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SANTA FRANCISCA ROMANA - VIDA E OBRA

Biografia da vida de Santa Francisca Romana


O Divino Salvador instituiu Sua Igreja sobre alicerces bem seguros: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Mas, ao longo da História, as forças infernais não deixaram de investir contra essa rocha inabalável.
Uma dessas investidas teve início com as agitações políticas e sociais que forçaram o Papa Clemente V a transferir, em 1309, a sede do Papado para a cidade francesa de Avignon, onde os sucessores de Pedro permaneceram até 1376. Foi um longo período de conturbações que culminaram no Grande Cisma do Ocidente (1378-1417).
A eclosão do Cisma veio agravar ainda mais a situação, a ponto de a Cidade Eterna ficar reduzida a uma situação de miséria, açoitada por guerras, carestia e pestes. Nesse contexto, destacou-se como luminoso anjo da caridade uma jovem dama da alta nobreza: Santa Francisca Romana, a qual, por sua prodigiosa atividade em favor dos pobres e doentes, conquistou o honroso título de Advocata Urbis(Advogada da Cidade).

Piedade precoce
Nascida em 1384, Francisca pertencia a uma rica família de patrícios romanos. Seus pais, Paulo Bussa de Leoni e Jacovella de Broffedeschi, proporcionaram-lhe uma primorosa educação cristã. Desde a mais tenra idade, acompanhava a mãe nas práticas de piedade, como abstinências, orações, leituras espirituais e visitas a igrejas onde pudessem lucrar indulgências.
Frequentava muito a Basílica de Santa Maria Nova, a preferida de sua mãe, confiada aos monges beneditinos de Monte Olivetto. Ali, Francisca começou a receber, ainda criança, direção espiritual de Frei Antonio di Monte Savello, com quem se confessava todas as quartas-feiras.
Aos onze anos, manifestou o desejo de consagrar-se a Deus pelo voto de virgindade. Sua inclinação para a vida monástica se fez notar quando — a conselho do diretor espiritual, para provar a autenticidade de sua vocação — começou a praticar em casa algumas austeridades próprias a certas ordens religiosas femininas. Seu pai, porém, opôs-se a esses infantis projetos, pois ela estava já prometida em casamento a Lourenço Ponziani, jovem de nobre família, bom caráter e grande fortuna.
Esposa exemplar
Francisca foi sempre esposa exemplar. Por desejo do marido, apresentava-se em público com a categoria de dama romana, usando belas jóias e suntuosos trajes. Mas debaixo deles vestia uma tosca túnica de tecido ordinário. Dedicava à oração suas horas livres, e nunca negligenciava as práticas de vida interior. Transformou em oratório um salão do palácio e aí passava longas horas de vigília noturna, acompanhada por Vanozza. Era objeto de mofa das pessoas mundanas, mas sua família a considerava um “anjo da paz”.1

Os desígnios da Providência
Três anos após seu casamento, contraiu uma grave enfermidade que se prolongou por doze meses, deixando temerosos todos os membros da família. Francisca, porém, não temia, pois colocara sua vida nas mãos de Deus, com inteira resignação. Nesse período de prova, por duas vezes apareceu-lhe Santo Aleixo. Na primeira, perguntou-lhe se queria curar-se, e na segunda comunicou-lhe que “Deus queria que permanecesse neste mundo para glorificar seu nome”.2 Colocando então seu manto dourado sobre ela, restituiu-lhe a saúde.
Essa enfermidade, contudo, a fizera meditar profundamente sobre os planos da Providência a seu respeito. E uma vez restabelecida, decidiu, com Vanozza, levar uma vida mais conforme ao Evangelho, renunciando às diversões inúteis e dedicando mais tempo à oração e às obras de caridade.
Proteção do Anjo, ataques do demônio
Foi nessa época que Deus enviou-lhe um Anjo especial para guiá-la na via da purificação. Ela não o via, mas ele estava constantemente a seu lado e se manifestava por meio de sinais claros. Além de amigo e conselheiro, era vigilante admoestador, que a castigava quando ela cometia qualquer pequena falta. Certa vez em que Francisca, por respeito humano, não interrompeu uma conversa superficial e frívola, ele aplicou-lhe na face um golpe tão forte que deixou sua marca por vários dias e foi ouvido na sala inteira!
O demônio empreendia todo tipo de esforços para perturbar a vida e, sobretudo, impedir a santificação de Francisca. Como a Santa sempre triunfava de suas tentações, ele recorria com frequência a ataques diretos. Assim, em certa ocasião ela e Vanozza retornavam da Basílica de São Pedro e decidiram tomar um atalho, pois já era tarde. Chegando à margem do Tibre, inclinaram-se para tomar um pouco de água. Empurrada por uma força invisível, Francisca caiu no rio. Vanozza lançou-se para salvá-la e foi também arrastada pela correnteza. Sentindo em perigo suas vidas, recorreram a Deus e no mesmo instante se viram de novo na margem, sãs e salvas.
Modelo de mãe e de dona de casa
Quando em 1400 nasceu seu primeiro filho, João Batista, não duvidou em deixar algumas de suas mortificações e exercícios piedosos, para melhor cuidar do menino. Ao carinho materno, unia a firmeza da boa educadora, corrigindo-o em suas infantis manifestações de teimosia, obstinação e cólera, sem nunca ceder às suas lágrimas de impaciência. Foi modelo de mãe igualmente para João Evangelista e Inês, que nasceram alguns anos depois.
Seu Anjo ajudou-a a levar sua vida matrimonial com amor e dedicação, tanto para o esposo quanto para os filhos. Cumpria com perfeição seu ofício de dona de casa, compreendendo que os sacrifícios impostos pelas tarefas cotidianas fazem parte da purificação necessária nesta vida e têm prioridade sobre as mortificações particulares. Desempenhou-se de tal maneira que, em 1401, quando faleceu a esposa do velho Ponziani, seu sogro, este incumbiu-a do governo do palácio. Nessa função, a jovem senhora demonstrou grande capacidade, inteligência e, sobretudo, bondade.
Organizou os trabalhos da numerosa criadagem de modo a todos terem tempo de cumprir seus deveres religiosos. Assistia-os em suas necessidades materiais e os incentivava a levar uma vida verdadeiramente cristã. Quando algum deles adoecia, Francisca se fazia de enfermeira, mãe e irmã. E se a enfermidade acarretava perigo de vida, ela mesma ia buscar a assistência espiritual de um sacerdote, a qualquer hora do dia ou da noite.
Prodígios realizados em vida
Por volta de 1413, a fome se abateu sobre Roma. O sogro de Francisca alarmou-se ao ver que ela conti­nuava muito generosa em ajudar os necessitados… distribuindo-lhes parte das provisões que ele reservara para sustento da família, e proibiu-a de fazê-lo. Não podendo mais a caridosa dama dispor daqueles víveres para socorrer os famintos, começou a pedir esmolas para eles. E certo dia, tomada de súbita inspiração, foi com Vanozza a um celeiro vazio do palácio para procurar o que pudesse ter restado de trigo no meio da palha. À custa de paciente trabalho, conseguiram recolher alguns poucos quilos do desejado grão. Coisa admirável: logo após a saída das duas, Lourenço, seu esposo, entrou no celeiro e lá encontrou 40 sacos contendo, cada um, 100 quilos de trigo dourado e maduro!
Idêntico prodígio se deu na mesma época: querendo levar aos pobres um pouco de vinho, Francisca recolheu a escassa quantidade que restava no fundo de um tonel e no mesmo instante este encheu-se milagrosamente de um excelente vinho.
Esses prodigiosos fatos muito contribuíram para suscitar em Lourenço um temor reverencial e amoroso por sua esposa. Em consequência, ele lhe deu liberdade de dispor de seu tempo para suas obras apostólicas e lhe permitiu trocar seus belos trajes e joias — os quais ela apressou-se a vender para distribuir aos pobres o dinheiro — por roupas simples e pouco vistosas.
Guerras e provações
Muitas provações ainda a aguardavam. A situação política da Península Itálica e a crise decorrente do Grande Cisma do Ocidente acarretaram-lhe muitos sofrimentos. Roma estava dividida em dois grupos que travavam encarniçada guerra: a favor do Papa, os Orsini, de cuja facção Lourenço fazia parte; de outro lado, os Colonna, apoiando Ladislau Durazzo, rei de Nápoles, que invadiu Roma três vezes. Na primeira invasão, Lourenço foi gravemente ferido em combate, sendo curado pela fé e dedicação da esposa. Na segunda, em 1410, as tropas saquearam o palácio dos Ponziani, e os bens da família foram confiscados. Pior ainda, Francisca viu seu esposo e seu filho Batista partirem para o exílio.
Em 1413 e 1414, a capital da Cristandade ficou entregue à pilhagem e reduzida à miséria. Um novo flagelo, a peste, veio agravar essa situação. A Santa transformou o palácio em hospital e cuidava pessoalmente das vítimas da terrível doença. Era um anjo da caridade naquela infeliz cidade assolada pelo infortúnio.
Sua própria família não ficou imune a essa tragédia: em 1413 morreu Evangelista, seu filho mais novo, e no ano seguinte a pequena Inês. Por fim, ela também contraiu a doença, mas foi milagrosamente curada por Deus.
Visões e dons sobrenaturais
Ainda em 1413, apareceu-lhe seu filho falecido havia pouco, tendo a seu lado um jovem do mesmo tamanho, parecendo ser da mesma idade, mas muito mais belo.
— És realmente tu, filho do meu coração? — perguntou ela.
Ele respondeu que estava no Céu, junto com aquele esplendoroso Arcanjo que o Senhor lhe enviava para auxiliá-la em sua peregrinação terrestre.
— Dia e noite o verás ao teu lado e ele te assistirá em tudo — acrescentou.
Aquele Espírito celestial irradiava uma tal luz que Francisca podia ler ou trabalhar à noite, sem dificuldade alguma, como se fosse dia. E lhe iluminava o caminho quando precisava sair à noite.
Na luz desse Arcanjo, ela podia ver os pensamentos mais íntimos dos corações. Recebeu, ademais, o dom do discernimento dos espíritos e o de conselho, os quais usava para converter os pecadores e reconduzir os desviados ao bom caminho.
Deus a favoreceu com numerosas outras visões. As mais impressionantes foram as do inferno. Viu em pormenores os suplícios pelos quais são punidos os condenados, de acordo com os pecados cometidos. Observou a organização hierárquica dos demônios e as funções de cada um na obra de perdição das almas, uma paródia da hierarquia dos Coros Angélicos. Lúcifer é o rei do orgulho e o chefe de todos. Viu ainda como os atos de virtude praticados pelos bons atormentam essas miseráveis criaturas e prejudicam sua ação na terra.
Vida de apostolado
Tendo falecido o rei Ladislau, restabeleceu-se a paz na Cidade Eterna, seu esposo e seu filho Batista regressaram do exílio, e a família Ponziani recuperou os bens injustamente confiscados.
Por meio de orações e boas palavras, a Santa conseguiu convencer Lourenço a reconciliar-se com seus inimigos e a entregar-se a uma vida de perfeição. E após o casamento do filho, entregou à nora — convertida por ela — o governo do palácio para dedicar-se inteiramente às obras de caridade e de apostolado.
Lourenço deixou-a livre para fundar uma associação de religiosas seculares, com a condição de continuar vivendo no lar e não parar de guiá-lo no caminho da santidade. Orientada por seu diretor espiritual, fundou uma sociedade denominada Oblatas da Santíssima Virgem, segundo o modelo dos beneditinos de Monte Olivetto. Em 15 de agosto de 1425, Francisca e outras nove damas fizeram sua oblação a Deus e a Maria Santíssima, mas sem emitir votos solenes. Vivia cada qual em sua casa, seguindo os conselhos evangélicos, e se reuniam na igreja de Santa Maria Nova para ouvir as palavras de sua fundadora, que para elas era guia e modelo a imitar.
Alguns anos depois, ela recebeu a inspiração de transformar essa sociedade em congregação religiosa. Adquiriu o imóvel de nome Tor de’ Specchi e, em março de 1433, dez Oblatas de Maria foram revestidas do hábito e ali se estabeleceram, em regime de vida comunitária. Em julho desse mesmo ano, o Papa Eugenio IV erigiu a Congregação das Oblatas da Santíssima Virgem, nome mudado posteriormente para Congregação das Oblatas de Santa Francisca Romana. Era uma instituição nova e original para seu tempo: religiosas sem votos, sem clausura, mas de vida austera e dedicadas a um genuíno apostolado social.
Comprometida como estava pelo matrimônio, somente depois da morte do esposo, em 1436, Francisca pôde afinal realizar o maior desejo de sua vida: fazer-se religiosa. Entrou como mera postulante na congregação por ela fundada. Mas foi obrigada — pelo capítulo da comunidade e pelo diretor espiritual — a aceitar os encargos de superiora e fundadora.
Viu o Céu aberto e os Anjos vindos para buscá-la
Viveu no convento apenas três anos. Em 1440, viu-se forçada a retornar ao palácio Ponziani para cuidar de seu filho, gravemente enfermo. Atingida por uma forte pleurisia, ali permaneceu, por não ter mais forças. Soube então que havia chegado seu derradeiro momento. Padeceu terrivelmente durante uma semana, mas pôde dar seus últimos conselhos às suas filhas espirituais e despedir-se delas.
No dia 9 de março, depois de agradecer a seu diretor, o Padre Giovanni, em seu nome e no da comunidade, quis rezar as Vésperas do Ofício da Santíssima Virgem. Com os olhos muito brilhantes, dizia estar vendo o Céu aberto e haverem chegado os Anjos para buscá-la. Com um sorriso iluminando-lhe a face, sua alma deixou esta Terra.
Ao elevá-la às honras dos altares, em maio de 1608, o Papa Paulo V qualificou-a de “a mais romana de todas as Santas”.3 E o Cardeal São Roberto Belarmino, que contribuíra decisivamente, com seu voto, para a canonização, declarou no Consistório: “A proclamação da santidade de Francisca será de admirável proveito para classes muito diferentes de pessoas: as virgens, as mulheres casadas, as viúvas e as religiosas”.4
Quatro séculos depois, o Cardeal Angelo Sodano traçava dela este quadro: “Lendo sua vida, parece que nos deparamos com uma daquelas mulheres fortes, das quais estão repletos os Livros Sagrados e as páginas da História da Igreja. […]Mulher de ação, Francisca hauria, contudo, de uma intensa vida de oração a força necessária para seu apostolado social”.5
Precioso conselho para todos nós: é “de uma intensa vida de oração” que nos vem a força para levar avante nossas obras de apostolado. ²
1 SUÁREZ, OSB, Pe. Luis M. Pérez. Santa Francisca RomanaIn: ECHEVERRÍA, L.; LLORCA, B. e BETES, J. (Org.). Año Cristiano. Madrid: BAC, 2003. p. 173.
2 Idem, ibidem.
3 Tor de’Specchi, Monastero delle Oblate di S. Francesca Romana – Venerazione e culto. Disponível em: . Acesso em: 14/01/2009.
4 SUÁREZ, OSB, Op. cit., p. 185.
5 SODANO, Card. Angelo. Homilia por ocasião da festa de Santa Francisca Romana, 05/03/2005. Disponível em: . Acesso em: 14/01/2009.

Santidade em todos os estados de vida

Esta santa foi exemplo de donzela católica, esposa, mãe, viúva, religiosa, e um prodígio de graça e santidade. Ainda em vida teve desvendados mistérios de além-túmulo, sendo favorecida por visões do Inferno, Purgatório e Céu, bem como pela presença visível de seu Anjo da Guarda. Recebeu também a proteção de um Arcanjo, e depois de uma Potestade.
Francisca, nascida em 1384 de uma alta família do patriciado romano, recebeu a formação católica da mãe, mas foi dirigida nas vias da santidade pelo Divino Espírito Santo. De pureza virginal, não pensava senão em consagrar-se inteiramente a Deus. Aos 12 anos fez voto de ser religiosa. Mas não era esse o desígnio de Deus, pelo menos naquele momento. E assim, aconselhada pelo diretor espiritual, teve que aceitar o matrimônio proposto por seu pai com o jovem Lourenço Ponziani, também de alta estirpe e boa disposição para a virtude.
Apesar de sua pouca idade, a jovem esposa empenhou-se em estudar o gênio do marido, para com ele viver em perfeita harmonia conjugal. E o fez tão bem que, durante os 40 anos que durou seu casamento, jamais houve o menor desentendimento entre esposo e esposa.
Casando-se, Francisca foi morar no palácio do marido. Lá encontrou um tesouro na pessoa de sua cunhada Vanossa, predisposta a secundá-la em tudo, na linha da virtude e do bem. As duas passaram a visitar os pobres, assistir os doentes e praticar toda espécie de obras de misericórdia. Para tal, os respectivos maridos, reconhecendo os méritos e alta virtude das esposas, davam-lhes inteira liberdade de ação.
Assim, um dia Roma estupefata viu Francisca, a grande dama da aristocracia, arrastando pelas ruas principais da cidade um asno carregado de lenha, e ainda com um feixe sobre a cabeça, que ia distribuindo aos pobres. Também foi vista às portas das igrejas junto aos pobres, mendigando com eles para socorrer os que estavam impossibilitados de fazê-lo. Num ano de muita carestia, Francisca e Vanossa foram de porta em porta pedir esmolas para os pobres. Muitos se escandalizavam em ver duas matronas da aristocracia praticando tão modesta tarefa. Outros, pelo contrário, edificavam-se com tanta humildade e juntavam-se a elas.
Ela converteu várias mulheres perdidas; porém, a algumas que não quiseram fazer penitência e emendar-se, empenhou-se para que fossem expulsas de Roma ou de asilos a que se tinham retirado, para que não pervertessem outras.
Formando os filhos para o Céu
Sabendo que os filhos são dados para preencher os tronos tornados vazios no Céu pela queda dos demônios, Francisca os pediu a Deus. E teve três. Ao primeiro deu como patrono São João Batista, ao segundo São João Evangelista, e à terceira, uma menina, Santa Inês.
Cuidando ela mesma de sua educação, preparou-os antes para a vida que não tem fim. Assim João Evangelista, que viveu apenas nove anos, progrediu tanto na virtude, que chegou a ter o dom da profecia. No momento da morte, viu São João e Santo Onofre que vinham buscá-lo.
Tempos depois de morrer, apareceu à mãe todo resplandecente de glória, acompanhado por um jovem ainda mais brilhante, dizendo-lhe que, da parte de Deus, viria logo buscar sua irmãzinha Inês, então com cinco anos. E que Deus dava à mãe, para ajudá-la nas vicissitudes da vida, além de seu Anjo da Guarda, um Arcanjo para a proteger e iluminar no caminho da virtude.
Francisca passou a ter a presença radiante desse Arcanjo noite e dia, de modo tal que não precisava da luz material para seus afazeres, pois a do espírito celeste lhe bastava.
Estado de continência na vida conjugal
Como Santa Francisca viveu na tumultuada época em que Roma estava dividida em dois partidos _ o dos Orsini, que lutavam em favor do Papa, e em cujo serviço Lourenço tinha alto cargo, e o dos Colonas, que apoiavam Ladislau de Nápoles _, teve muito que sofrer. Seu marido foi gravemente ferido em uma das refregas e levado como prisioneiro, e seu filho como refém; teve também a casa saqueada, sendo despojada de seus bens. Como novo Jó, apenas repetia: “Deus me deu, Deus me tirou, bendito seja Ele”. Mais tarde, como o patriarca, teve seus familiares e bens restituídos.
Quando Lourenço foi gravemente ferido, Francisca tratou-o com todo amor e carinho. E aproveitou, quando este se restabeleceu, para persuadi-lo a viverem dali para a frente em perfeita continência. Ele acedeu contanto que ela não o abandonasse e continuasse dirigindo sua casa. Feliz, Francisca vendeu suas jóias e ricos vestidos, deu o dinheiro aos pobres e passou a andar com uma grosseira túnica sobre áspero cilício. Começou a tomar uma só refeição por dia, e ainda assim consistindo apenas em legumes insípidos. Aumentou as disciplinas e passou a dedicar mais tempo à oração.
Elaboração da Regra de sua Ordem: orientação de Apóstolos e grandes santos
Francisca via o perigo que corriam muitas damas de Roma entregues às frivolidades e futilidades de uma sociedade decadente, na qual já se podiam perceber os inícios funestos do Renascimento. Por isso orava e chorava diante de Deus, pedindo remédio para isso. Ouviu então uma voz que lhe dizia: “Vai, trabalha, reúne-as, infunde teu espírito e o espírito de Bento, o patriarca, espírito de paz, de oração e de trabalho” (1). A serva de Deus começou então a reunir viúvas e donzelas dispostas a viver no estado de perfeição. No princípio formou só uma associação de mulheres piedosas dedicadas ao culto da Mãe de Deus e ao trabalho da própria santificação. Mas depois, por inspiração de Deus, surgiram as “Oblatas de São Bento”. São Pedro, São Paulo, São Bento e Santa Maria Madalena apareceram-lhe diversas vezes, instruindo-a sobre os pontos da regra. “Ela a levou depois a uma tal perfeição, que se pode dizer que nela deixou a idéia mais perfeita da vida religiosa” (2).
Quando faleceu seu marido, Francisca encaminhou o futuro do filho que lhe restava, deixando-lhe toda sua herança, e pediu admissão na congregação que fundara. Por obediência a seu confessor, aceitou o cargo de superiora. E Deus bendisse seu sacrifício dando-lhe por companheiro mais um Anjo do coro das Potestades, cuja glória era muito mais esplendorosa ainda que a do Arcanjo. Era também muito maior seu poder contra os demônios, pois com um só olhar os afugentava (3).
Vítimas de violentos ataques
Se é verdade que a santa tinha contínuo comércio com os anjos, não é menos verdade que também o espírito infernal não lhe dava trégua, agredindo-a muitas vezes, até fisicamente. Assim, uma vez estava ela de joelhos junto a uma religiosa doente, quando o demônio a agarrou com fúria e a arrastou pelo quarto até a porta. Outra noite, estando ela em oração, tomou-a pelos cabelos e levou-a a um terraço, deixando-a pendurada sobre a via pública. Encomendou-se Francisca a Deus, e logo viu-se em sua cela.
Numa outra ocasião, Santa Francisca acendia uma vela benta. O espírito infernal pegou a vela, atirou-a ao solo e cuspiu em cima. A santa lhe perguntou por que profanava uma coisa santa. Ele respondeu: “Porque as bênçãos da Igreja me desagradam sobremaneira”.
Impressionantes visões do Inferno, Purgatório e Céu
Santa Francisca foi favorecida com muitas visões sobre a vida do além, tendo sido levada em espírito por seu Anjo ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso celeste. Depois de testemunhar os horrores do Inferno, foi levada ao Purgatório. Sobre este lugar de expiação, diz ela: “Nele não reina nem o horror, nem a desordem, nem o desespero, nem as trevas eternas [do inferno]; lá a esperança divina difunde sua luz. ” E lhe foi dito que esse lugar de purificação era também chamado de `pousada de esperança’. Ela lá viu almas que sofriam cruelmente, mas anjos as visitavam e assistiam em seus sofrimentos” (4).
Foi levada ao Paraíso celeste, onde compreendeu algo da essência de Deus.
A Paixão de Cristo era sua meditação ordinária, sendo que algumas vezes sentia fisicamente as dores padecidas por Cristo. Era grande devota da Sagrada Eucaristia, sobre a qual fazia longas meditações diante do Sacrário. Na véspera de Natal de 1433, Francisca teve a dita de receber em seus braços o Divino Menino Jesus.
Falecimento e elogio ímpar de Doutor da Igreja
Em 9 de março de 1440, conforme havia predito, a Santa entregou a alma a Deus. Contava 56 anos de idade, dos quais havia passado doze na casa paterna, quarenta no estado de matrimônio e quatro como religiosa.
Roma chorou e exaltou aquela ilustre filha. Milagres começaram a operar-se em seu túmulo.
“Quando, em 1606, estava em andamento o processo de canonização de Francisca, o Cardeal São Roberto Belarmino, Doutor da Igreja, juntou ao seu voto favorável uma declaração que consistiu num elevado elogio da extraordinária Santa. Afirmou que tendo ela vivido primeiro em virgindade, depois, uma série de anos, em casto matrimônio, tendo suportado os incômodos da viuvez, e tendo seguido finalmente a vida de perfeição no claustro, merecia tanto mais as honras dos altares quanto mais podia ser apresentada como modelo de virtude a todas as idades e todos os estados” (5).
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Notas
1 – Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo I, p.454.
2 – Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo III, p. 314.3 – Edelvives, El Santo de Cada Día, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoza, 1947, tomo II, p. 98.
4 – Pe. F. X. Shouppe, S.J., Purgatory _ Explained by the Lives and Legends of the Saints, TAN Books and Publishers, Inc., Rockford, Illinois, USA, 1973, p. 11.
5 – Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial Apostolado da Oração, Braga.

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