exemplos levava seus jovens amigos a imitá-lo. Fixando os olhares naquela sepultura aberta, lia, como em grande livro, a miséria das coisas terrenas. Certa vez, as reflexões sobre a vaidade do mundo causaram tal impressão a um de seus companheiros, que se apressou a ir abraçar a Cruz de Cristo nas austeridades do claustro.
 A VOZ DOS PRODÍGIOS
Paulo empreende novo apostolado: resolve pôr termo aos escândalos de alguns jovens libertinos. Não era fácil a empresa; porém a força do Todo-Poderoso veio-lhe em auxílio. Comunicou-lhe Deus o dom de penetrar as consciências e ler no âmago dos corações. Ao acercar-se dos pecadores, estranho mau cheiro lhe revelava a fealdade de tais almas.
 Dizia-lhes com convicção:
“ Meu amigo, cometeste tal pecado; vai confessar-te ” . O espanto e a vergonha se apoderavam do culpado, que julgava sua falta conhecida apenas de Deus. Paulo, porém, com toda doçura o animava, o dispunha ao sacramento da Penitência e o encaminhava a um bom confessor, para que lavasse no sangue do Cordeiro as máculas da alma. Os que se lhe mostravam dóceis recebiam de Deus abundantes graças; os que, ao invés, lhe desprezavam as admoestações, eram amiúde castigados exemplarmente. Predizia-lhes, na persuasão de profeta, os espantosos castigos da cólera divina.
 Um jovem, chamado Damião Carpone, era o escândalo da mocidade de Castellazzo. Paulo caridosamente o exortou a mudar de conduta. “ Toma cuidado, meu amigo; se continuares assim, perecerás em breve e de morte trágica ” . O infeliz desprezou o aviso. Meses após, nos campos banhados pelo
Bórmida, encontraram-lhe o cadáver transpassado por várias punhaladas. Fora assassinado em uma de suas excursões noturnas. Amargurado pela má conduta do filho, certo progenitor suplicou a Paulo o induzisse a mudar de vida. O nosso santo falou ao jovem com muita caridade, exortando-o a pedir perdão ao pai. “ Pedir perdão a meu pai? Jamais o farei ” , respondeu o desalmado.
“ Recusas pedir perdão? Pois bem, em breve morrerás ”
 Passados alguns dias, embora gozasse ótima saúde, foi o desventurado ferido de morte repentina. Após esses castigos subiu de prestigio no conceito de todos a santidade de Paulo Francisco. Formou-se em torno desse misto de temor e de afeição que confere tanto poder aos homens de Deus. E Castellazzo se transformou. Já não se viam os abusos até então inutilmente verberados pelos ministros do Evangelho.
Um dia relataram a Paulo que duas senhoras francesas se encontravam sem asilo e sem pão. Duplamente infelizes essas estrangeiras, pois, além de indigentes, eram hereges Tanto bastou para excitar-lhe o zelo e a caridade. Pediu aos pais lhes dessem hospedagem por amor a Cristo. Convertê-las, fazendo-as ingressar no redil da verdadeira Igreja, eis a principal aspiração ele Paulo Conseguiu em parte o seu intento, pois uma delas abjurou o protestantismo e foi por ele colocada no convento ele Santa Maria, de Alexandria.
 Eram as primícias do apostolado do nosso santo, que contava apenas vinte e cinco anos de idade. E que de virtudes e boas obras já praticara! Esses primeiros anos, primavera espiritual, de tão doces recordações, jamais se lhe apagarão da memória. Que conceito tão elevado já poderíamos formar de Paulo e da sua juventude, se ele mesmo, em sua velhice, chegado já ao cume da perfeição e da Cruz, terá dela saudades?.
DEUS PREPARA O FUNDADOR DOS PASSIONISTAS
Estamos em 1718 e Deus começa a revelar a Paulo a idéia da fundação de um Instituto religioso… A principio vagamente; ao depois, com segurança e clareza: … Assim, da noite escura não se passa à luz meridiana, sem que precedam o alvorecer e a aurora, preparando a vista para o resplendor do dia.
 Ó maravilhoso agir da Providência! Por essa inclinação ao bem pronunciada, como provem de Deus, o diretor perito na ação misericordiosa da graça pode descobrir as vocações do Céu. Eis por que no trabalho ainda secreto das vocações necessita a alma de firme direção. Caso contrário, fácil seria afastá-la do verdadeiro caminho, desconhecendo quem a dirige os desígnios de Deus sobre ela. Paulo comunicava a frei Colombano as primeiras luzes a respeito da futura Congregação. Por vezes, era um grande desejo de retirar-se ao ermo, ou a inspiração de reunir companheiros, bem como de andar descalço e revestir-se de pobre túnica.
 O diretor ouvia tudo e tudo examinava com máxima atenção e, doutíssimo como era, concluiu enfim serem luzes supernas. Ouçamos, porém, o nosso santo a respeito do modo como Deus o guiava. Esta página inspirada, escrita por ordem do confessor e em que se revelam as comunicações do Céu, respira verdadeiro encanto. “ Eu, Paulo Francisco, pobre e indigno pecador, o último dos servos de Jesus Cristo, cerca de dois anos depois que a infinita bondade de Deus me chamou à penitência, ao passar certa vez pelas praias de Gênova,deparei pequena igreja solitária sobre um monte, a cavaleiro de Sestri, dedicada à S S. Virgem do Gazzo. Ao contemplá-la, experimentei fortíssimo desejo de viver naquela solidão; porém, obrigado por dever de caridade a assistir a meus pais, não pude levá-lo a efeito e guardei-o no coração. Tempos depois, não me lembro o mês nem o dia, senti novo impulso, muito mais forte, de retirar-me à solidão. Essas inspirações Deus mas dava com grande suavidade interior. ” “ Ocorreu-me ao mesmo tempo a idéia de vestir-me de túnica preta da lã mais ordinária, de andar descalço e de viver na mais rigorosa pobreza. Numa palavra, aspirava viver, cone a graça de Deus, vida penitente. Esse pensamento jamais me abandonou. Um atrativo sempre mais forte chamava-me ao ermo, não unicamente à igreja de que falei, mas á qualquer solidão. ”
 “ Tinha somente em vista seguir os amorosos convites de meu Deus, cuja infinita bondade me impelia a abandonar o mundo. Como não pudesse dar cumprimento a esse desejo, por ser eu indispensável à família, isto é, a meu pai, à minha mãe e a meus irmãos, mantinha sempre secreta a minha vocação, abrindo-me tão somente com o padre espiritual. ” “ Ignorava os desígnios de Deus sobre mim, pelo que não pensava senão em desprender-me dos afazeres domésticos para retirar-me mais tarde à solidão. ”
 “ Contudo, o soberano Bem, que em sua infinita misericórdia tinha outros desígnios sobre este miserável verme da terra, não permitiu que me libertasse então de tais encargos. Quando estava prestes a desembaraçar-me, novas dificuldades surgiam, aumentando mais e mais aqueles anseios. Por vezes pensava em reunir companheiros, idéia que se me fixara no íntimo da alma ” .
 Essas primeiras luzes eram apenas o esboço da santa obra a que Deus o destinava. O jovem multiplicava as preces e as mortificações, rogando a N. Senhor sinais mais claros de sua divina Vontade. Em breve tornar-se-ão essas luzes mais freqüentes e mais inequívocas. De quando em quando fazia-lhe Deus compreender, por locuções internas, que o destinava a uma obra importantíssima, difícil e repleta de sofrimentos.
 Outras vezes, atraindo-a a si com suave arrebatamento, dizia-lhe: “ Far-te-ei ver em breve quanto deves padecer pelo meu nome ” . Um dia, enquanto rezava diante do ss. Sacramento, segredou-lhe o Senhor: “ Meu filho, quem de mim se aproxima, aproxima-se dos espinhos ” . Ouçamos a Paulo: “ Enquanto orava, vi nas mãos de Deus um açoite formado de cordas, como uma disciplina. Nele estava escrita a palavra: AMOR No mesmo tempo dava N. Senhor à minha alma altíssimo conhecimento de que iria açoitá-la, mas por amor, e a alma se lançava alegremente para o açoite, a fim de abraçá-lo e beijá-lo em espírito. Com efeito, depois que Deus por sua infinita bondade me deu essa visão logo, se seguiram grandes sofrimentos, e eu tinha plena certeza de que vi riam, porque Deus me dera conhecimento infuso disso. ”
 DOENÇA MISTERIOSA
Paulo devia ser Apóstolo e plasmar apóstolos. Fadara chamado para a vida mais espinhosa, para o martírio do apostolado. Duas coisas são necessárias para a sua completa submissão ao sacrifício: o perfeito conhecimento da misericórdia de Deus e de sua infinita justiça. Quanto à misericórdia, já o instruíra Jesus, patenteando-se a ele em sua Paixão; vai fazê-lo sentir agora a justiça. À visão do amor seguiu-se a visão espantosa do inferno. Contemplou por instantes as horríveis penas dos condenados. Estava acamado por contusão em unia das pernas. De súbito, é assaltado de pavorosos estremecimentos. Perde os sentidos e prorrompe em altos brados, misto confuso de palavras de raiva e de desespero. Não é fácil imaginar o espanto dos irmãos João Batista e Teresa, que lhe vieram em socorro, vendo-o tremer dos pés à cabeça, desfigurado, tendo estampada no rosto a sensação de horror, e a exclamar: “ Não! Jamais direi o que vi ” . Roga chamem o pe. Jerônimo, com o qual se entretém largo tempo em secreta conversação. Sua irmã que, levada de repreensível curiosidade, se pusera a auscultar na porta, ouviu-o exclamar: “ Oh! pe. Jerônimo, como é longa a eternidade! ” Mais tarde confiou a alguém que naquela ocasião fora transportado pelos Anjos ao inferno e lá contemplara, apavorado, as, penas eternas dos réprobos.
D. FRANCISCO M. GATTINARA
Até o presente, a vida de Paulo foi feita de sacrifícios, de abnegação, de humildade. O confessor reconheceu enfim, na humildade e constância do penitente, a generosidade de sua alma e dele concebeu tal estima, a ponto de reverenciá-lo como a santo, destinado às honras dos altares. Agora já eram evidentes os sinais de que Deus o escolhera para fundar um novo Instituto. Urgia, pois, se pusesse em relação com a autoridade competente, o snr. bispo diocesano. E’ de crer que este já tivesse noticia do servo de Deus, porquanto a virtude do santo jovem espalhava o bom odor de Jesus Cristo, não somente em Castellazzo, mas por outras localidades, inclusive Alexandria. Por toda parte se falava da santidade de sua vida como de verdadeiro prodígio. E’ nosso dever pagar aqui sincero tributo de reconhecimento e gratidão ao sábio e santo antístite, escolhido por Deus para lançar a pedra fundamental do Instituto. D. Francisco Maria Albório de Gattinara nasceu em Pavia, em 1658, de família ilustre.
 Foi um desses homens singulares, enviados por Deus à terra para o bem das almas. Inteligência privilegiada, coração nobre e generoso, desapegado das vaidades do mundo e das doçuras do lar, consagrou-se ao Senhor aos dezesseis anos, na Congregação dos Clérigos Regulares de São Paulo, chamados Barnabitas. O estudo e a piedade fizeram-no grande apóstolo do Evangelho, Possuía todas as qualidades do verdadeiro orador sacro. Dominava-o uma só paixão: ganhar almas para Deus. O zelo, manifestava-o de freqüente, sem o querer, com os soluços, eloquência do coração, que iam ferir o coração dos ouvintes, conquistando para Nosso Senhor os mais empedernidos pecadores, Seus sermões eram interrompidos pelas lágrimas, tornando-se proverbial a expressão:
 “ Que é que derrama com mais abundância no púlpito o padre Gattinara, os suores ou as lágrimas? ” Em prêmio de suas virtudes ou, melhor, para o bem das almas, Clemente XI, em 1706, nomeava-o bispo de Alexandria, e Bento XIII, em 1726, transferia-o para a sede arquiepiscopal de Turim. Essa promoção serviu para fazer brilhar ainda mais as virtudes insignes do santo prelado.
“ A grandeza, diz Bossuet, longe de enfraquecer a bondade, a auxilia a comunicar-se, como o chafariz que lança para o alto suas águas a fim de se espalharem mais e correrem melhor ” . Modelo perfeito de pastor, suas primeiras solicitudes foram para o clero, porção preciosíssima elo seu rebanho, a quem não cessava de incutir mais com o exemplo do que com as palavras, o verdadeiro espírito sacerdotal.
 À salvação e santificação das almas dedicou igualmente grande parte de seu apostolado. Pai dos pobres, empregava todos os haveres em aliviar-lhes, as misérias, lamentando não poder ajudar a todos. É impossível converter em algarismos os tesouros que derramou sobre a miséria dos indigentes. Como se isso não bastasse, a exemplo do divino Mestre imolou a própria vida por seu rebanho. Em 1743, após desoladora guerra, sobrevieram, como sói acontecer, a peste e a fome. Compreendeu o snr. bispo que soara a hora do supremo sacrifício. Renovou então os exemplos de um Carlos Borromeu e dos maiores servos de Deus, oferecendo-se em holocausto para a salvação do seu povo. Ordenou solene procissão. de penitência, a que tomou parte, mau grado a idade avançada. De volta à catedral, dirigiu à consternada grei palavras repassadas de ternura paternal. Ao terminar, levantou os olhos ao Céu, suplicando ardorosamente à divina justiça que, se ainda exigia reparação, descarregasse os golpes sobre o pastor, mas poupasse o rebanho. A vítima foi aceita: não terminara o sermão e já era acometido do mal que consumaria o sacrifício. Dias após, recebia o santo ancião das mãos de Deus a coroa merecida pelo heroísmo de sua caridade. Tal foi o ilustre bispo, de quem Paulo recebeu a humilde túnica da Paixão.
 O piedoso jovem pôs-se inteiramente erre suas mãos, como se fora nas do Altíssimo. Fêz a confissão geral e comunicou-lhe as luzes recebidas do Senhor. O prudente prelado, depois de ouvi-lo com atenção, ordenou-lhe trazer por escrito as revelações com que Deus o favorecera. Lendo o manuscrito de Paulo, o sr. bispo não teve dificuldade em reconhecer nele o sêlo divino. Comovido, banhando com suas lágrimas aquelas paginas inspiradas, exclamou: “ Aqui está o Pai das luzes!… ”Qual a origem desses segredos celestes, que fazem chorar de ternura o santo diretor? Paulo no-lo vai dizer:
 “ No verão p. p. (não me recordo o mês nem o dia, porque não o anotei; lembra-me tão somente que era o tempo da colheita do trigo), em dia de semana, terminava de comungar na igreja dos Capuchinhos de Castellazzo, quando me senti de todo absorto e profundamente recolhido. Tornei, sem demora, à casa e ia tão concentrado como se estivesse em oração. Antes de lá chegar senti-me arrebatado em Deus, com recolhimento ainda mais profundo. Todas as potências de minha alma se abismavam no soberano Bem. As criaturas todas desapareceram-me do pensamento e releu interior se inundava de celestiais suavidades. ” “ Vi-me de repente revestido de preto até o chão, com uma Cruz branca sobre o peito. Sob a Cruz estava escrito o nome ss. de Jesus, também em letras brancas. Tomentos depois, ainda enlevado em Deus, vi que me apresentavam a túnica, adornada com o sagrado nome de Jesus e com a Cruz branca. ”
 “ A túnica era preta, e eu a osculava com alegria. Quando me foi apresentada não divisei forma corpórea: vi-a em Deus. Com efeito, a alma conhece que é Deus porque Ele mesmo a faz compreender pelos movimentos internos e pelas
luzes que lhe derrama no espírito, de maneire tão sublime, que é dificílimo explicar. ”
 “ O que então a alma compreende é algo de tão sublime que não se pode referir nem escrever. Para exprimir-me o melhor possível, direi ser à maneira de visão espiritual, corno Deus se tem dignado conceder-me muitas vezes, quando se compraz em enviar-me particular provação ” .
 Em verdade este jovem, ainda vivendo no século, já falava a linguagem de santa Teresa e são João da Cruz. Vê-se que possuía o mesmo Mestre divino. E continua:
 “ Depois da visão do santo hábito e do emblema sagrado, Deus aumentou-me o desejo de reunir companheiros e de fundar, com a aprovação da santa Igreja, uma Congregação, que tivesse por título: OS POBRES DE JESUS. ”
“ Desde então imprimiu-me e no espírito os dizeres das santas Regras a serem observadas pelos Pobres de Jesus e por mim, seu humilíssimo e indigno servo. ”
APARECE-LHE NOSSA SENHORA
Certo dia, enquanto orava, viu Paulo a ss. Virgem trazendo nas mãos o mesmo santo hábito, com a diferença de que a palavra JESU era seguida por estas duas: XPI PASSIO. E sem mais viu-se revestido daquele hábito. Compreendeu que a grande empresa a que Deus o chamara devia realizar-se sob o patrocínio e poderoso auxílio da ss. Virgem. Estas visões revelam tais caracteres de veracidade, que ninguém, por pouco versado em assuntos espirituais, deixará de reconhecer, à primeira vista, a ação de Deus. Contudo, para poder explicar o que havemos de referir do nosso santo, diremos algo da origem e dos efeitos das visões. Ouçamos a são João da Cruz, mestre nessa matéria: “ Se, na obscuridade de uma noite profunda, brilhar resplandecente luz, divisaremos clara e distintamente os objetos que o espesso véu das trevas nos ocultava. Apenas desapareça essa luz, cairemos novamente na obscuridade, mas esses objetos continuarão profundamente gravados em nossa memória ” .Eis o que se passa nas visões celestiais. Oculto sempre nas secretas escuridões da fé, o divino Sol da inteligência, que é a mesma Verdade, faz sentir à alma, por uma luz mui viva, que ela se encontra nesse Sol ou, como diz Paulo, no IMENSO, e é nesse instante que lhe descobre o que deseja revelar-lhe e nela permanece impresso com tanta clareza, sendo impossível duvidar, mesmo quando a luz haja desaparecido.
 “ Tenho mais certeza, diz Paulo falando de suas visões, daquilo que vejo em espírito pela sublime luz da fé, do que se o vira com os olhos corporais ” . E aduz a razão de que os olhos podem enganar-se por algum fantasma, ao passo que em tais visões, conforme lhe fizera Deus compreender por conhecimento infuso, impossível é o êrro. Aliás, santo Agostinho já o dissera que a Verdade imutável ilumina a inteligência de maneira inefável.
 Em desaparecendo esta luz, o honrem cai de novo em trevas, isto é, volta às debilidades da natureza corrompida, chegando a sofrer repugnâncias e desalentos ocasionados pelo dificultoso da empresa ou pelas hesitações e dúvidas, não a respeito da autenticidade das revelações, mas da sua interpretação e maneira de executá-las e, enfim, pelo temor de obstacular com incorrespondências a obra de Deus. Neste estado se achava o espirito de Paulo, após as visões que acabamos de referir. O snr. bispo, a quem prestava minuciosa conta, examinava-o com a discrição e reserva que exigem semelhantes casos, sem se pronunciar. Por esta razão, Paulo ainda não se decidira. Inquieto e indeciso, inclinava-se a realizar o desejo que tivera outrora de consagrar-se a Deus em alguma Ordem religiosa.
 Certo dia em que, seguindo solitária estrada, mais do que nunca era perseguido por esse pensamento, apareceu-lhe a ss. Virgem. Estava revestida de túnica preta e trazia no peito virginal o EMBLEMA SAGRADO, extremamente branco, sobre fundo preto. Era o emblema em forma de coração encimado por pequena cruz, tendo no centro o lema da Paixão e em baixo três cravos. Maria, ostentando no rosto a tristeza do Calvário, dirigiu-lhe estas palavras:
 “ Vês, meu filho, como estou de luto? E’ por causa da dolorosíssima Paixão do meu amado filho Jesus. Deves fundar uma Congregação, cujos membros se revistam de um hábito igual a este, em sinal de continuo luto pela Paixão e Morte de meu Filho ” . E desapareceu. Os sentimentos que o empolgaram nessa dulcíssimas aparição faziam-no exclamar, muitos anos após, inebriado de gôzo:
 “ Oh! como era formosa! ” … Dissiparam-se-lhe as dúvidas. Conheceu claramente a meta que lhe traçara a Providência. Compreendeu também que havia de ser angelical a pureza dos que trouxessem o hábito que a Virgem Imaculada consagrara, vestindo-o por primeira.
A penitência
Durante as longas horas de oração, permanecia Paulo sempre de joelhos.O corpo, tiritante de frio e extenuado pelo jejum e pelas vigílias,reclamava alivio. No entanto o servo de Deus resistia com indômita energia aos reclamos da natureza. Confortava-o na luta o seu Senhor Sacramentado. A Comunhão, farol de amor, manancial de luz, proporcionava-lhe indizível contentamento, sendo levado a exclamar:
“ O frio, a neve, o gelo causavam-me inefável prazer.
Desejava-os ardentemente, dizendo ao meu Jesus: Vossos tormentos, ó Deus do meu coração, são dádivas do vosso amor… Assim, inebriava-me do meu Jesus, em altíssima suavidade e doce paz, sem movimento algum das potências da alma, que se quedava recolhida ” .
Por vezes a sagrada Eucaristia, abrasando-lhe o peito em chamas de amor, lhe alentava e fortificava o corpo. Ouçamo-lo:
“ Ó misericórdia infinita do nosso soberano Bem! Esta maravilha, conforme Deus me faz entender, provém do grande vigor que o Pão dos Anjos comunica à alma, que repercute também no corpo ” . Uma que outra vez, distrações importunas interrompiam-lhe a oração. Sua alma, porém, não permanecia menos absorta em Deus, continuando a alimentar-se, conforme se exprimia, do santíssimo manjar do divino amor. Eis como Paulo o explica, com encantadora simplicidade: “ Afigurai-vos uma criança que tem os lábios colados ao seio materno: suga o leite e agita as mãozinhas e os pés; revolve-se continuamente, faz movimentos com a cabeça e coisas semelhantes, mas não cessa de sorver o alimento, porque não retira a boca do peito materno. Melhor seria, não há dúvida, se ficasse quieta; porém continua a alimentar-se. O mesmo sucede com a alma. A vontade é a boca, que não cessa de tomar o leite do divino amor, muito embora se agitem a memória e a inteligência. Sem dúvida, melhor seria que essas potências permanecessem tranqüilas e unidas. Não sei explicar-me melhor, porque o Senhor não mo dá a conhecer de outra maneira ” .
Jejum
Das ofertas, guardavam apenas um pouco de pão, de que se alimentavam uma vez ao dia, distribuindo o mais aos pobres. Esse escasso e paupérrimo alimento parecia-lhes assaz delicado. Desejavam submeter-se a mais rigoroso jejum. Eis o que escreve Paulo ao venerando antístite, predileto diretor de sua alma “ Pensei em comer uma só vez cada dois dias, mas esperarei maior inspiração de Deus. Informa-lo-ei de tudo para que se digne abençoar-me ” .
Freqüentemente declinava o dia sem que os solitários de Santo Estêvão tivessem tomado alimento algum. Certa feita, foi visitá-los Lucas Dánei. Encontrou os admiráveis jovens pálidos e a tremer de frio. Perguntou-lhes se já haviam tomado alguma coisa. Foram obrigados a confessar que até aquela hora nada haviam recebido da caridade pública. Comovido, prometeu enviar-lhes algum alimento. Agradeceram de coração, suplicando-lhe, porém, deixasse ao cuidado da Providência provê-]os do necessário. Lucas, com a autoridade de pai, ordenou-lhes comessem por obediência tudo o que lhes enviasse. Os pobres de Jesus uniram naquele dia à abundante alimentação o mérito do jejum e da obediência.
Exemplo de Vida
O demônio procurou certo dia perturbar o auditório, agitando furiosamente uma mulher possessa. O servo de Deus descobriu o ardil do espirito infernal, impôs-lhe silêncio e o demônio calou-se. Todos, atemorizados, começaram a clamar: PERDÃO…  MISERICÓRDIA….E a palavra de Paulo redobrou de eficácia. Os dias de desordens e pecados transformaram-se em dias de penitência e oração. Não houve danças nem festas nem quaisquer desses divertimentos perigosos para a virtude. E o que é mais, ninguém manifestou descontentamento. Apenas um jovem desejou solenizar o casamento com baile público. Soube-o Paulo e, para impedi-lo, encaminhou-se, com a Cruz alçada, ao lugar da dança. Ainda lá não chegara e já os convivas, envergonhados e confusos, e dispersavam. O que, porém, melhor provou a eficácia de suas prédicas foi a reforma dos costumes e as numerosas confissões.
O dom da reconciliação
Dois nobres de Castellazzo, ambos de sobrenome Maranzana, nutriam entre si ódio implacável, escandalizando a população. Párocos, pregadores, religiosos, todos haviam trabalhado em vão para reconciliá-los. Tal vitória Deus a reservara a Paulo. Ambos foram uma tarde a Santo Estêvão ouvir o pregador. Paulo Sardi reconheceu a um deles e avisou ao servo de Deus. Paulo tomou por assunto do sermão a prece de Nosso senhor no alto da Cruz:
“ Pater dimitte illis ” .
Meu Pai, perdoa-os. A caridade do Salvador deu-lhe tal força às palavras, que penetraram naqueles corações empedernidos e deles desterraram todo o rancor. Terminada a prática, foram à cela do santo, onde, admirados pelo encontro inesperado, abraçaram-se e se reconciliaram, com imenso júbilo de seus corações. Paulo exortou-os a se confessarem naquela mesma tarde e, em reparação do escândalo, quis que comungassem juntos no dia seguinte, na igreja paroquial de São Martinho.
Edificante espetáculo para a cidade! Belo triunfo para o Evangelho!. Aqueles homens, até então inimigos irreconciliáveis, foram vistos, um ao lado do outro, no Banquete sagrado da paz e da caridade! Surgiu, certa feita, açulada disputa entre diversos homens. Temiam-se graves desgraças, porque a altercação quase chegara a vias de fato. Acorreu Paulo e, pondo-se de joelhos no meio deles, apresentou-lhes o Crucifixo e pediu se acalmassem por amor de Jesus Cristo. Cessou imediatamente a contenda e o grupo se dissolveu. Quantas reconciliações com Deus e com o próximo não obteve o jovem durante aquela quaresma!
A cura milagrosa
Sucedeu que o pobre homem se feriu em uma perna e a chaga se transformou em ulcera gangrenosa. A gratidão levou Paulo à cabeceira do enfermo. Depois de consolá-lo, quis ver a chaga, que exalava cheiro insuportável. O servo de Deus não pôde dominar repentino movimento de repugnância, mas, contemplando naquelas chagas as de Jesus Crucificado, mandou ao enfermo que voltasse o rosto para o outro lado e… passou a língua na ferida! Vergetto, que o percebera, comoveu-se deveras. Paulo suplicou-lhe que a ninguém o dissesse. No dia seguinte o médico, admirado, encontrou aferida cicatrizada. Vergetto, completamente restabelecido, pôde levantar-se e andar como se nunca estivera doente. Não soube, todavia, guardar silêncio; publicou por toda parte a cura maravilhosa e foi a Retorto relatá-la aos marqueses Del Pozzo.
A caridade com as pessoas
Não hesitava, porém, em sacrificar a vida contemplativa, tão doce ao seu coração, quando a caridade o exigia. Em sabendo que alguém enfermara, apressava-se em ir consolá-lo; prestava-lhe os mais humildes cuidados e, freqüentemente, ao benzê-lo com o Crucifixo, obtinha-lhe de Deus a saúde. Um senhor, por nome José Longo, achava-se em tal estado de debilidade, que não podia ingerir alimento algum. Foi Paulo visitá-lo e lhe preparou certa bebida, apresentando-a como excelente remédio. Apenas o enfermo a ingeriu, recuperou as forças e a saúde. Todos consideraram tal cura como graça obtida pelas orações e méritos do servo de Deus.
Intervenção de São Miguel Arcanjo
Juraram os inimigos expulsá-los do Argentário. Exasperados pela ineficácia das calúnias, lançaram mão da violência, julgando conseguir o que não conseguiram os demônios. Haviam de destruir o retiro, quase concluído! Auxiliados pelas trevas da noite, quando tudo era silêncio em torno do edifício e os religiosos descansavam tranqüilos na ermida, os desalmados, cegos pela paixão, foram de mansinho executar o plano sinistro. Já se aproximavam daquelas paredes sagradas, quando o mesmo poder misterioso que as defendera contra os demônios feriu-os de espanto e terror, fugindo quem para uma direção quem para outra.
Que tinham visto?
De pé, sobre um globo de fogo, empunhando cintilante espada, o arcanjo são Miguel a defender o edifício…Foi assim que uma santa alma o contemplou. Ciente do perigo por que passara a construção e da maneira como fora defendida, dedicou o santo Fundador um altar da nova igreja ao glorioso Arcanjo. Com sinais tão evidentes da proteção celeste, julgou Paulo dever dirigir-se ao eminentíssimo abade para desfazer as calúnias dos adversários. Por duas vezes foi a Roma, escreveu inúmeras cartas; mas só após ingentes trabalhos conseguiu pôr à luz do dia a má fé dos caluniadores.
O cardeal, sempre temeroso de que os pobres e perseguidos religiosos não pudessem ter os altares suficientemente adornados não permitiu o exercício do culto na nova igreja. Autorizou-os apenas a habitarem o retiro. Essa determinação levou ao auge a consternação do santo. Todavia, esperou resignadamente que Deus mudasse o coração do prelado. Como fosse excessivo o calor em 1737, não podiam os religiosos continuar na ermida sem perigo de graves enfermidades. Transferiram-se, pois, para o novo edifício. Mas surgiu outro inconveniente. Os sacerdotes, debilitados pela enfermidade que os acometera, deviam percorrer diariamente milha e meia, descalços e por caminhos pedregosos, para celebrar na igreja de Santo Antão, quando a preço de enormes sacrifícios haviam construído esplêndida igreja. Paulo resolveu escrever ao snr. cardeal, rogando-lhe provisionasse a nova igreja como oratório privado, para que pudessem os, sacerdotes ao menos celebrar o santo Sacrifício. “ Assim, acrescentava, permaneceremos por mais tempo aos pés do Crucifixo, visto não nos ser permitido trabalhar em prol das almas administrando-lhes os sacramentos, como até hoje fizemos. Esperamos que a misericórdia divina, a quem de coração desejamos servir durante toda a vida, compadecer-se-á de nós. Na. divina Bondade descansam todas as nossas esperanças. Rendemos graças ao nosso Amor Crucificado por nos haver fechado os caminhos humanos. Nossa confiança estriba-se unicamente em sua paternal bondade ” .
O milagre da cruz
Muitos milagres acompanharam esses labores apostólicos. Citaremos apenas um, dos mais admiráveis, operado em  presença de todo o povo. Sofria o missionário ao ver que alguns habitantes de Piágaro resistiam à palavra de Deus e desacreditavam a missão. Apelou para N. Senhor a fim de triunfar daqueles corações. Jesus para consolá-lo, revelou-lhe os desígnios de sua misericórdia em prol daquelas almas. Várias vezes, mas sobretudo noa últimos dias, proferiu o apóstolo estas notáveis palavras: “ Há entre vós quem deseja ardentemente a minha partida e o fim da missão, que lhe parece interminável. Pois bem, ao retirar-me, deixarei alguém que pregará melhor do que eu ” .
Ditas estas palavras, deu a bênção papal, desceu do estrado e, seguido de grande parte do povo, partiu para Monteleone, onde ia iniciar outra missão. Muitas pessoas permaneciam ainda na igreja, quando um grande Crucifixo esculpido em madeira começa a derramar copioso suor, particularmente das sagradas chagas das mãos, dos pés e do lado. Todos bradavam a um tempo: Milagre! Milagre! Os que estavam fora entraram em tropel e se puseram em redor da venerável imagem para melhor observar o fenômeno. Um senhor, por nome Antônio Félix, lançou-se sobre o altar, exclamando:
“ Isto é efeito dos meus pecados… ”
A emoção foi geral. Antônio enxugou respeitosamente o misterioso suor com um lenço branco. Outras testemunhas foram referir a Paulo o prodígio. “ Eu já o sabia, – foi a sua resposta. – De que cor é o suor? ”
“ Azul ” ,disseram-lhe.
“ Bom sinal, replicou o santo e prosseguiu caminho. ” Na verdade, sinal da misericórdia divina. Pecador algum resistiu por mais tempo à graça. Os que não se haviam comovido com a palavra ardente do apóstolo, renderam-se à vista do milagre. Para cultuar a milagrosa imagem e perpetuar a memória do ocorrido, construíram uma capela, em que se colocou o Crucifixo, gravando-se em lápides de mármore as seguintes inscrições:
“ Esta imagem de Jesus Crucificado, ao terminar a missão pregada pelo pe. Paulo da Cruz, do monte Argentário, à vista do povo de Piágaro, que soluçava e chorava, derramou suor de côr cerúlea, aos 11 de maio de 1738” .
“ Os magistrados da cidade de Piágaro erigiram este monumento com o auxílio de subscrições, em memória do suor prodigioso, e Antônio Pazzaglia, cidadão de Calle, sacerdote e reitor desta igreja, esmerou-se em ornar esta capela, com sua competência e dinheiro, no ano de 1738 ” .
Fundação dos Passionistas
Meses decorridos, terminaram os comissários o exame das Regras, com a prudência reclamada pela importância do assunto. Aos 30 de abril de 1741, emitiram voto favorável, declarando que as Regras dos Clérigos Menores Regulares Descalços da Santa Cruz e Paixão de Jesus Cristo, com as pequenas alterações prescritas pelo santo Padre, podiam, crescido o número de religiosos, ser aprovadas com Rescrito Apostólico. Na mesma tarde levou o abade Garagni ao Santo Padre, juntamente com as Regras, o voto dos comissários. O grande Pontífice julgava o Instituto de muita vantagem para as almas e de muita glória para Deus. Chegou a dizer: “ Este Instituto foi o último a aparecer na Igreja de Deus, quando deveria ter sido o primeiro ” .
(…)
Levanta-se o Fundador, com os olhos marejados de lágrimas, e emite a profissão dos quatro votos: pobreza, castidade, obediência e propagar a devoção à Paixão de Jesus Cristo. Recebe, em seguida, a profissão de seus filhos. Para completa consagração a Jesus Crucificado e perene lembrança de suas dores, prova outrossim de que já não pertencem ao mundo, deixam o nome de família, a exemplo do Fundador, e tomam outro a recordar-lhes o espírito do Instituto: Pe. João Batista de São Miguel, Antônio da Paixão, Fulgêncio de Jesus e Carlos da Mãe de Deus. Não se faz menção dos nomes dos irmãos leigos. Conhecemos apenas o de José de Santa Maria,que professou dias depois.O santo Fundador colocou em seu peito e no de seus filhos o Emblema sagrado, que traz esculpido o título da Paixão de Jesus Cristo. A começar daquele dia os missionários do monte Argentário receberam o nome de Passionistas.Confessamos experimentar profunda emoção ao narrar a humilde origem da nossa família religiosa.
Muitas conversões
Homens, mulheres, soldados e até pessoas de alta linhagem, que viviam em inimizade, diz um oficial, testemunha de vista, reconciliavam-se naquela praça pública, pedindo mutuamente perdão. Colocaram sobre o tablado, aos pés do pregador, livros obscenos e ímpios, baralhos, etc. Paulo lançou-os imediatamente ao fogo. Espetáculo que sobremaneira excitou ao arrependimento todos os assistentes. Apenas descia do estrado, todos corriam para ele e lhe circundavam o confessionário. Ouçamos ainda um depoimento simples e sincero, …ser o do soldado. Vamos resumi-lo:
“ Pregava o pe. Paulo com tanto zelo, que o rosto se lhe inflamava; sua voz atemorizava, compungia e convertia os pecadores. Em suma, o dedo de Deus era visível… Assim como atemorizava no decurso do sermão, era todo doçura ao terminá-lo: enternecia os corações e a todos inspirava confiança em Deus e esperança do perdão ” .
Todo o povo, comovido e contrito, derramava abundantes lágrimas… O que Paulo semeava nos sermões colhia no tribunal da penitência, onde era todo caridade. Muitos soldados que se não atreviam a confessar-se, temerosos pelas faltas cometidas, fizeram-no a conselho dos companheiros, que já haviam tocado, por assim dizer, com as mãos, a afabilidade e a doçura extraordinárias do servo de Deus para com os pecadores, principalmente para com os mais infelizes. Essa pregação produziu em Orbetello admiráveis conversões.
Havia no regimento suíço inúmeros luteranos e calvinistas. Ao presenciarem espetáculo inédito em suas seitas, atraídos pela caridade do apóstolo, pelo poder de sua palavra e iluminados pela graça, concluíam: “ Este pregador é forçosamente o arauto da verdade ” . E, descobrindo no verdadeiro apóstolo a verdadeira Igreja, lançavam-se em grande número para o tablado, declarando, sem respeito humano, desejarem abjurar os erros e a heresia, Houve entre eles um jovem de nobre linhagem, que exclamou em perfeito italiano:
“ Abjuro, detesto e abomino a seita a que pertenci até o dia de hoje tendo-a por falsa. Reconheço e confesso ser a Igreja Católica Apostólica Romana a verdadeira Igreja fundada por Jesus Cristo ” .
Compaixão pelos pecadores
Na missão de Porto Longone, na Ilha de Elba, um soldado fora condenado à morte. Vieram ter com o santo alguns oficiais, rogando-lhe obtivesse do governador indulto para o condenado mais infeliz do que culpado. O pobre soldado tentara desertar. Correu Paulo ao palácio e solicitou audiência. Responderam-lhe os contínuos que o governador, ao firmar sentença de morte, não recebia pessoa alguma antes da execução. Era ordem formal, absoluta e inviolável. Não podiam, portanto, introduzi-lo sem se comprometerem. O santo insistiu dissessem ao chefe que o pe. Paulo necessitava falar-lhe de assunto urgentíssimo. Renderam-se os contínuos; ao ouvir o nome de Paulo, o general permitiu o conduzissem à sua presença. Estava em seus aposentos, sentado, o queixo apoiado no cabo da espada desembainhada, com a ponta voltada para o chão, imóvel, a espera da comunicação de que fora executada a sentença. Sempre tão afável para com o servo de Deus, recebeu-o desta vez sem voltar-se e perguntou-lhe, rispidamente “ Então, pe. Paulo, que deseja? ”
“ Excelência, – respondeu o santo – o indulto para o condenado à morte ” .
“ Não posso ”
– replica o governador. E às mais eficazes razões, às mais vivas súplicas de Paulo, respondia sempre “ Não posso, não posso… ”
“ Pois bem, – exclamou o apóstolo – já que v. excia. não pode conceder esta graça, outorgue-a N. Senhor ”
E bateu com a dextra na parede.
O edifício se abalou até os alicerces, como se sobreviera violento terremoto!
“ Pois não, pe. Paulo, pois não, – anuíu o general, espavorido – a graça está concedida ” .
A Bondade de São Paulo da Cruz
Se nas perfeições divinas houvera graus, poder-se-ia dizer que a bondade seria o primeiro de seus atributos, por ser o poderoso ímã que a Ele atrai todos os seres. Causam-nos admiração a grandeza e a eternidade de Deus; sua bondade, porém, comovemos o coração e nos subjuga a alma. E’ a humildade justa e agradável amálgama de doçura e de força. Sem doçura, a força seria rigor inflexível; a doçura, sem a força, tornar-se-ia debilidade. Nada mais doce do que a força; nada mais forte que a doçura.
“ A SABEDORIA ATINGE DE UM A OUTRO EXTREMO DO MUNDO COM FORÇA INFINITA E TUDO DISPÕE COM IGUAL DOÇURA (Sap.8,1) ” .
(…)
Também em Paulo da Cruz aliaram-se a doçura e a força. Mais do que no passado, ve-lo-emos nas páginas seguintes dirigindo o pequeno rebanho:
SUA PRUDÊNCIA
Deus, ao inspirar-lhe a fundação do Instituto, parece haver-lhe outrossim gravado no espírito a maneira como governá-lo. Dirigia-se sempre pela operação invisível da graça. Completamente alheio à falsa prudência do século, antepunha aos interesses da Congregação o beneplácito e a glória de Deus. Quando se tratava da glória de N. Senhor nada o detinha. Jamais, porém, iniciava qualquer trabalho com ansiosa precipitação; muito ao contrário, refletia seriamente, escolhendo os meios mais adequados para o bom êxito da empresa. Por vezes as circunstâncias o obrigavam a agir com presteza. Mas, quer temporizasse, quer se lançasse logo ao trabalho, opera-a sempre com plena posse de si mesmo e com a calma de quem está unido a Deus.
“ Agir diversamente, dizia, não convém nem pode dar bom resultado ” . Em afazeres de alguma importância, não confiava na própria opinião; pedia luzes a Deus e tomava conselho dos homens. Repetia com freqüência as sentenças do Espírito Santo:
“ EU, A SABEDORIA, HABITO NO CONSELHO (Prov. 8, 12)… MEU FILHO, NADA FAÇAS SEM CONSELHO ”(Ecl. 32, 24).
Essa a sua regra. Quando lhe davam parecer justo e reto, rendia-se imediatamente, sem levar em conta a condição de quem lho dava.
AMÁVEL SIMPLICIDADE
Fiel guardião das máximas do divino Mestre, aliava a prudência à simplicidade e à candura, aliança proposta por N. Senhor sob o símbolo da serpente e da pomba. Nada mais encantador do que vê-lo agir. A simplicidade cristã era a alma de sua política e a força motriz da alta sabedoria com que desvendava os ardis dos perseguidores. “ À força de tratar tantos que fazeres, dizia com tristeza, vim a perder a bela simplicidade que trouxera do seio de minha mãe ” .
Desejava que os religiosos fossem também alheios a toda simulação. “ Sou lombardo, repetia, o que tenho no coração, tenho-o nos lábios ” . Se, por resposta evasiva de algum de seus filhos, julgasse concluído um trabalho apenas começado. fosse qual fosse o motivo dessa simulação, admirava-se e se afligia. Queixava-se amargamente se a mentira se repetisse, descobrindo muitas vezes por luz superna a verdade que desejavam ocultar-lhe.
 O pe. Antônio depôs nos processos de canonização que, certa manhã, comera às ocultas cinco figos, limpando em seguida os lábios para não ser descoberto. Julgava-se impune, tanto mais que no momento Paulo orava na igreja. Qual, porém, não foi o seu espanto ao ouvir o servo de Deus repreendê-lo:
“ Como se atreveu a comer figos sem licença?… Bem, acrescentou, dentro de alguns dias adoecerá em castigo dessa desobediência ” .
E assim sucedeu. Em outra ocasião, caminhavam juntos, quando Paulo lhe dirigiu uma pergunta. Antônio respondeu-lhe com uma mentira. E o santo, com ar severo: “ Para que não mais torneis a mentir, digo-vos que estais a pensar em tal coisa, em tal lugar, etc. ” E, com toda clareza e minuciosas circunstâncias, revelou-lhe os pensamentos, com espanto do irmão. Não julgava mal de ninguém, estando convencido que todos eram melhores do que ele. A todos tratava com profundo respeito e o manifestava com expressões sinceras.
CONFIANÇA EM DEUS
Outro efeito de sua simplicidade era viver continuamente abandonado nos braços da divina Providência, qual uma criança no regaço materno. Reprovava o desassossego exagerado dos superiores no que diz respeito às necessidades do convento. Recomendava-lhes a confiança na Providência, que jamais abandona aos que se lhe lançam nos braços. Costumava repetir ..Quando éramos três, N. Senhor providenciava para três; quando dez, para dez, e agora que somos muitos, providenciará para muitos. Basta que sejamos bons e observantes fiéis das santa: Regras e nada nos faltará, conforme o nosso estado de pobreza. E a experiência tem confirmado essa profecia. Jamais faltou o necessário a seus filhos e, mesmo em épocas de escassez geral, -eles puderam socorrer os pobres. Numa de tais circunstâncias escrevia o Servo de Deus: “ A geada destruiu os vinhedos, a colheita do trigo é bastante escassa. Teme-se a carestia, mas os celeiros e as adegas do Soberano Senhor não podem falir ” . Deus vinha sempre em seu auxílio, bastas vezes com milagres, para conservar viva nos filhos esta confiança. Batendo os bosques do monte Argentário, alguns caçadores, obrigados pela fome, foram ter ao retiro da Apresentação. Paulo dá-lhes pão e vinho, restando apenas algumas favas para a ceia dos religiosos. Pois bem, aquele legume, insuficiente para um, multiplicou-se a ponto de ter cada religioso a quantidade necessária. E não terminou aqui o prodígio. Ainda estavam à mesa, quando receberam melhores alimentos. Os religiosos de outro convento, por uma terrível tempestade de neve, estavam sem pão e sem esperança de obtê-lo. Chegou a hora da refeição e o santo mandou tranqüilamente a seus filhos que fossem ao refeitório. Instantes depois, tocaram a sineta da portaria. Era um senhor desconhecido a entregar-lhes, sem dizer palavra, uma cesta cheia de branquíssimos pães. Não se podendo conter de alegria, o bom irmão levou imediatamente ao refeitório a inesperada esmola. Quando voltou para agradecer ao misterioso benfeitor, este desaparecera, sem deixar sequer as pegadas na neve!
Estes e semelhantes fatos, que tanto realçam a prudência e simplicidade do servo de Deus, emprestam outrossim a seu governo encanto indescritível. Mais do que tudo, porém. contribuía para fazê-lo querido e respeitado a incomparável suavidade do seu jugo. Severo para consigo. era todo indulgência para com os demais. Não ordenava, suplicava sempre.
JUSTIÇA PARA COM TODOS
A justiça era a alma de seu governo. Não permitia negar-se aos religiosos o que as regras concedessem. Repreendeu severamente a um reitor que provera de água o jardim em detrimento da alimentação e vestuário dos religiosos. O pe. Fulgêncio, por fervor indiscreto, fazia a comunidade levantar um quarto de hora antes. Paulo o censurou publicamente, advertindo-o não subtraísse um minuto sequer do descanso concedido pelas Constituições. “ Quanto aos cargos, nota São Vicente Strambi, não julgava fossem títulos de isenção e motivo de repouso. Tinha por máxima que o superior deve sacrificar-se pela Congregação e pela sua família religiosa ” .
Nas eleições, tinha unicamente em vista os méritos e a capacidade dos súditos, dando sempre preferência à virtude. Propôs algumas vezes ao Capítulo a eleição de religiosos que ele sabia não aceitariam o encargo; fazia-o, porém, para homenagear a virtude.
INVICTA PACIÊNCIA
A par da justiça, resplandeceu em Paulo paciência inalterável. Jamais repreendia com voz alterada pela indignação ou cólera.
Dizia que “ o aviso dado com bondade cura qualquer chaga, ao passo que, dado com aspereza, produz dez ” .
Escreveu a um reitor demasiado severo: “ Não seja precipitado no corrigir, principalmente quando sentir qualquer princípio de paixão; mas, passado algum tempo. quando estiver calmo, chame o culpado e o corrija com coração de pai e de mãe ” .E dava o exemplo. Que doçura e paciência nas correções! Ao advertir a um irmão leigo, este alterou-se a ponto de proferir palavrasconvenientes. Paulo, calmo e humilde, abaixou a cabeça, abriu os braços e falou ao culpado:
“ Tenha compaixão de mim, querido irmão; um pouco de paciência… ”ão, arrependido, lançou-se chorando aos pés do pai amoroso.
CARIDADE PARA COM OS SÚDITOS
O que, porém, mais atraia os corações dos filhos era sua terníssima e extraordinária caridade. Ninguém a ele recorreu, que não fosse aliviado das penas, encorajado nas tristezas e esclarecido nas perplexidades. Tinha bálsamo para todas as feridas, refrigério para todas as dores, pressentindo muitas vezes as necessidades das almas.

PUREZA ANGÉLICA
 Em todo o curso desta vida, temos respirado, como num jardim, o doce perfume desta alma virginal, branca e pura como o lírio. Desde os mais tenros anos, tomara por divisa a sentença POTIUS MORI QUAM FOEDARI, Antes morrer do que pecar. Conservou a inocência batismal até o último alento de vida. Discorreu de sua juventude, acusava-se de ter sido demasiado vivo, s acrescentava que Deus o preservara dos escolhos em que tantos jovens se perdem. Quando enfermo em Orbetello, julgando-se sozinho, assim se desabafava com, N. Senhor:
 “Bem sabeis, ó Senhor, que, com o auxílio de vossa graça, o vosso Paulo jamais maculou a alma com falta deliberada”. Não pensemos que nele a virtude fosse fruto espontâneo de temperamento gélido ou de insensibilidade. Muito ao contrário, possuía rara ternura de coração, natural ardente, imaginação vívida. Alcançara a pureza angelical a preço de lutas e combates cruentos. Sua juventude foi dotada de riquíssimos dons naturais `e do atrativo da virtude. Nem por isso foi isenta de perigos. Apesar das mais séries precauções, encontrou rudes assaltos, que quebrantariam virtude menos sólida. Numa palavra, nele brilhou o lírio da virgindade, porque soube cercá-lo com os espinhos da mortificação, da modéstia, da fuga das ocasiões e da desconfiança das próprias forças. Sua modéstia era realmente angélica. Chegou a dizer certa vez que preferia lhe arrancassem os olhos, antes que fitar o rosto de urna mulher.
 Conhecia apenas pela voz uma senhora espanhola de Orbetello, de rara formosura, a quem dirigira por muitos anos. A castidade, qual tímida pomba, vê perigo por toda parte. Em conversa com pessoas de outro sexo, suas palavras respiravam gravidade religiosa e celestial unção. Exigia que a porta do locutório estivesse aberta. O companheiro recebia ordem de não afastar-se muito. Costumava dizer que o companheiro é como o Anjo da guarda. Não admitia exceção com quem quer que fosse.
Estando em conferência espiritual com uma princesa, fecharam por inadvertência a porta do quarto. Bradou Paulo imediatamente: “Abram, abram a porta, pois estarmos de porta fechada é contra as regras de nossa Congregação”. Disse certa vez:
 “Não confio absolutamente em mim; nesta matéria fui sempre escrupuloso, tornando-me por vezes até descortês”. Santas DESCORTESIAS, que levam o religioso a cumprir sua primordial obrigação: a observância das Regras! Velava o coração a fim de que se não afeiçoasse às almas por ele guiadas à santidade. NADA DE LATROCÍNIO EM RELAÇÃO A DEUS! essa a sua divisa.
Uma senhora, recomendando-se-lhe às orações, acrescentou com certa afetação: “Lembre-se sempre de mim em suas orações; jamais me esqueça”.
“Isto não, replicou o Santo; depois de ter atendido às senhoras que a mim recorrem e de tê- las ajudado o melhor possível, recomendo-as a N. Senhor e procuro esquecer-me delas”.
 Talvez pareça pouco satisfatória a resposta, mas era a máxima do servo de Deus que a familiaridade com essas pessoas é espinho capaz de ferir o formoso lírio da pureza. Deviam seus filhos ser Anjos em carne humana. Exortava-os calorosamente a imitarem a modéstia do Salvador. Recomendava-lhes não somente a modéstia da vista e o combate à concupiscência, mas também modelassem o seu agir às normas da modéstia, que a tudo empresta medida, compostura , dignidade.
Subira tão alto na região do amor celeste que, embora revestido de carne humana, já o constituira Deus poderoso protetor da castidade. Na missão de Valentano, dissera a uma jovem “Minha filha, Deus me fêz conhecer que sua inocência será submetida a terrível provação. Muito cuidado, minha filha”. Estimulou-a a confiar em Deus, garantindo-lhe a vitória. Quatro anos decorridos, em quatro ocasiões diversas, sofreu a jovem violentos assaltos. Para repelir o brutal inimigo, invocava o nome do pe. Paulo e sempre saiu vitoriosa.
Espargia o nosso santo em derredor de si o perfume da pureza. Bastava conversar com ele ou mesmo dele se aproximar, para experimentar os atrativos
dessa virtude. Odor caraterístico exalava-se-lhe do corpo, dos objetos de uso e até da cela em que habitava. E esse celestial perfume perdurava por meses e anos.
Por vezes suas carnes virginais como que tomavam as propriedades do corpo
glorioso: impassibilidade, claridade, agilidade e subtileza. No êxtase, tornava-se insensível à dor, desprendia de si luz vivíssima, elevava-se aos ares, voava como os Anjos, ausentava-se de casa com portas fechadas, como Jesus no Cenáculo, encontrava-se presente em vários lugares simultaneamente. Freqüentes eram esses prodígios na vida do servo de Deus. Para retratar com perfeição a Paulo da Cruz, fora mister um raio de luz puríssima, mãos de Anjos, as cores que matizam a celeste Jerusalém.
TERNURA PATERNAL PARA COM OS DOENTES
Para com os enfermos mais terna e afetuosa era sua caridade. Recomendava aos superiores os tratassem com verdadeiro amor materno. Não tolerava em tais casos economia, ordenando vendessem, se necessário, os mesmos vasos sagrado. Visitava-os várias vezes ao dia, servia-os com suas próprias mãos, preparava-lhes e ministrava-lhes os remédios, consolando-os com incomparável afabilidade. Desejava vê-los santamente alegres e totalmente abandonados à divina Vontade. Se o mal se agravava, não permitia os deixassem sós. Quando, por sua vez, adoecia. penava mais pelos incômodos alheios do que pelos próprios males. Apenas tinha-se em pé, dirigia-se, por vezes apoiado em muletas ou levado pelos braços dos filhos, às celas dos enfermos. Não podendo levantar-se, enviava alguém para saber como estavam, se nada lhes faltava e se eram tratados com caridade.
“ A pobreza é boa, exclamava amiúde, mas a caridade é melhor ” .
E acrescentava:
“ Para os enfermos faz-se mister uma mãe ou um santo ” . Paulo possuía coração de mãe, por ter a caridade do santo.
CARINHO PARA COM OS JOVENS
Afeto especial nutria para com os noviços e estudantes. Deviam ser cultivados como plantas delicadas. Proibia impôr-lhes jejum a pão e água e tratá-los com demasiado rigor, acrescentando: “ Da conservação das forças, particularmente na juventude, depende uma observância mais pontual ” . Quando da tomada de hábito, não se continha ao contemplar aquela juventude que, do borrascoso mar do mundo, aportava nas plagas seguras da observância regular. Desde aquele momento far-lhes-ia saborear as doçuras de sua terna caridade.
Ao passarem à casa de estudos, seguia-os com o coração. Em suma, nada omitia do que pudesse fazê-los progredir assim nas letras como no amor a Jesus Crucificado. Alguns escolásticos, de partida para outro retiro, onde iriam dar princípio ao curso filosófico, foram pedir-lhe a bênção. Presenteando-os com uma imagem da ss. Virgem, assim fala o carinhoso pai:
“ Já não tendes pai nem mãe… ei-la, tomai-a por mãe… ”
Fitando os filhos queridos, ajoelhados a seus pés, acrescentou, chorando:
“ Prestai atenção, meus filhos. Resta-nos pouco tempo de vida: não nos veremos mais cá na terra. Quero, portanto, deixar-vos três lembranças, que deveis conservar na memória. Recomendo-vos, em primeiro lugar, a pureza de intenção, porque ela possui a secreta virtude de tudo transformar em ouro. Estudai unicamente para a glória de Deus e bem das almas. ”
“ Em segundo lugar, edificai um santuário interior e aí entrai para tratar com o Soberano Bem, que habita dentro de nós, como no-lo ensina a fé. Nas horas de estudo, detende-vos de quando em quando, dizendo internamente, com espírito de fé: Ó PADECIMENTOS DE JESUS!… ”
“ Recomendo-vos, finalmente, a modéstia da vista, guarda angélica do recolhimento… ” Ao pronunciar estas palavras, derramou novas lágrimas e os abençoou carinhosamente.
FIRMEZA INABALÁVEL
O governo do nosso santo, com ser suave, não deixava de ser forte. Observava, com vista perspicaz, a conduta dos religiosos. Aos incorrigíveis, após os meios brandos, empregava atitudes enérgicas, fazendo-os tremer. Se alguém resolvesse abandonar o Instituto, deixava-o ir, dizendo “ Prefiro a observância a todos os indivíduos do mundo. Deus não precisa de ninguém; poucos e bons! ” . Corrigia as mais leves faltas, porque desejava que todos fossem perfeitos. Falar em voz alta, rir estrepitosamente, proferir palavras ociosas, mostrar-se demasiado alegre ou delicado, eram defeitos que não passavam sem correção.
Cantando o divino Ofício no coro, um clérigo cometeu um erro. Voltou-se o santo para ele, repetindo a sentença:
“ MALEDICTUS HOMO QUI FACIT OPUS DEI FRAUDULENTER ”
(Jerem. 48, 10). Essas palavras foram pronunciadas com tal inflexão de voz, que a todos fêz tremer, servindo de lição para o futuro. Se alguém não inclinava a cabeça ao GLORIA PATRI ou ao nome ss. de Jesus, repreendia-o severamente. Não hesitou em mudar de retiro a um irmão leigo que faltara à santa caridade.
Um religioso se mostrara demasiado familiar e alegre em presença de algumas piedosas benfeitoras, em visita ao retiro do Santo Anjo. Advertiu-o asperamente, exigindo-lhe para o futuro mais modéstia e gravidade religiosa, como convém aos filhos da Paixão. Alguma vez exclamou:
“ Não conheceis a força que Deus colocou neste peito? Não é bom superior quem não sabe dizer não ” . Julgava-se réu de grande pecado se, para não perder a estima dos súditos, deixasse de corrigir-lhes os defeitos. Soía repetir: “ Não quero condenar-me por pecados alheios. Jesus imputou a Pilatos sua morte, porque este se mostrara fraco perante os doutores da lei e Heli foi castigado por não opor-se com energia às indignas arbitrariedades dos dois filhos ” .
Ao comentar a incúria de certos superiores que, ou por fraqueza de caráter ou por falsa caridade, deixam de repreender os súditos delinqüentes, suspirava “ Oh! quantos superiores estão no inferno por pecados de omissão! ”
Só nomeava superiores serios e de ánimo varonil, que se não deixavam levar por considerações humanas de timidez ou de outras quaisquer paixões. Era seu lema:
“ Não é bom superior o que não sabe dizer, quando necessário: NÃO SE PODE ” . Não se deve aqui concluir que Paulo fosse inflexivel. Pelo contrário, era compassivo por natureza. Se os religiosos se humilhavam e se arrependiam, era como se os visse refugiar-se em santuário inviolável. E passava do rigor á brandura. Alguns dos nossos estudantes, narra são Vicente Strambi, não sei por que falta, prostraram-se-lhe aos pes, pedindo perdao. O santo, sereno e alegre, disse-lhes, a sorrir: “ Oh! repreenda-os agora quem fôr capaz!… Que querem que eu faça? Levantem-se, pois venceram ” . E pós-se a conversar com eles alegremente, como pai amorossíssimo. Era isento daqueles caprichos que depravam e exasperam o caráter. Com admirável discernimento, regulava-se na correção pelo grau de virtude do culpado, a exemplo do Salvador “ que não quebrou a frágil cana, nem apagou a mecha ainda fumegante ” Is. 42. 3 Ciente de que o homem deve ser dirigido com delicadeza e respeito para mais fácilmente triunfar, no coração de Paulo a compaixão e a ternura quase sempre substituíam a repreensão e o castigo. Porém, onde mais lhe resplandecen o zelo, foi quando se tratava de gravar no coração dos religiosos as três virtudes fundamentais do Instituto:
POBREZA, ORAÇÃO E SOLIDÃO.
“ Recomendo-vos, dizia aos religiosos, a santa pobreza. Se fordes pobres, sereis santos. Se, porém, andardes em procura dos bens deste mundo, perdereis o espírito religioso e desaparecerá dentre vós a observância regular. Os filhos da Paixão de Jesus Cristo devem viver despojados de todos os bens terrenos. Nossa Congregação deve ser pobre de espírito e completamente desnuda, Somente assim conservará perene vigor ” . Era zelosíssimo na prática desta celestial virtude. Exigia que pobre fosse o vestuário dos religiosos, pobre a alimentação, pobres as celas, pobres os edifícios. Como da santa pobreza nasce a vida perfeitamente comum, tinha esta em grande estima “ Oh! que felicidade a vida comum! que grande tesouro encerra! ” .
E suas obras se conformavam ao seu parecer. Nunca possuiu coisa alguma como própria e exigia que entre os filhos tudo fosse comum. Era a pobreza personificada. Entremos em sua cela: pequena mesa de madeira ordinária, duas ou três cadeiras de palha, uma enxerga sobre algumas táboas, uma coberta de lã. uni Crucifixo, uma pia de barro para água benta, alguns quadros ordinários… essas as preciosas mobílias de Paulo da Cruz! Esmerava-se por ser o mais pobre entre os pobres. Não era menor seu amor à oração. “ Se formos homens de oração, sentenciava, Deus servir-se-á de nós, embora miseráveis, para os mais brilhantes triunfos de sua glória. Sem a oração, nada faremos de bom ” .
Estimava deveras os religiosos que se entregavam de fato à oração, e com eles se aconselhava. Para que o espírito de oração lançasse profundas raízes na alma de seus filhos, exortava-os ao recolhimento com a lembrança da presença de Deus: “ Este exercício faz com que a oração seja contínua ”. E prosseguia: “ Pessoas há que têm grande devoção em visitar lugares santos e as igrejas mais célebres. Estou longe de criticá-las; digo, contudo, que o nosso interior é grande santuário, por ser o templo vivo de Deus. Néle reside a ss. Trindade. Permanecer nesse templo é devoção verdadeiramente sublime ” Com tais expressões inflamava os corações dos filhos no desejo de tratarem familiarmente com Deus, comunicando-lhes o verdadeiro espirito de oração. A esta solidáo interior colocava uma centinela: a solidão exterior, sem a qual é impossível a primeira. Chamou de retiros aos nossos conventos, para infundir-nos o amor á solidão. Edificou-os, sempre que possível, longe dos povoados, para que, após as fadigas do apostolado, encontrassem “ religiosos, no ar puro e na calma do silêncio, o duplo refrigério do espírito e do corpo. ”
Quando os religiosos deixavam o retiro, esperava-os ansiosamente, contando as horas da auséncia. Ao regressarem, não lhes permitia referirem acontecimentos profanos. “ Isto seria trazer o mundo para o convento ” . Como na Congregação o espírito de solidáo devia estar unido ao zélo das almas, também ao apostolado tinha imenso amor e extremava-se por infundi-lo no coração dos filhos. Repetia: “ Levando-se em consideração o bem das almas, vale mais um missionário do que um convento. Prefiro perder um convento que um missionário ” . Alegrara-se sobremaneira quando os religiosos partiam para as missões. Abraçava-os ternamente e, chorando, dizia-lhes: “ Oh!! se tivesse trinta anos a menos, percorreria de boa vontade o mundo todo a pregar a divina misericórdia!… ” Ao regressarem, extenuados, venerava-os como vítimas da caridade, assinalados com os gloriosos estigmas do sacrifício…Desabafava…em santos afetos. Apertava-os ao peito,… Deviam ser tratados com a máxima caridade. Éle mesmo, admirável ancião, os servia á mesa, ensinando a todos o preço do missionário apostólico. Folgava em ver entre os filhos o verdadeiro amor fraterno. A vida religiosa era para ele escola de respeito e caridade. Exigia dos sacerdotes suma condescendência para com os irmãos leigos, e destes o maior respeito pelos sacerdotes, em consideração do divino caráter que os revestia. Todos deveriam dar-se a cada um e cada um a todos. Com o imolar-se perenemente em prol dos filhos queridos, matava o egoísmo, peste e ruína das comunidades religiosas, e doutrinava o desprendimento, vida dos convento. Quem não sabe dar-se, não sabe ser pai.
Para traçar-lhe numa pincelada o governo, diremos: nos limites das santas Regras, doçura ilimitada: transpostos esses limites, firmeza inquebrantável. E nisto consiste a salvação das Ordens e Congregações religiosa. e o preservativo do relaxamento, Eis o governo de são Paulo da Cruz. Governo de prudência e simplicidade, de doçura sem fraqueza. de força sem aspereza, que obrigava os religiosos a viverem no fervor e na fiel observância, fazendo o pai venerável derramar lágrimas de inefável consolação.
Fala bem alto o fato seguinte: Aos religiosos de Santo Eutízio (Soriano), faltava-lhes o necessário para fazerem o pão em casa. Piedoso benfeitor comprometeu a fazê-lo, devendo os religiosos ir buscá-lo. A família do bom homem edificava-se desse mister. Ao apresentar-se à porta da casa, modesto e recolhido, o irmão encarregado apenas pronunciava a palavra: PÃO. Assim procedia, não por escassez de inteligência ou educação, mas para evitar palavras inúteis e não faltar ao santo silêncio, prescrito pelas Regras. Semelhante delicadeza de consciência é prova patente das heróicas virtudes dos primeiros Passionistas.O santo Fundador afirmava, jubiloso, que mais de SESSENTA, isto é, todos os que até então haviam falecido com o santa hábito, gozavam no paraíso os esplendores da glória eterna.
A paixão de Cristo o transforma
Supera de muito as nossas débeis forças o que nos resta dizer a respeito de Paulo da Cruz. Para cantar as maravilhas que iremos referir neste capitulo, fora necessário a lira do Anjo e o coração do Serafim. Balbuciaremos apenas algumas palavras. Ó Jesus Crucificado, que de portentos não operais com vossos santos! Paulo foi sempre serafim de amor. Com o transcorrer dos anos essas labaredas cresceram tanto, a ponto de transformar-se em verdadeiro incêndio. Ao meditar os padecimentos do Redentor, abismava-se o santo naquele oceano sem praias nem fundo. Flechas de amor transpassavam-lhe o coração e ele chorava copiosamente. Os colóquios com Jesus Crucificado comoveriam corações de pedra. Ouçamo-lo “ Ó meu amado Redentor, que se passava no vosso Coração divino durante a flagelação?! ”
– Ou:
“ Oh! que aflição, que agonia vos causavam os nossos pecados, as minhas ingratidões!… Por que não morro também por vós? ” . Chamava-o de “ MEU SOBERANO BEM, O CELESTE ESPOSO DE MINHA ALMA… ” Em suma, a dor e o amor encontravam expressões que, para traduzi-las, fora mister dar às palavras asas de fogo. E das expressões nasciam os desejos: sofrer e morrer pelo Amor Crucificado. Essas aspirações levavam-no aos delíquios da embriaguez espiritual e do êxtase.Ao refletir:“ Um Deus açoitado!… um Deus crucificado!… um Deus morto por meu amor!… ” , quedavam-se-lhe todas as potências da alma; o espírito já não formulava nenhum pensamento; somente o coração se absorvia no silêncio interior, suprema expressão da caridade.
Jesus, então, o atraía, comunicava-lhe de maneira inefável as próprias dores, fazia-o desfalecer de altíssima suavidade, submergindo-o no âmago do seu divino Coração. Duravam pouco essas operações da graça: os frutos, porém, como sejam, amor mais ardente a Jesus Crucificado e fome insaciável de padecer, perduravam por largo tempo. Nas desolações espirituais, não pedia lenitivo: ao contrário, temia privar-se desses ricos tesouros. O frio, o calor, a fome, a sede, todos os incômodos físico. eram-lhe doces refrigérios. Suportava-os com imensa alegria. chamando-os “ PENHORES DO AMOR DIVINO, PEDRAS PRECIOSAS PARA O SEU CORAÇÃO ” . Martirizava de mil maneiras o corpo inocente, chegando a gravar com ferro em brasa sobre o coração a Cruz e o nome ss. de Jesus, cicatriz imortal que levou à eternidade. Guindara-se Paulo de grau em grau à mais alta região do amor, haurindo sublimes noções dos mais secretos mistérios do Céu. Certo dia, com Jesus Eucarístico no coração, foi arrebatado em sublime êxtase. Abismado no Soberano Bem, prelibou por instantes os inefáveis encantos do amor e. associado à Humanidade do Verbo, teve sensível conhecimento da Divindade… Compreendeu, além do mais, ser Jesus Crucificado a porta soberana do amor, a transformação da alma em Deus e o aniquilamento no Infinito.
“ Por esta porta é que devemos entrar, – diz santa Teresa – se quisermos que a divina Majestade nos revele grandes segredos ”
(Autobiografia da santa, cap. XXVII).
O coração de São Paulo da Cruz se alargou por amor a Jesus Cristo
As chamas de amor reverberavam-se-lhe no rosto, no corpo tudo, chamuscando-lhe a túnica na parte que tocava o coração. Se tais eram as chamas desse amor, qual lhe não seria a impetuosidade? Sentia contínuas e dolorosas palpitações de coração, sobretudo às sextas-feiras: indizível martírio que o fazia prorromper em furtivas lágrimas e gemidos, sempre solicito em ocultar os dons celestes. O coração, pelas violentas palpitações, não se conteve nos estreitos limites do peito, dilatando duas costelas; fenômeno que não se pode explicar naturalmente, na opinião do sábio médico Del Bene, que o observara no retiro de Vetralla, quando tratou o nosso santo. Aliás, outras testemunhas do fato prodigioso atestaram-no com juramento no processo de Canonização.
Paulo sempre passou a noite de quinta para sexta-feira santa de joelhos, imóvel, ante o ss. Sacramento exposto, a meditar os padecimentos e a morte ignominiosa do Salvador. Numa dessas noites, enquanto desabafava o amor em torrente de lágrimas, Jesus gravou-lhe no coração o EMBLEMA sagrado, semelhante ao que trazia sobre o peito, com os instrumentos da Paixão e as dores de Maria. A partir desse momento, intumesceu-se-lhe o peito, dilatando extraordinariamente a cavidade que encerra o coração. Afirma o dr. Giuliani com juramento que não só viu, mas tocou as três costelas prodigiosamente arcadas, não tenda a menor dúvida da sobrenaturalidade do fato.
O APÓSTOLO QUE CONVERTEU MUITOS BANDIDOS
Que força, que fecundidade no apostolado de Paulo, inspirado unicamente em Jesus Crucificado! Já vimos como Deus abençoou a extraordinária messe de almas, colhida pelo grande missionário no campo da Igreja. Por toda parte onde se fazia ouvir a sua voz, operava-se completa transformação: refloresciam os costumes, desapareciam os ódios implacáveis, restabelecia-se a paz no seio das famílias, entregavam-se as almas à prática da oração mental, os corações se inflamavam no amor ao Cristo Crucificado.
Reviviam-se os mais belos tempo do cristianismo. Pronunciava-se o nome do grande missionário com admiração e acatamento.“ O pe. Paulo é verdadeiramente santo! é grande apóstolo de Jesus Crucificado! ” Não sabiam separar-se dele. Terminada a missão, acompanhavam-no, em multidão, grande trecho da estrada; recomendavam-se às suas orações, beijavam-lhe as mãos, a capa e até as pegadas, ao longo dos caminhos!Dir-se-ia recebera de Jesus moribundo o dom particular de converter os salteadores em BONS LADRÕES.
 Morte de São Paulo da Cruz
Ao notar os religiosos, ajoelhados e chorando ao redor do eito, aproveitou a ocasião para fortificá-los no espírito de Jesus Crucificado. O testamento sagrado do pai moribundo foi escrito por dois sacerdotes, que se encontravam no Oratório contíguo à cela. Ouçamo-lo:
“Em primeiro lugar, recomendo-vos instantemente o santíssimo preceito dado por Jesus aos discípulos, na véspera de sua morte: Conhecer-vos-ão por meus discípulos, se vos amardes mutuamente (Jo. 13, 35). A caridade fraterna é, meus queridos irmãos, o que de todo o coração desejo de todos os presepes e de todos os que se acham revestidos desse hábito de penitência, memorial perene da Paixão e Morte do nosso amado Redentor, bem como dos que futuramente forem chamados pela divina misericórdia a este pequeno rebanho do Senhor. Recomendo a todos, particularmente aos superiores, amor ao espírito de ração, de solidão e de pobreza. Se este espírito se conservar entre nós, a Congregação resplandecerá como sol, por toda a eternidade, em presença de Deus e dos homens. Amai, eu vo-lo aplico, amai sempre com amor filial e sincero a santa Igreja. Pedi incessantemente por ela e por seu chefe. Sêde submissos o Santo Padre em tudo e por tudo. Trabalhai como infatigáveis apóstolos na salvação das almas; inflamai os corações na devoção à Paixão de N. Senhor e às Dores da divina Mãe”.
Após haver manifestado sincero reconhecimento aos benfeitores, notadamente ao Romano Pontífice, apoderou-se-lhe da alia profundo sentimento de humildade: Como sou miserável! Estou para deixar-vos e entrar na eternidade… Ai de tuim! que apenas vos deixo maus exemplos! o entanto, confesso-vo-lo que sempre tive em vista a vossa santificação e perfeição espiritual.
Peço-vos, portanto, perdão, com rosto em terra. Recomendo-vos encarecidamente a minha alma, fim de que N. Senhor a receba no seio de sua misericórdia. Espero-o pelos méritos de sua Paixão e Morte”. Voltando-se para o SS. Sacramento, prosseguiu: “Sim, meu amado Jesus, espero, embora pecador, ir imediatamente ver-Vos no Paraíso e dar-Vos, ao deixar o corpo, aquele santo ósculo que a Vós me unirá para sempre, podendo assim cantar eternamente a vossa infinita misericórdia.”
“Recomendo-vos, meu doce Jesus, a pobre Congregação, fruto de vossa Paixão, de vossa Cruz, de vossa Morte.
Abençoai, vo-lo suplico, abençoai a todos os religiosos e benfeitores do Instituto… ” Tomou então a voz do Santo entoação de inefável ternura. Prestemos atenção, nós que temos a ventura de ser filhos de são Paulo da Cruz. Aconselha-nos são Vicente Maria Strambi conservemos a lembrança destas solenes palavras
“Suplico-vos, ó Virgem Imaculada, Rainha dos Mártires, suplico-vos pelas dores que sofrestes na Paixão de vosso amado Filho, lançai a todos a vossa bênção maternal. Coloco a todos e a todos deixo sob o manto de vossa doce proteção”.
Despediu-se por fim dos filhos queridos: “Vou deixar-vos, mas esperarei a todos lá no Céu, onde rezarei pela santa Igreja, pelo Soberano Pontífice, pela nossa. Congregação, pelos benfeitores. Deixo-vos todos, presentes e ausentes, com a minha bênção”. E levantando com esforço a destra, traçou o sinal da Cruz sobre os filhos, que choravam e soluçavam. Dirigiu-se em seguida ao Salvador “Vinde, vinde, Senhor Jesus…! VENI, DOMINE JESU (Apoc. 22, 20).” E chorando batia no peito e repetia “DOMINE, NON SUM DIGNUS – Senhor, não sou digno…”
e com devoção de serafim recebeu em seu coração o amabilíssimo Jesus. Todos se retiraram, pois o Santo precisava de silêncio, para se abismar em adoração e ações de graças.
EPÍLOGO DE UMA VIDA SANTA
Comungava diariamente e sempre em jejum, suportando ardentíssima sede. O Santo Padre, ao saber do heróico sacrifício do servo de Deus, mandou-lhe dizer por Frattini que podia comungar quatro vezes por semana sem estar em jejum. Paulo aproveitou-se do privilégio até o último dia de vida.
Enternecido pela bondade do Vigário de Cristo, recomendou novamente aos filhos jamais omitissem a recitação diária das ladainhas de todos os Santos conforme as intenções do Papa e pelas necessidades da santa Igreja e acrescentou:
“Se me salvar, como espero pela sagrada Paixão de N. Senhor Jesus Cristo e pelas Dores de Maria, hei de rezar sempre pelo Santo Padre. Como lembrança, deixo-lhe depois da minha morte, esta imagem da Virgem das Dores. E’ prova de meu reconhecimento”. Passados instantes renova a recomendação de rezarem pelo Papa “a fim de que a divina misericórdia o conserve em saúde por muito tempo, para o bem da santa Igreja, e o assista em todos os empreendimentos. Como os desejos do Santo Padre são unicamente agradar a Deus, que os realize com todo o zelo possível”.
Paulo continuava a consolar os filhos desolados, a exortá-los à fiel observância das santas Regras, a recomendar-lhes evitassem as menores faltas voluntárias. Que os superiores vigiassem sobre este ponto, “porque os que perderam o espírito religioso são, no campo do Senhor, como ervas daninhas, que põem a perder a boa semente”.
Repetiu o que dissera aos superiores, quando gravemente enfermo, em Santo Anjo “Despojo-me do pouco que tenho em uso e peço-vos a caridade de dar-me de esmola alguma roupa usada, que me servirá de mortalha”. Visitando-o o revmo. pe. João Maria Boxadors, Geral da Ordem dos Pregadores e grande admirador do Santo, mais tarde cardeal da santa Igreja, Paulo recomendou-lhe seu pequeno rebanho, dizendo-lhe que o deixava sob a proteção da Ordem de São Domingos, cumulada de tantos favores pela SS. Virgem.
Pediu-lhe autorização para erigir, nos nossos noviciados, a confraria do santo Rosário, e faculdade ao Mestre de Noviços de inscrever na mencionada confraria todos os religiosos, que almejassem usufruir desse privilégio. O pe. Boxadors concedeu-lhe de boa mente o favor solicitado e Paulo regozijou-se no Senhor por enriquecer a Congregação de tão precioso tesouro. O mal aumentava. O servo de Deus, sempre tranqüilo, esperava pela morte. Imagem viva do Redentor, o corpo era-lhe uma chaga. Nenhuma posição lhe mitigava as dores. Sentia sede devoradora e a água aumentava-lhe as dores! Dizia, às vezes:
“Parece que me arrancam a alma; não há em todo o meu corpo um espaço de quatro dedos isento de dor”. E não se lamentava! Que paz e serenidade inalteráveis! Alçava, de vez em quando, os olhos ao céu, juntava as mãos, e exclamava:
“Bendito seja Deus!”
ou patenteava por gestos que adorava a ss. Vontade de Deus. O pe. João Maria de Santo Inácio, seu confessor, disse-lhe certa vez: “Jesus deseja fazê-lo morrer crucificado como Ele”. Manifestou o santo enfermo, pela expressão do rosto, que folgava imensamente em estar pregado à Cruz do seu Senhor. Fitava amiúde Jesus Crucificado e a Virgem das Dores, haurindo força e alegria para o derradeiro sacrifício. Passavam os dias e as noites, e ele sempre a sofrer. Era verdadeiro milagre como um homem tão extenuado de forças pudesse viver sem alimento algum.
Temiam os religiosos vê-lo entrar de um momento a outro em agonia, mas Paulo lhes assegurava que a hora do trespasse ainda não chegara. O pe. João Maria devia pregar missão em Tolfa; temendo, todavia, que o Santo morresse em sua ausência, diferia a partida de um dia para outro. Paulo, antepondo a glória de Deus e a salvação das almas à própria consolação, disse-lhe: “Vá, vá tranqüilo, pois não morrerei tão logo”.
Animado sempre do espírito apostólico, acrescentou: “Ao passar flor Rota, incentive aqueles bons habitantes a assistirem a missão”.
O missionário, após pedir-lhe a bênção, beijou-lhe a mão. Paulo, por sua vez, osculou a mão desse filho que tão bem o assistia nos caminhos espirituais. D. Struzzieri, antigo filho do venerável Fundador, então bispo de Amélia, escreveu-lhe pedindo o esperasse em Roma no ia 18 de outubro. Referiu-lhe o secretário as palavras e o desejo do Prelado. O Servo de Deus respondeu sorrindo: “Sim, responda-lhe que o esperarei”.
No entanto extinguia-se-lhe a voz e as forças se lhe diminuíam de dia a dia. Sentindo aproximar-se o último combate, solicitou o sacramento da Extrema-Unção, escolhendo para ato tão comovente festa da Maternidade divina de Maria, segundo domingo de outubro. No sábado, 7 do mesmo mês, confessou-se com o pe. João faria, que já voltara da missão. Domingo de manhã, recebeu m Viático Aquele que é a Ressurreição e a Vida. “Em seguida, para melhor compenetrar-se da graça da Extrema Unção, mandou chamar a um de seus padres, narra o piedoso biógrafo do Santo, pedindo-lhe expusesse os efeitos deste grande sacramento. Ele, que com tanta competência podia ensinar a outrem, quis por humildade ser instruído?”.
O religioso que teve essa honra é o mesmo que nos oculta o nome: SÃO VICENTE: MARIA STRAMBI, então lente de Teologia em Santos João e Paulo, mais tarde Bispo de Macerata Tolentino. Um santo a doutrinar a outro santo! Terminadas as vésperas, dirigiram-se os religiosos à cela do enfermo Com as mãos postas, profundamente recolhido, seguia as orações rituais, enquanto dos olhos deslizavam-lhe doces lágrimas. Os religiosos, à imitação do pai moribundo, rezavam e choravam. Terminada a cerimônia, chegou d. Marcucci, vice-gerente, perguntando pela saúde do pe. Paulo. “Ah! Expia., respondeu chorando o religioso, é a última vez que vereis ao nosso pai, pois está tão acabado, que pouco lhe resta de vida”. Encaminhou-se o snr. bispo para a cela do servo de Deus. A vista daquele rosto, em que se associavam as sombras da morte e os primeiros resplendores do Céu, comoveu-se profundamente, não pronunciando uma palavra sequer. Colho o santo se esforçasse por pedir-lhe a bênção, d. Marcucci, dizendo-lhe que se não fatigasse, lançou-se de joelhos aos pés da cama, rezou três ave-marias e pronunciou em voz alta as seguintes palavras: “Que Jesus e Maria, nossa Mãe, nos abençoem…” Dir-se-ia não atrever-se abençoar a um santo com a fórmula ordinária dos bispos.
Pode dizer-se que Paulo estava em contínua agonia. Todavia, oito dias depois, com admiração geral, conseguiu escrever de próprio punho uma carta à virgem de Cervéteri. Dava-lhe alguns conselhos e dizia que a esperava no Céu, para onde iria daí a dois dias. Rosa Calabresi depõe: “Estávamos já bem adiantados no mês de outubro de 1775, quando recebi uma carta do Ven. Servo de Deus…, a última que recebi. Estava escrita toda de sua mão. Os pensamentos davam a conhecer uma mente clara e uma alma virtuosa. A escrita, porém, indicava a fraqueza das forças, pois as letras não estavam traçadas como de costume e as linhas começavam no alto e iam terminar quase na metade da página. Dava-me diversas recomendações…, a última bênção… (dizendo que) dentro de dois dias teria morrido…, concluía que tornaríamos a nos ver no céu”.
No dia de são Lucas (18 de outubro), de quem era devotadíssimo, recusou a poção de pão dissolvido em água, desejando comungar em jejum. Foi sua última Comunhão. De ora em diante só vive para o Céu. Quer deixar a terra num ósculo de amor. Pediu não permitissem entrar na cela pessoa estranha, pois os derradeiros instantes de vida deveriam pertencer exclusivamente a N. Senhor e aos seus filhos.
Apesar da proibição, os religiosos abriram exceção ao bispo…, a um religioso Camaldulense do Convento de São Gregório e a um senhor de Ravena. O Santo, sempre bondoso, acolheu-os, presenteando-os com pequeno Crucifixo, exortando-os, por sinais a meditarem perenemente a sagrada Paixão de Nosso Senhor. Enternecidos até as lágrimas, exclamaram ao retirar-se: “Ah! na verdade vê-se a santidade estampada em seu rosto! Oh! como são ditosos, estes padres, pois têm por pai a um santo! Sim, Paulo é grande santo!”. Pouco antes do meio dia, chega d. Struzzieri. Desce do carro e corre à cela do amado pai, toma-lhe a mão e cobre-a de beijos. O moribundo reanima-se ao rever o querido filho. Sorri, descobre a cabeça em sinal de respeito ao Prelado e deseja também beijar-lhe a mão, mas o snr. bispo retira-a imediatamente. Após afetuosas palavras, disse Paulo ao enfermeiro “Diga ao pe. Reitor que trate bem ao snr. bispo e aos seus domésticos, fazendo-os servir pelos religiosos”. Cumprira a palavra, esperando o snr. bispo. Agora, ciente de que lhe chegara a última hora, pediu ao enfermeiro o ajudasse a mudar de posição, para poder fitar as imagens de Jesus Crucificado e da Mãe das Dores. Nessa posição permaneceu até a morte. Pouco depois, sentindo calafrios, disse ao enfermeiro “Chame o pe. João Maria porque minha morte está próxima”. Respondeu-lhe este que não via perigo iminente de morte, tanto mais que o médico, horas antes, o achara melhor. “Chamem, chamem o pe. João Maria para auxiliar-me”, insiste o Santo. Estavam os religiosos no coro cantando vésperas. O irmão, não julgando iminente o desenlace, sentou-se junto ao leito do servo de Deus e perguntou-lhe: “Meu padre, por ventura não aceita de boa vontade a morte para cumprir a SS. Vontade de Deus?” Respondeu o moribundo com voz forte “Sim, morro de muito boa mente para cumprir a SS. Vontade de Deus”. “Coragem, pois, acrescentou o enfermeiro; confie em N. Senhor”. Estendeu Paulo os braços às queridas imagens e disse com admirável ternura “Ali estão minhas esperanças, na Paixão de Jesus e nas Dores de minha Mãe Maria….”
O CÉU RECEBE MAIS UM SANTO
Terminadas as vésperas, chamou o enfermeiro ao pe. João Batista de São Vicente Ferrer, primeiro Consultor. Paulo, apenas o vê, exclama:“Auxiliem-me, porque vou morrer”,e entrou em doce agonia.
Pressurosa a comunidade acorreu à cela do pai moribundo. Estão todos de joelhos, a orar. O pe. Reitor encomenda-lhe a alma. Os religiosos e mons. Frattini respondem às orações da Igreja. O primeiro Consultor, por delegação especial do Santo Padre, dava ao moribundo, com a bênção apostólica, a indulgência plenária em artigo de morte, bem como as indulgências do Rosário e do Carmo. O pe. João Maria absolveu-o novamente, atendendo ao pedido do Santo. Excitava-o d. Struzzieri a vivos sentimentos de fé, esperança e caridade. Leu-se em seguida a Paixão de Jesus Cristo segundo São João. Esta leitura pareceu reanimar o enfermo. Percebia-se que hauria, desse manancial de salvação, paz, consolo e amor. Seus olhares fitavam ora a imagem de Jesus Crucificado, ora a de Nossa Senhora das Dores. Manifestara o desejo de morrer sobre palhas, com uma corda ao pescoço, coroa de espinhos na cabeça, revestido do santo hábito com o distintivo da Paixão no peito. Satisfizeram-lhe em parte o desejo. O pe. João Maria, ao estender sobre ele a santa túnica e ao colocar-lhe ao pescoço uma corda, disse-lhe:
“Alegre-se, pois lhe é dado morrer na cinza e no cilício…”. De repente, entra o moribundo em doce êxtase. Que expressão de felicidade! Os lábios se entreabrem em celestial sorriso, os olhos estão fixos no Céu, os braços estendidos. Com repetidos sinais das mãos, parece pedir aos presentes deixem passagem livre a misteriosas pessoas que se aproximam.Foi opinião geral que fruía celestial visão.
E não se enganaram, pois, após a morte, apareceu glorioso a uma alma santa, revelando-lhe que naquele instante baixaram à sua cela, circundados de resplandecente luz, o divino Redentor, a 88. Virgem, o Apóstolo são Paulo, são Lucas, são Pedro de Alcântara, o pe. João Batista, seu irmão, e todos os seus religiosos que o precederam na Glória, seguidos de inúmeras almas por ele convertidas nas santas missões. O Santo já gozava dos primeiros albores da eterna bem-aventurança! Deixou cair os braços e cerrou os olhos. “Pe. Paulo, bradou o bispo de Amélia, lembrai-vos no Céu da pobre Congregação e de todos nós, pobres filhos vossos”.E o pai amoroso com sinais dá a entender que o fará… Eram cerca de dezesseis horas de quarta-feira, 18 de outubro de 1775. O nosso Santo contava 81 anos, nove meses e quinze dia”.
LÁGRIMAS DE JÚBILO
Os religiosos, quais órfãos, agruparam-se, chorando, ao redor do santo corpo. Beijavam aquelas mãos que tanto os abençoaram, poisavam as cabeças naquele peito, que ardeu de amor a Deus N. Senhor, esperando alcançar por esse contato sagrado a plenitude do espírito que deve animar aos filhos da Paixão.
De repente, por um desses sentimentos instintivos ou divinos, fenômeno que se dá unicamente na morte dos santos, a dor cede lugar à alegria, as lágrimas à doce e celestial consolação. Será, por ventura, um raio secreto da felicidade dos bem-aventurados, que baixa do Céu às almas, reverberando-se no mortal sepulcro? Frattini e os demais testemunhas dessa morte ou, melhor, deste triunfo, exclamavam, jubilosos: “Tivemos a felicidade de ver como morrem os santos…”.
APARECE GLORIOSO
Numerosos prodígios anunciaram à terra que o céu contava mais um santo. Aquele que gravara no coração as chagas de Jesus Crucificado devia revestir-se dos traços de Jesus glorioso. Depois de sua morte, apareceu Nosso Senhor às santas mulheres e aos apóstolos. Paulo também apareceu a algumas almas santas. No instante em que o nosso santo deixava o mundo para entrar na eternidade, sua penitente Rosa Calabresi rezava, em Cervéteri, retirada em seu quarto. Eis que de repente o aposento se ilumina com extraordinária luz, nomeio da qual, elevada no ar, vê uma pessoa revestida de paramentos sacerdotais e tão resplandescente que não podia fitá-la.Por três vezes a visão a chama pelo nome: “ Rosa! ”
Mas a jovem,… não respondia. Então ouviu distintamente estas palavras: “ Eu sou o pe. Paulo. Vim trazer-te a notícia de que faleci há pouco e agora vou para o céu para gozar de Deus… adeus até o céu! ”
Rogou-lhe Rosa pedisse a Deus para que ela também se tornasse digna de ir gozá-lo no céu. E a visão desapareceu.Na manhã seguinte eis que chega uma carta do pe. Inácio, seu novo diretor, na qual este lhe notifica o feliz trânsito do nosso padre. Em vista do que já vira, nenhuma tristeza experi- mentou a boa moça. Já era inútil rezar por ele; todavia, para manter a promessa que lhe fizera nas conferências espirituais, correu à igreja e começou a via sacra. Chegando à terceira estação, vê uma grande luz e, no meio dela, o servo de Deus, não vestido de passionista, mas de lindo manto branco e vermelho, cercado e cortejado por grande multidão de anjos ” .
Admirada por vê-lo vestido daquela maneira, perguntou-lhe o que significava aquilo. E o santo diretor: “ Isto é o símbolo de minha ilibada pureza e de minha ardente caridade, virtudes que tanto amei e pratiquei durante minha vida, e de meu martírio pela penitência e pelo sofrimento ” . Dizendo-lhe que aplicasse aquela via sacra pelas almas do purgatório, deixou-a, depois de lhe dirigir estas textuais palavras: “ Adeus, filha! Espero-a no céu para ver a Deus, para louvar a Deus, para possuir a Deus por toda a eternidade ”
Fonte:Vida de São Paulo da Cruz.Autor:Pe. Luis Teresa de Jesus Agonizante

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Mensagens do Céu para você.
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