"Sór Maria da
Ascensão, quando recebia alguma afronta, corria logo ao altar do SS. Sacramento
e dizia: Meu divino Esposo, eu vos ofereço este mimo. Dignai-vos aceitá-lo e
perdoar a quem me ofendeu. Porque não havereis de fazer assim? É necessário
sofrer tudo para conservar a caridade. O Padre Alvares dizia que esta virtude é
fraca, enquanto não passou pelas provas dos maus tratos. É nestas ocasiões que
se conhece, se uma alma tem caridade. Quando alguém vos falar com cólera, vos
injuriar ou censurar de alguma coisa, respondei-lhe com doçura, e o vereis logo
aplacada, porque está escrito: Uma resposta branda detém e acalma a ira. Assim
como o fogo não pode ser extinto pelo fogo, nota S. João Crisóstomo, assim
também a ira não pode ser apaziguada pela ira. — Aquela pessoa vos fala com
ira; vós lhe respondeis com cólera: como quereis que se acalme?
Ainda que acendereis nela o furor, e
ofendereis ainda mais a caridade. — Eis o que Sofronio refere a este propósito:
Dois monges em viagem tendo errado o caminho, entraram, por acaso, em um campo
semeado. O camponês, guarda do território, ao vê-los andando naquele sítio, os
cobriu de injúrias. Eles, a princípio, calaram-se, mas vendo que o guarda se
enfurecia cada vez mais e engrossava as afrontas, disseram-lhe: Irmão, nós
erramos, nós fizemos mal. Por amor de Deus, perdoai-nos. Essa resposta tão
humilde o fez entrar em si, de modo que, por sua vez, se pôs a pedir perdão das
injúrias irrogadas; e se compungiu tanto, que deixou o mundo e se fez monge com
eles.
Se o vosso irmão chegar até a vos
fazer alguma injúria positiva, vingai-vos, como faziam os santos. Qual é a
vingança dos santos? Eis o que vos responde S. Paulino: Amar, louvar os que nos
fazem mal e prestar-lhes benefícios, eis a vingança dos santos.
A uma mulher que tinha atacado Sta.
Catarina em ponto de honra, a santa serviu como de escrava em uma longa
enfermidade. — Sto. Acaio vendeu seus bens para socorrer a quem tinha privado
da estima de que gozava. — Sto. Ambrósio estabeleceu uma pensão diária para que
pudesse viver comodamente, a um sicário que tinha atentado contra sua
vida.
Venustano, governador da Toscana, fez
cortar as mãos ao Bispo S. Sabino por causa da fé, mas, depois, sendo atacado
de uma grande dor nos olhos, lhe pediu que aplicasse algum remédio. O santo
orou pelo tirano, e alçando o braço ainda a gotejar sangue, o abençoou e lhe
alcançou de Deus a saúde do corpo e também a da alma, pois dai voltou a si e se
converteu.
De S. Melecio, patriarca de
Antioquia, narra S. João Crisóstomo que, vendo o povo armado de pedras para lapidar
o governador que o conduzia em seu carro ao exílio, se interpôs, o cobriu com
seus braços e assim o livrou da morte. O Padre Segneri conta um exemplo ainda
mais notável.
Diz ele que em Bolonha foi
assassinado o único filho de uma certa senhora de alta posição. O criminoso,
perseguido pela justiça, refugiou-se em casa da mãe desolada. E que fez esta?
Não contente de o ter escondido, lhe disse: Ora sus, já que perdi meu único
filho, de hoje em diante ocuparás o seu lugar e serás meu filho e meu herdeiro.
Toma, pois este dinheiro, e foge para outro lugar, porque aqui não estás
seguro
A vista destes exemplos talvez alguém
diga: Eles eram santos e eu não tenho força. Sto. Ambrósio responde por mim: Se
não tendes a virtude necessária, pedi a Deus e ele vo-la dará".
Retirado do Livro: A
Verdadeira Esposa de Cristo, por Santo Afonso de
Ligório.
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