I MORADA
CAPÍTULO I
1. Criados à imagem de Deus – alma: castelo de cristal com muitos aposentos. 2 - Rude seria se nada soubéssemos dos nossos pais, nem nisso nos ocupássemos. Assim também não cuidarmos quem somos, que m é Deus (tudo se vai na cerca deste castelo – corpo). 3 - No centro do Castelo, a morada principal: aí Deus pode-se-nos comunicar mais ou menos já nesta vida. 5- Como entrar no Castelo? 6 – Quem não ora assemelha-se a tetraplégico. 7 – Porta do Castelo: Oração e reflexão. Quem repete orações, sem pensar no que diz e a quem, não oração. 8 – Paralítico da piscina Probática. Algumas pessoas, à pressa, de vez em quando, pensam quem são e encomendam a Deus os seus negócios. Reconhecem que têm que mudar. Entram no rés do chão, mas com ela vai a bicharada, que a não deixa sossegar.
CAPÍTULO II
1. O cristal é para a luz. Se fumado, impede-a. É o que acontece a quem peca mortalmente: prefere o diabo a Deus. Tudo fica em trevas. 2 – Fonte cristalina deixa correr regatos cristalinos tal é a pessoa em graça: árvore plantada na fonte da vida, ao contrário do que está em pecado. 3 – Cristal tapado com pano negro não brilha ao sol. 5 – Fruto do dom de Deus: seu temor e humildade: todo o bem dela procede. 8 – Circular por todas as moradas, mas com conhecimento próprio e humildade. Estas percebem-se melhor, a partir da morada principal e não de onde anda bicharada, a primeira, que é do conhecimento próprio. 10 – Proximidade da luz faz ver melhor as trevas e entendimento e vontade enobrecem-se junto de Deus. 11 – Esta morada é muito importante e será para seguir, livrando-se da bicharada. Não convém prender-se a si, distorcendo o conhecimento, mas pôr os olhos em Cristo. Aí será humilde. 12 – Esta morada tem muitas secções. Entra-se de muitos modos, mas as artimanhas do mal são imensas, para que se não siga adiante. Precisa-se de toda a ajuda de Deus, Maria e Santos. 14 – Apesar de haver luz, como alguém que entra com terra nos olhos, não a pode ver. Esta são as coisas mundanas que traz consigo. Precisa de se libertar, para seguir adiante. 15 – O mal assedia, em quase todas as moradas, disfarçado em Anjo de luz. 16 – O falso zelo pode lesar a caridade. 17 – Perfeição: amor de deus e do próximo. Cada um olhar a si mesmo.
II MORADA
CAPÍTULO ÚNICO
2. Aqui as pessoas que oram ordinariamente e percebem o bem que é prosseguirem, sem ter deixados os negócios. É bem que se afastem da bicharada, nem que seja por pouco tempo. Sofrem muito, por ouvirem o chamamento, mesmo caindo em pecada (ao contrários da morada anterior que são como surdos-mudos). Sofrem, pela doçura da voz que chama. 3 – através de diversas mediações. Não devem desanimar, porque é dom e a paciência de Deus, imensa. Importa perseverar, apesar de tudo. 4 – Razão, fé, memória e vontade conjugam-se em mostrar que deve amar a quem ama sempre, mas sente vontade de voltar atrás. 5 – Que a maioria ignore isto e a pouca fé deitam tudo a perder. Parece que todo o inferno se une para fazer que retroceda. 6 – Vencerá mais rapidamente, se for determinada e se buscar a companhia dos que vão adiante. 7 – Alguns querem já recompensa com dons, é como quem constrói casa sobre a areia. Ruirá. Aqui há que agarrar-se à cruz, pois ela é que libertará. Se Deus der gozos, agradeça. 8 – Quem conformar a sua vontade com o querer de Deus estará mais seguro. 9 – Convém esforçar-se, pois Deus permite securas e talvez alguma queda, para que nos conheçamos e mostremos o nosso arrependimento. Não desanimar e buscar paz dentro de si. Lembrar-se que é pior recair do que cair. Confiar na misericórdia de Deus, que leva as almas de morada em morada. 10 – Tudo isto não se consegue à força de braços e convém tratar com pessoas experimentadas. 11 PORTA: ORAÇÃO. Não se pode chegar ao céu, sem se chegar a nós mesmos, conhecer-nos e implorar misericórdia. 12 – Jesus disse que Ele é o Caminho para o Pai. Por isso temos que olhá-lO e fazer obras que nos acreditem. Elas servem, unidas aos merecimentos de Cristo, pois o servo não é maior do que o Senhor.
III MORADAS
CAPÍTULO I
1. Se vencer a luta, o Senhor condu-lo à morada seguinte e adiante, se não voltar atrás. 2 – Não podemos depor as armas, pois não estamos em segurança. Muitos pecaram, depois de terem experimentado o Senhor. Não estamos seguros. 4 – FELIZ O QUE TEME O SENHOR. 5 – Aqui está quem evita todo o pecado, faz penitência, obras de caridade. Não basta querer como o jovem rico, mas também fazer. 6 – Determinadas a não pecar, "muitos querem entrar na câmara do Rei", sem o merecerem; creio isto falta de humildade. 7 – Sendo como o jovem rico, como queremos arrebatar o prémio? O Senhor prefere, contudo, às obras, a determinação da nossa vontade. 8 – Devemos determinar-nos a viver, deixando tudo, sem esperar troco: desprendimento e humildade. 9 – As securas devem trazer paz e humildade (muito mais do que os gostos, que são dados aos fracos).
CAPÍTULO II
1. Pessoas que servem ao Senhor e se deixam perturbar, sem perceber que é imperfeição. 6 – Importante exercitar-se nas virtudes, abandonar-se nas mãos de Deus e humildade. 7 – Aqui a vida é muito equilibrada em muitos aspectos. O amor é bem racionalizado. Podendo fazer uma viagem numa semana, como gastar um ano, com intempéries, perigos de quedas e morte, devido às serpentes venenosas? 8 – Ofendemo-nos com tudo, tudo é senso e cuidado de si. Falta humildade. Deveríamos querer que nos tenham pela mais ruim. 9 – Estamos cheios de nós e isso impede de ir adiante. O Senhor, como justo, compensa-nos com regalos superiores aos que deixamos, para incentivar que vamos avante. 10 – A perfeição não se identifica com gostos, mas com amor, justiça e verdade. 11 – Os dons e deleites de Deus trazem amor, fortaleza e virtudes. 12 – Conta muito, para quem aqui está, exercitar a prontidão na obediência. Contemplar os que voam leva-nos a querer imitá-los. Convém fugir das ocasiões de ofender a Deus, porque perto da porta e a fortaleza é pouca. 13 – Olhar para as próprias faltas, deixando as alheias.
IV MORADA
CAPÍTULO I
1. É uma morada muito bonita 2 – Já está mais perto do Rei. Não é preciso ter estado muito tempo na anterior. Deus dá-o a quem quer, quando quer e como quer. 3 – Raramente entra aqui a bicharada, mas se entra até deixa lucro, porque existe guerra e será bom que existam as tentações. 4 – Os contentamentos são efeito do próprio esforço virtuoso e ocorre naturalmente, donde chegam a Deus. 5 – Os gostos têm origem em Deus e envolvem a natureza, dilatando o coração. 6 – Se Deus o concedem, louvem-no e não o deixem para voltar à meditação. 7 – Mais que pensar, a questão é amar, portanto façam o que leve ao amor. O AMOR, diferente do nosso gosto, é DETERMINAÇÃO em contentar a Deus, evitar ofendê-lo e pedir-lhe a extensão do REINO de Cristo. 8 – A imaginação é louca, não faz parte das potências da alma, que se centram em Deus. 9 – Grandes danos por ignorância e não perguntar sobre as coisas da oração. 10 – Deixar a oração seria do agrado do mal. As potências (vontade e entendimento) estão centradas em Deus, enquanto a imaginação anda na cerda do castelo. A alma quieta em Deus, enquanto a cabeça está cheia de ruídos (do diabo) de toda a espécie. 11 – Eles vindos do mal, não devem perturbar-nos. 12 – O maior estorvo é pôr estorvo à obra que Deus quer fazer em nós. 14 – Saber causas: natureza, pecado, demónio, fraca imaginação, para não se culpar.
CAPÍTULO II
1. Consolos espirituais com efeitos corporais incontroláveis, mas deixam consolo. 2 – Gostos de Deus (oração de quietude (V.14,15; C.31). 3 – Alegoria das duas pias: uma recebe a água canalizada desde muito longe (contentos); a outra (gostos) vem directamente da fonte, dada por Deus, envolve o corpo e traz paz, quietação e suavidade. 5 – Se nem a nós nos entendemos, como pensamos entender a Deus? 6 – Essa água traz consigo bens indizíveis; como uma braseira, onde se lançam perfumes, que tudo penetram: o corpo participa. Isto não vem de nós, por muito que nos esforcemos. 7 – As obras devem mostrar os efeitos da oração. 10 – Condições: amar desinteressadamente; não é humilde quem achar que o pode ter merecido; preparação para eles: desejar sofrer com o senhor por O ter ofendido; Deus prometeu-nos o céu, depois da morte se cumprirmos (não gostos); não é efeito dos nossos esforços na oração. Se nos humilhamos e desapegamos, o Senhor no-la dará.
CAPÍTULO III
1. Precede-a a oração de recolhimento. 2 – Sentidos e potências, tendo saído, reconhecem a própria perdição e rondam o castelo. Um silvo do Pastor fá-los entrar. 3 – Esta oração, que sucede quando deus quer, é de grande ajuda. 4 – Convém reconhecer o dom e dar graças, pondo-se atentos ao que Deus quer. 5 – Nestas coisas do espírito, quem menos pensa e menos quer fazer, faz mais; implorar diante do Imperador e esperar de olhos baixos, humildemente; procurar calar, se perceber que nos escutou; Pedir e ficar na sua presença, pois Ele sabe o que nos convém. Suavidade, pois qualquer violência estorva. 7 – O esforço de não pensar leva-o a galopar. 8 – Esqueçamos os regalos e lembremos a honra e a glória do Senhor. Quando Deus quiser, o entendimento pára. Lembre-se que está diante de Deus e quem é este Deus (recolhimento). Nesta fonte o entendimento fica atontado, pelo que não convém fazer caso dele. 9 – Efeitos da oração de quietude: fonte que, ao nascer, se torna lago: Grande confiança em Deus, diferente do medo do inferno; sim de O ofender. Não teme perder a saúde com penitências, acha que tudo pode por Deus. Alguma vez até deseja sofrer e fazer algo por Deus. Conhece a própria miséria e desvaloriza os prazeres mundanos, face aos gostos de Deus. Cresce nas virtudes, caso não volte atrás. Na perseverança está todo o bem. 10 – Quem aqui chegar fuja das ocasiões de ofender a Deus (semelhante à criança de peito, que deixando de mamar, morre). O diabo faz muito mais com estas pessoas do que com outras, pois sempre levam outras consigo. 12 – As coisas de Deus não duram tanto tempo e ganha-se muita força interior. 15 – Aqui chegam muitas almas, mas também a natureza, pelo que o demónio pode fazer muito mal.
V MORADA
CAPÍTULO I
1. É difícil de dizer, pois são coisas do céu. Aqui entram bastantes. 2 – É graça de Deus chegar ao umbral. Entram a diferentes níveis. Poucas dispostas a achar a pedra preciosa. Não se falhe por culpa própria, pois é possível. 3 – Todos chegam, dando cem por cento do que são. Para chegar importa muito não ter nenhum descuido. Suplicar muito para que não nos falte por nossa culpa, mostre o caminho e dê graças para cavar até chegar ao tesouro, já que é possível. 4 – Deus porém, exige tudo: já se não sabe de nada, pois tudo está morto, para só ficar com Deus. É estar no corpo sem estar já nele. 5 – Nada de bicharada, por fina que seja, entra aqui. O demónio não ousa aproximar-se, pois Deus e alma estão unidos, sem que o entendamos. Deus pode agir, sem estorvo. 6 – É na medula que acontecem e em nada se assemelha às uniões carnais. 7 – Apresentará um argumento para que não haja engano. Mesmo sem experiência, os letrados sabem-no. 8 – Quem não acredita que Deus tem meios para se comunicar com as criaturas, não o gozará. Não ajuizar aqueles que o vivem. Louvar o Senhor. 9 – Sinal certo: Deus grava-se-lhe de tal modo, que não pode duvidar que Ele está ali. Porém a alma atontada, não o percebe, só posteriormente. 10 – É certeza que só Deus pode dar. Quem não ficar com a certeza é porque o não viveu. Teresa entendeu que Deus está em todas as coisas, em presença, essência e potência. 11 – Quem não possuir esta certeza é porque Deus não esteve de facto desse modo. Não procurar entender, pois o nosso entendimento não o capta. Saber que Deus é todo poderoso. 12 –Deus introduz a alma na adega e mete-se dentro dela. Só quer que se lhe renda a vontade. Os sentidos não estão activos, mas adormecidos. 13 – O Senhor pode introduzir-nos na adega. Nós não, por muito que façamos. Deus entra, como na Ressurreição, no centro da alma. 14 – Veremos muito, se apenas quisermos ver a nossa miséria e que de nada somos dignas.
CAPÍTULO II
1. Aqui só podemos dispor-nos, para que Deus possa operar. 2 – Alegoria do bicho da seda. Sementes, com o calor, nas folhas de amoreira, começam a viver e, crescidas, começam a tecer o casulo, onde se encerram e morrem como larvas, saindo uma bela borboleta branca. 3 – Lagarta morta por descuido e pecados, com sacramentos, leituras, sermões e meditações começa a viver, pelo calor do Espírito e cresce pelas boas meditações. 4 – Cresce e fabrica a seda e o casulo, que é Cristo, onde morrerá. 5 – Deus torna-se a nossa morada (oração de união). Deus é a morada fabricada tirando e acrescentando de nós, para nos metermos nela, podendo o Senhor juntar a sua grandeza ao nosso nada. 6 – Tecer o casulo é despojar-se: do amor e vontade próprios; desprender-se das coisas da terra; fazer obras de penitência, oração, mortificação e obediência. 7 – A lagarta que morre para o mundo, metamorfoseia-se numa borboleta branca, cujos efeitos são: louvar o Senhor - morreria mil mortes por Ele; padecer muitos trabalhos; desejar solidão e penitência, que todos conheçam a Deus e ter pena de que seja ofendido. Quem aqui chegou e se esforça verá grandes coisas. 8 – Com asas, pode voar. Por ter estado com Deus, não sabe onde pousar e o que fazia antes, agora é nada. Forte, cansa-se de negócios e parentes. O verdadeiro descanso não vem das criaturas. 9 - É dom de Deus que não pode repetir, por si. Muitos trabalhos, por não encontrar descanso nas coisas da terra. 10 – Tem cada vez mais trabalhos, embora com paz e contentamento. Nasce-lhe o desejo de sair deste mundo e único alívio é saber ser vontade de Deus que viva. Não está tão rendida para se conformar de todo. Tem pena das ofensas a Deus e dos infiéis, de que Deus não é amado. 11 – Há bem pouco apenas se preocupava consigo. A pena daqui sai das entranhas e como que despedaça a alma. Que filhos de Deus e irmãos seus se percam, consome muito. 12 – Deus ordenou-a na caridade, por isso rendeu-se-lhe e só quer que faça dela o que quiser, saindo dali, marcada com o selo (ela a cera). 13 – Para que a alma se conheça de Deus Ele dá-lhe o que deu a Jesus: zelo ardente. 14 – Quanto não sofreria Jesus, pois a sua vontade era a do Pai? Deveria sofrer mais antes, que na Paixão, quando se via o fim dele. Grande deleite em sofrer e padecer a vontade de Deus.
CAPÍTULO III
1. Avançar no conhecimento próprio e no serviço do Senhor. Se não torce os mandamentos, como a borboleta que saiu do casulo, deita sementes (dom para frutificar: dar calor), que viverão enquanto ela morre para sempre(grande dom do Senhor). 2 – Única segurança: não se afastar da lei de Deus, obedecer. 3 – Pode alcançar-se (mesmo a quem Deus não deu dom regalado), atando a própria vontade à de Deus (verdadeira união). 4 – Há penas que, como os contentos não chegam ao centro de nós. 5 – Para chegar aqui, é preciso que a lagarta morra à nossa custa, com muitos trabalhos, que são o preço da vitória. A união regalada ajuda e dá força. A verdadeira é bem à nossa custa, mas o prémio será maior. 6 – Muitas lagartas entram connosco no convento: amor próprio, própria estima, julgar os outros. Cumprindo o essencial para não pecar, nunca lá chegaremos. 7 – Sua vontade: que sejamos perfeitas, para sermos uma com o Pai. Para aí chegar, temos o dom: JESUS. Exige-se: AMOR DE DEUS e do PRÓXIMO. 8 – Ponto de partida: AMOR DO PRÓXIMO. 9 – O amor do próximo sai da raiz do amor de Deus. Esforcemo-nos nas obras, mesmo pequenas e deixemos uns desejos a monte que temos na oração. O demónio tudo fará para nos convencer que temos o que não temos. As virtudes fingidas trazem vanglória. 10 – O demónio tudo faz para nos enganar, já que somos ignorantes, nem distinguimos imaginação de potências. Essencial: AMOR AO PRÓXIMO. 11 – As muito encapotadas na oração evidenciam pouco entendimento, porque OBRAS QUER O SENHOR. Alegrar-se que louvem outros: HUMILDADE. Alegria em que se conheçam as virtudes das Irmãs e encobrir suas faltas. 12 – Havendo quebra nisto, estamos perdidas. De contrário, chegareis à verdadeira união. Se existe falha aqui, mesmo com gostos na oração e alguma suspensãozita, sinal é que NÃO CHEGASTES À UNIÃO. Pedir AMOR DE DEUS e do PRÓXIMO e deixar o senhor fazer...Olhar Jesus na Cruz.
CAPÍTULO IV
1. A borboleta não descansará nem em contentos terrenos, nem em gostos espirituais. 2 – Oração de união. 3 – Imagem do matrimónio para melhor explicar, só que nada tem a ver. 4 – Vir à fala -(entendimento e vontade), para maior conhecimento e amor; contrato – saber dos gostos de um e de outro (IV M.); enamoramento: permanente ferida de amor; dar as mãos: compromisso de vigilância e protecção; troca de presentes: jóias do conhecimento da Sua grandeza, do próprio conhecimento, de ter em pouco as coisas da terra. 5 – Fugir das ocasiões, pois ainda superam as forças que tem, já que a comunicação não passou de "uma vista de olhos". O diabo tudo fará para impedir este desposório. 6 – Com esta alma, aqui perdem-se muitos. É que amamo-nos muito e aos nossos direitos. 7 – Antecipa objecções – estando tão perto e separadas do mundo, como perder-se? Responde com o exemplo de Judas. 8 – O demónio com muita subtileza disfarça de bem coisas que obscurecem o entendimento e a vontade: engana, entibia, debilita o AMOR. Deus permite, para provar o amor da pessoa. 9 – Pedir graça na oração, desconfiar de si. Termómetro: verificar virtudes, especialmente o amor de umas para com outras e o desejo de ser tratada como a menor de todas. 10 – TEMOR: se não há crescimento, é sinal de que o diabo ronda. 11 – Ajuda de Deus para prosseguir o discurso.
VI MORADA
CAPÍTULO I
1. Alma ferida de amor, tudo deixa que a impeça a solidão, pois está determinada em não tomar outro esposo. Tem esculpida fortemente a sua imagem, que anseia revê-la (compar.) para mais a gozar. Determinada a tomá-lO como esposo. Este, porém, exige provas, para tal bem, que serão rudes trabalhos, inaguentáveis, sem aquele "aperitivo" 2 – Sofrerá imensos trabalhos interiores e exteriores, de tal modo que se antes os conhecessem, não se determinariam a tal, a menos que vivessem já na sétima morada. 3 –Todos se põem contra, acusando-a de fingida, de ser enganada pelo demónio, sendo os mais amigos quem mais a fazem sofrer, pois até os confessores engana. 4 –Já não encontrava quem a quisesse ouvir na confissão e uns avisavam-se aos outros. Claro que outros dizem bem, mas isso também aflige, pois há bem pouco se via mergulhada em grandes pecados. Deixa de se importar, pois: - tanto se diz bem como mal; - O Senhor mostra que todos os bens são dEle; - por isso veio algum bem a alguma alma, pois o Senhor se serve desse meio; - tem diante de si apenas a honra de Deus; - 5 –Sofre mais que em público a tenham por santa. Os ditos são como música suave, nada lhe dizem. Até ganha afeição aos detractores, pois, se Deus o permite é para bem. 6 –Doenças, se muito graves, são de grande tormento. Desejaria um martírio rápido. Escolheria esse caminho para se parecer com Jesus. 7 – Ela esteve toda a vida com doenças e trabalhos, que são pouco para o inferno que merecia. Contudo, os sofrimentos interiores superam tudo o mais. 8 –Incompreensões de confessores, porque quem lhe fala desses assuntos é imperfeita e então ou provém do demónio ou é melancólica. Se a alma foi e é pecadora este tormento é terrível. Quando o confessor dá segurança, a dor aplaca-se, mas volta depois, especialmente se seguida de aridez. 9 – Pensa que se não disse bem aos confessores e que é o demónio, sendo reprovada por Deus. Um confessor entendeu-a e quis ajudá-la, até perceber que não estava em si fazê-lo. Aridez extrema. 10 – Único remédio, esperar na misericórdia de Deus, que com uma só palavra, repõe a bonança, como se não tivesse havido tormenta. 11 – Esta ajuda a entender a própria miséria. Os dons porventura recebido, não deixam qualquer marca e parecem de fantasia. 12 – Nenhum remédio se encontra cá, pois isto provém do alto. Conhecê-lO e à nossa miséria, importa. 13 –Nem se sabe explicar, pelo que, o melhor será dedicar-se a obras de caridade exteriores e esperar na misericórdia de Deus. 14 – Outros sofrimentos traz o demónio, mas não entorpecem as potências. E se sucedem é porque Deus o permite. 15 – Outros trabalhos, de outras esferas, embora maiores.
CAPÍTULO II
1. Não esquecemos a borboleta, pois são estes trabalhos que a fazem voar. O Esposo fará que a esposa suspire por Ele, chamando-a suavemente do interior. Ela sofre de modo novo. 2 – Difere de tudo o que é terreno e também das experiências anteriores. É uma pena saborosa e doce. Queixa-se-lhe com palavra de amor, pois entende que está presente, sem se querer manifestar. 3 – Como Deus, estando presente, chama? Sim e recolhe a gente restante, que anda pelas outras moradas. 4 – Como se do braseiro de Deus saltasse uma chispa para a alma. Insuficiente para a incendiar, por isso dor saborosa, que vai e vem. 5 – Aqui os sentidos e potências estão despertos, tentando perceber o que sucede, mas sem conseguir tirar nem pôr. 6 – O demónio pode dar deleite que pareça espiritual, mas só opera fora e nunca dá sabor e paz. É pena e quietude profundas. Esta provém de outra região onde ele não domina, e pelos grandes proveitos que ficam: - determinar-se a padecer por Deus, desejar trabalhos, determinação em afastar-se de conversações e outras coisas terrenas. 7 – É verdadeiro, pois não pode provocá-los, do interior da alma e não deixam dúvidas. A melancolia vem da imaginação. 8 – Outras vezes sobrevem, de repente, quer esteja pessoa rezando, quer distraída, com uma suavidade que a invade toda, mas aqui não há dor nem pena e é mais frequente. Também nisto não há que temer.
CAPÍTULO III
1. Deus parece que fala à alma, de muitas maneiras: de fora, longe, perto, do íntimo. Algumas vezes até parece que se ouvem. Aqui é necessário cuidar que não venham da imaginação ou se pessoa é melancólica. 2 – A este tipo de pessoas convém reiterar que isso não é o essencial no seguimento do Senhor pois, o demónio pode forjar ilusões. Não alvorotar com dúvidas ou afirmações da proveniência demoníaca, porque tentarão, por todos os meios provar o contrário. 3 – Atalhá-lo, no início, pelo mal que pode fazer a outrem. Se for de Deus, contrariá-lo é modo de a levar adiante. Evitar inquietar a pessoa. 4 – A estas falas pouco importa dar crédito, não sendo para o servir e amar. Podem ser da imaginação ou do demónio e contradizer a Escritura. Não lhes dar atenção, acabarão por desaparecer. 5 – Sinais verdadeiros: a) o senhorio que trazem consigo, retirando-lhe qualquer pena ou desolação e dá muita luz. 6 – b) Deixa recolhimento e quietude na alma. 7 – c) Gravam-se na memória muito tempo ou sempre, com certeza e segurança, ainda que pareça que tudo vai ao revés do que entendeu. Demora em cumprir-se, duvida. Morreria por aquela verdade. O demónio tentará levar proveito, enfraquecendo a fé. 8 – Negada autenticidade por confessores e acontecimentos, no íntimo a certeza e, ao cumprir-se alegra e dispõe ao louvor. 9 –Que se realize, para que Deus seja acreditado, ainda que lhe sobrevenham muitos trabalhos. 10 – Não sendo de Deus, falham certeza, paz e gosto interior. Quem for experimentado não confundirá. 11 – Se do demónio, falham estas características. Mesmo tendo-as, em coisas de gravidade e em relação a outros, tem que ser aprovado pelo confessor letrado e avisado. Se confessor não tiver a luz do Espírito, não haverá culpa de se não cumprirem. Perigoso seguir o próprio parecer. 12 – Deus pode falar, claramente, bem no íntimo da alma, dando a certeza de que é lugar onde o demónio não entra. Efeitos: a) (não da imaginação, ao modo de sonho), pois o modo e estilo ficam gravados com muita força. 13 – b) Ocorrem em coisas não pensadas antes, a desoras. 14 –c) Aqui é como quem ouve. (Imaginação, como compõe). 15 – d) As palavras diferem: uma só diz muito. 16 – e) Juntamente com as palavras entendem-se outras coisas. Temor de outras origens. Nunca o demónio poderia deixar tais efeitos. Também não danifica, se pessoa não seguir por sua iniciativa. 17 – Com os regalos, veja se fica melhorada, confundida: aí espírito de Deus. Quanto maior a mercê, maior a confusão da pessoa: - considera-se indigna; - lembra os seus pecados; - esquece o próprio lucro, mas só da honra de Deus; - anda com mais temor em não torcer a vontade de Deus; - certeza de não merecer tais dons, antes ter merecido o inferno. Não tema. 18 – É impossível deixar de prestar atenção a estas falas, tal é a sua força. Deus pára todas as outras potências, de modo que pessoa entende que outro é o dono e governador do seu castelo, o que lhe dá devoção e humildade. Que só queiramos contentar Deus e esquecer-nos de nós.
CAPÍTULO IV
1. Trabalhos desassossegam a borboletazinha, fazendo-a desejar gozar Deus. Conhecendo própria fraqueza. Precisa ânimo para o tomar por Esposo. 2 –Ao contrário do que sucede cá, se Deus não intervém, não podemos dispor-nos ao desposório, tal é a nossa fraqueza para coisas do céu. Para se unir com ela, Deus tira-a de si (arroubamentos). 3 – Uma palavra ouvida, entra no interior da alma, como centelha, pega o fogo. Renova-a e perdoa-lhe culpas. Deus apieda-se dos seus desejos dEle. 4 – Antes nunca tão desperta, com tão grande luz e conhecimento de Deus. 5 –Deus pode descobrir-lhe segredos, que ela lembrará, por lhe terem ficado gravados para sempre. Umas coisas sabem dizer-se, outras não, conforme deve ser a vontade do Senhor. 6 –Levam-na a adorar a grandeza divina. 7 –Moisés disse só o que Deus quis. Assim nós só temos que acreditar e louvar muito. 8 – Assim arrebatada pelo Senhor, apenas o goza. Ele pode fazer-lhe ver o que existe no aposento. Observa tudo, globalmente, maravilha-se, mas depois não saberia dizer o que viu, a menos que Deus o quisesse. 9 – Se não mostrados estes segredos, creia que não teve arroubamento. O Senhor, levando-a consigo, manda fechar as restantes moradas e vai-lhe mostrando um pouco do que ganhará como esposa. É Misericórdia. 10 – A comunicação de Deus a estes vermezinhos vale todo o nosso sacrifício. Todos os gozos do mundo são nojo e lixo, diante destes tesouros. 11 - Temos manchas nos olhos ou terra, que se não tiramos, que não ficamos de todo cegos. Conheçamos esta imperfeição e peçamos que Ele nos tire destas misérias. 12 – Sendo coisas que Deus dá a quem quer, se amássemos a Deus como Ele nos ama, dava-no-las a todos. 13 – Ao arrebatar a alma, tira-lhe o fôlego e, ainda que tenha os sentidos, não pode falar. Outras vezes tira-se-lhe tudo, de repente, ficando gelado todo o corpo, nem se percebendo que respira. Dura pouco. 14 – Saída da suspensão, a vontade permanece embevecida (para amar, adormecida face ao apego das criaturas e ao entendimento alheio), chegando a permanecer, assim, dias. 15 – Tornada a si, vem-lhe grande confusão e desejos de se dar de todo. Queria que tudo fossem línguas para O louvar. A força do amor leva-a a achar nada tudo quanto faz e só quereria padecer por Ele. 16 – Especial gozo, se acontece em privado. Em público é grande a confusão (falta de humildade: ou louvam a Deus ou murmuram dela e de ambas a pessoa ganha) do que pensarão, dando ocasião a maus juízos. Deus quer mostrar que a pessoa é já sua de todo e ninguém lhe toca, seja no corpo, honra ou fazenda. Se ela se não aparta do Esposo, Ele será o seu amparo. 17 – Os efeitos destes arroubamentos diferem dos que enganam as almas.
CAPÍTULO V
1. Outro modo de suspensão é um célere arrebatamento, que leva consigo a alma. É preciso fé, confiança e resignação, para que Deus faça o que quer. Inicialmente também se duvida ser de Deus. 2 – Não se lhe pode resistir. Com se um levantador de pesados pegasse numa palha. 3 – É como se Deus abrisse todos os mananciais naquela albufeira onde nasce a água sem ruído. Então levanta-se uma onda alterosa e com ela a nossa barquita, sem poder controlar nada. 4 – É preciso grande ânimo e entregar-se com suas faltas à misericórdia de Deus. 5 – Quando Deus levanta a alma e lhe mostra seus segredos, se em visão imaginária, ela pode dizê-los, de tal modo ficam gravados na memória, mas não se for visão intelectual. 6 – Deus disse a uma alma, desconsolada, por nada ter para oferecer a Deus, que oferecesse a vida, paixão e morte de Jesus. Consideremos sempre a nossa miséria e que nada temos que não tenhamos recebido. 7 – Neste arrebatamento acha que sai do corpo e entra em outra luz que nunca poderia fabricar. Ensinam-lhe ali muitas coisa, de outro modo inalcançáveis. Aqui entra a imaginação, pois vê e conhece tudo. 8 – Algumas vezes ocorre, em simultâneo, visão intelectual. Julga que não está no corpo. 9 – Como o sol, sem sair de si, faz chegar à terra os seus raios, com a velocidade de um tiro, sai de si e aprecia o que nunca pudera imaginar. Sai de tudo com grandes efeitos, como indiferença para quanto anteriormente apreciava. 10 – Isto não pode vir do demónio, que não dá sossego e paz. Sai-se com: - conhecimento da grandeza de Deus; - conhecimento próprio e humildade; - ter em pouco as coisas de cá, se não para o serviço do senhor. 11 – Estas as jóias oferta do Esposo, nunca sairão da mente dela, até que as goze para sempre. 12 – A vertigem da saída do corpo assusta, donde necessidade da coragem do Senhor.
CAPÍTULO VI
1. Desejaria não mais viver neste desterro e chora por ver-se aqui. Busca a solidão, mas todas as coisas a inflamam tanto, que a borboleta não sabe onde pousar. Não pode evitar arroubamentos públicos, donde vêm murmurações, mesmo dos confessores. 2 – Interiormente em paz, mas com medo de ser do demónio, pressionada pelos confessores, que lhe dizem peça outro caminho. Dividida, por perceber os ganhos deste, mas deve obedecer ao confessor e receia que o faz só por fora, temendo pecar, mesmo sem querer. 3 – Não quereria descontentar o Senhor, desejando vida eremita. Por outro lado, quereria estar no meio do mundo, para que este Senhor fosse melhor conhecido. Enfim, atada por ser mulher. 4 – Pobre borboleta, não acha descanso. Pede ao Deus Poderoso que a ajude a fazer algo por Ele, para que sua grandeza resplandeça. 5 – Deus deixa-a com esta força, habitualmente. Outras vezes deixa-a sentir a própria pusilanimidade, de modo a conhecer-se e que todo o bem o recebe. 6 – Estes desejos de ver a Deus podem aliviar-se, pois o entendimento está em si. Então importa distrair-se, não vá o demónio aproveitar-se, fazendo-a julgar-se muito adiantada. 7 – Há pessoas mais sensíveis que por tudo choram e, julgando isso bom, fomentam-nas. Dão lugar ao demónio, enfraquecendo, não podendo depois seguir a Regra. 8 – Não é exagero ver em tudo perigo. Estar sob suspeita. 9 – Em vez de querer lágrimas, queiramos trabalhar na virtude, que, esquecidas, o Senhor as dará para regar, pois nós à força de cavar, pode ser que não encontremos sequer uma charca. Assim, melhor colocar-se nas sua mãos e Ele dê o que entender. 10 – Às vezes o Senhor levanta tal júbilo interior, em posse de sentidos e potências, que bem desejaria fazer festa com todos para que Ele por todos fosse louvado. Isto não pode ser do demónio. 11 – Dele gozaram muitos santos, que eram tidos por loucos. Que pouco se usa, já que isso assim aconteça. 12 – Alegra-se e incita as irmãs a que tenham por costume louvá-lO, quando estão juntas, pois será lindo costume. 13 – Esta oração traz muitos lucros e dura como um dia: como se embriagada ou só podendo pensar no que a traz assim. Só consegue louvar a Deus.
CAPÍTULO VII
1. Não se pense que chegadas aqui, já não precisam chorar os pecados. Ao invés, quanto mais perto da luz, maior é a nossa treva. Até ao fim, sempre se terá. 2 - Conhece mais a Deus, portanto a própria ingratidão e atrevimento. As mercês são como rio caudaloso que vão e vêm. Os pecados, o lodo, que sempre está presente. 3 – Deseja a morte, para evitar sentir quão desagradecida foi. Não teme inferno, sim poder perder a Deus. Mas todo o temor é voltar a ofendê-lO. 4 – Não seguro esquecer quanto se ofendeu a Deus, apesar das grandes mercês, pois teria merecido o inferno. 5 –Quem chegou a estas alturas não deve entreter-se com a divindade, deixando de meditar em Jesus Cristo humanada. Falso e sabe-o por experiência própria. 6 – Quem for por outro caminho não chegará aqui, pois Jesus disse ser o Caminho, a Luz e quem O vê, vê o Pai. 7 – Algumas, chegadas a esta contemplação, resistem-se a discorrer sobre os mistérios de Cristo e deve ser que se tornaram menos capazes, pois exige maior esforço. No entanto, até chegar à última morada, perderá tempo. 8 – Tão desejosa de amar, não quereria dedicar-se a outras coisas, todavia não o conseguirá. Não seria bem ficar-se na aridez à esperar do fogo do céu. Ele o fará, quando entender, se nos sentimos indignas dele e nos vamos ajudando. 9 – Só na última morada, por estar muito em Deus. Entretanto, Deus quer que o busquemos, não ficando pasmados, a perder tempo. Pode ser que Deus tarde, mas nós conhecemos o caminho, andemos diligentes. 10 – Uma coisa é discorrer com o entendimento, outra representar verdades com a memória. Meditar é começar num episódio da vida de Cristo e ir discorrendo, pensando e sentindo... é oração admirável. 11 – Quem chegou à contemplação perfeita entende as coisas de outro modo mais perfeito; o entendimento representa-lhos e na memória gravam-se-lhe...e a vontade junta-se-lhe, desejando servir e padecer por quem tanto amou. Dos mistérios de Cristo retira centelhas para se inflamar no amor do Senhor. 12 – Siga este caminho, que se o Senhor a quiser levantar, a leva daqui, mesmo que o não queira. Contudo, o senhor leva as almas por variados caminhos. 13 – Algumas almas, chegadas à quietude, não querem já sair dali. Creiam que a vida é longa e não se fiquem por ali, pois temos necessidade de ver e contemplar como Jesus a passou. É boa companhia e quer que nos condoamos com Ele. Façam tudo para evitar este perigo. 14 – Por muito espirituais que sejam não devem fugir da humanidade de Cristo. 15 – O engano de Teresa foi embevecer-se ali, tendo descoberto que perdia tempo, pois não avançava na oração, nem crescia nas virtudes. Alguém a avisou do erro. Quer que todos os bens lhe venham por quem a comprou com o seu sangue.
CAPÍTULO VIII
1. Explicará um modo de como Deus se comunica, para que O conheçam se ele for servido e sempre O louvem pois pode fazê-lo. 2 – Estando descuidada, Jesus colocou-se-lhe a seu lado, sem O ver (visão intelectual). Entendeu donde vinham as falas que escutava. 3 –Foi ter com o confessor, que lhe fazia perguntas às que não podia responder, por não visualizar. Contudo sentia Jesus sempre com ela, conquanto só falasse se necessário. Deixava efeitos de paz e segurança, que não poderiam provir do demónio, nem da melancolia. 4 –Não sabia donde vinha tanto bem. Esta mercê traz grande confusão e humildade, pois vem de Deus. Daqui um amor para com o Senhor e maiores desejos de se entregar ao seu serviço, junto com pureza de consciência, pois está ao seu lado. Mercês muito mais frequentes. 5 – Grande dom para apreciar e agradecer, que quando desaparece deixa grande soledade. Nada porém se pode fazer para possuir. 6 - Se é Santo, Maria, o Senhor é inexplicável, pois a certeza vem-lhe dEle. É para admirar, louvar e dar graças por tudo. Procure fazer maiores serviços e ter-se a menor de todas. 7 – Os efeitos mostram que não é engano nem ilusão, pois dão muita paz. O demónio levantaria vanglória, não toleraria que ficasse só no Senhor, nem Deus permitiria tão largo engano. 8 – Se Deus levar alguma, não tenha medo, mas cuidado e procure esclarecer-se com alguém de letras. Mesmo que digam ser ilusão, encomendem-se a Deus, pois o próprio Senhor a consolará. 9 – A prioresa faculte ajuda, mas não ande de lado para outro, porque por vezes faz-se público e traz graves inconvenientes. 10 – É de grande ajuda este caminho, mas Deus, por vezes, conduz por aqui as mais fracas. Olhe-se às virtudes, a quem serve o Senhor com mais mortificação, humildade e pureza de consciência.
CAPÍTULO IX
1. As visões imaginárias são as mais perigosas, mas também mais proveitosas, pois de acordo com o nosso natural. 2 – O Senhor está connosco à maneira de uma jóia de poderes curativos, num relicário que nos emprestaram, mas não temos a chave para o abrir. Sabemos da sua presença, devido aos efeitos experimentados. 3 – Às vezes Deus quer mostrar-no-la. Assim fica-se mais gravada na memória. Assim aqui, Jesus mostra a Sua Humanidade, como um relâmpago, mas fica profundamente gravado na imaginação. 4 – O Senhor mostra-se, como um relâmpago, mas não a estes olhos. Fica-se em arroubamento perante tal beleza. 5 – Tal é a beleza e majestade, que se não pode duvidar de quem é. 6 – Infunde grande temor. Como será ao vir como juiz? 7 – É grande mercê, por ela bem empregues todos os sofrimentos da vida. Acho que o mais temível no juízo será ver olhos tão benignos, formosos e mansos, irados. 8 – Se for demorado, deve ser outra coisa, mas não visão. 9 – Pessoas de grande imaginação fabricam uma imagem e, passado o tempo, ficam frias, como se nada. Não viram o Senhor. 10 – Visão: alma distraída, surge os Senhor e repentinamente, alvorotando sentidos e potências, antes de entrar na paz. Alma fica tão ensinada de verdades, que já não precisa de outro Mestre. Certeza ser Deus, mesmo que lhe digam o contrário. Persistindo o confessor, começam as dúvidas. 11 – Aguardar para ver o fruto de humildade e fortaleza de virtudes. Se experiente, logo o confessor perceberá se é o demónio, pois anda envolvido em mil mentiras. 12 – Claridade em contar a oração ao confessor. E depois, mesmo que seja o demónio, havendo humildade e boa consciência, não vos fará dano, antes ganhareis, pois procurareis viver com esse Senhor que vos é representado. 13 – Nunca atender a que se façam agravos à imagem de Cristo, dizendo-o mansamente não o aceitar. 14 – É de grande consolo e proveito ficar com a imagem deste rosto formoso e mansíssimo. Nunca pedir que Deus nos leve por este caminho. 15 – Razões: - falta de humildade; - é engano ou em perigo de o ser; - a imaginação desejosa o forjará; - atrevido querer escolher caminho; - sofrem-se grandes trabalhos; - perdereis, por onde pensais ganhar. 16 – Seguro: querer o que Deus quer, que nos conhece, ama e quer o melhor para cada uma. Ponhamo-nos nas Suas mãos, determinadamente. Quem recebe estes dons não terá mais glória, estará sim obrigado a mais. Há santos que nunca as tiveram e não santos as gozaram. Não são contínuas, têm-se muitos trabalhos e há que só querer servir o Senhor. 17 – É grande ajuda para adquirir virtudes, mas se as tiver por seus meios, terá maior prémio. Havia pessoas que, se pudessem, escusariam estes regalos. 18 – Desejos de sofrer por Ele também são dons, que pretendem mostrar a gratuidade.
CAPÍTULO X
1. Estas aparições ocorrem: quando pessoa está muito aflita; está para vir algum trabalho; Deus se quer regalar com ela. Pretende tirar toda a aflição, de contrário, gozaria o demónio. Comunica-se Deus de outros modos, em que o demónio não pode ter cabida. 2 – Às vezes, na oração, vem de repente uma suspensão, onde lhe são ensinadas muitas coisas, não sendo visão da Humanidade é visão intelectual. Deus descobre-lhe verdades em si mesmo, pois fica gravada, num instante. Entende-se o mal do pecado, pois o fazemos, estando dentro de Deus. 3 – Deus é como formosos palácio de cristal e aí nós fazemos abominações e desonestidades. Como queixar-nos se falam mal de nós, sendo este Senhor tão agravado? 4 – Seguindo o Senhor, soframos e amemos a quem nos ofende. 5 - Por vezes Deus grava umas verdades, que deixam todas as outras obscurecidas, como que mostrando que só ele é a Verdade. 6 – Procurar andar em verdade diante de Deus e das pessoas e assim, ter em pouca conta este mundo de falsidades. 7 – Deus preza tanto a humildade, porque a humildade é a verdade e Deus é a Verdade. Não temos nada nosso e entendê-lo, agrada a Deus, pois damos-lhe o que lhe pertence. 8 – Deus quer fazer estes dons à esposa, como por antecipação das Suas grandezas. Em tudo dar-lhe graças e não temer, pois aqui já o demónio não tem cabida.
CAPÍTULO XI
1. A borboleta com estes dons fica ainda mais perturbada, pois cresce-lhe o desejo e a pena de não pousar em Deus. 2 – Estando com esta pena e dor, acontece que uma palavra, vinda de fora, não sabe donde, penetra-a como que uma flecha e entra no mais íntimo, reduzindo a nada o terreno, arrebatando com ela as potências, só com liberdade para que lhe crescer a dor. 3 – É arroubamento de sentidos e potências, estando o entendimento desperto, entendendo a diferença criatura – Deus, o que dá extremo sofrimento e leva a sufocar gritos. 4 – Presenciou, pensando que morria, pois desconjuntando-se-lhe o corpo com dores e frio, não o sente, tão grande é a dor da alma. O corpo fica ressentido por alguns dias e até parece que fica mais debilitado. Parece que ia entregar a alma. 5 – Até aqui podia minorar, mas não agora, pois é tão grande a sede, o não achar repouso, a soledade, que nada da terra a consola. 6 –Percebe-se ser preparação para a morada seguinte, mas não se deixa de sofrer e sofrer-se-ia até ao fim do mundo, se Deus fosse nisso servido. 7 – Avalia-se o que se sofre no inferno, que não é com gozo, lucro e fim. Soframos, agora, para nos livrarmos do fogo eterno, distinguindo a grande diferença de sofrer na alma ou no corpo. 8 – Resistir é como se, num fogo, uma chama não quisesse queimar. Não dissimulável, embora só testemunhem o exterior. 9 – Em momentos em que parecia estar quase a sair do corpo, quereria se afrouxasse a dor, para não acabar de morrer. Esta pena só é tirada com algum grande arroubamento ou visão, onde o Senhor a console e fortaleça. 10 – Fica com gosto de padecer, desprezo do mundo e desapego das criaturas e maior temor e cuidado de não O ofender, pois só Ele pode fartar a sua alma. 11 – Dois perigos de morte: esta pena e o intenso deleite que parece desfalecer e pouco falta para deixar o corpo. É pois bem necessário ânimo. 12 – Deus dá força, defende-a das perseguições e compensa-a de tudo, ainda nesta vida.
VII MORADA
CAPÍTULO I
1. Grandeza de Deus ilimitada bem como suas obras. Quanto mais soubermos que se comunica às criaturas, mais as louvemos. Como não prezamos a imagem de Deus em nós, não entendemos os segredos que contém. 2 - Que nenhuma impeça este grande dom de Deus: matrimónio espiritual. Que se louve Deus, nem que o mundo todo grite contra ela. 3 – O Senhor morar em nós, como no céu. Quando viu que alma sofreu muito com desejos dEle, mete-a lá consigo, antes deste matrimónio. 4 – Pedir muito pelas pessoas em pecado mortal. 5- Alma tem grandiosas dimensões interiores... até Deus lá tem morada. Deus fá-la entrar e leva-a ao centro, com sentidos e potências despertos. 6 –Que veja e entenda algo das mercês que recebe. Em visão intelectual mostra-lhe a Trindade – uma substância, um poder, um saber e um só Deus -, com uma inflamação de grande claridade que primeiro atinge o espírito. As Três pessoas falam-lhe e dão-lhe a entender aquilo de "vir e fazer morada". 7 – A diferença que há em crer e entender que tem em si esta Companhia! 8 – Não fica embevecida como antes, atendendo ao que for necessário e fica-se com tão divina companhia. Esforça-se por agradar a Deus presente. 9 – Esta presença não fica com grande clareza, mas não deixa de perceber esta Companhia. 10 – Todos os trabalhos e negócios já não a afastam daquele aposento, parecendo-lhe haver ali, vários. 11 – Vê diferença entre alma, espírito, potências, pela diversidade de como percebe os dons, no seu interior.
CAPÍTULO II
1. A primeira vez que Deus noticiou o matrimónio espiritual, foi por uma visão imaginária da Sua Humanidade, para ter certeza do dom. Apresentou-se-lhe ressuscitado e esplendoroso, depois de comungar. 2 – Todas as visões diferem, também, desposório e matrimónio. Aqui, a força, as palavras, a profundidade. Impossível separar Deus-alma. 3 – Como no desposório, o corpo é como se não existisse. União secreta no centro da alma, com Deus. No matrimónio faz lembrar aparição aos apóstolos, incutindo-lhes paz. Aí, Deus unido à alma, comunica-lhe segredos do céu, com suavíssimo deleite. 4 – Por poder voltar a separar-se, desposório e união diferem (as velas de cera que juntam pavio e chama e se podem separar) de matrimónio. Aqui a alma fica sempre com Deus naquele centro, como se caísse água num rio ou fonte; desembocadura de regato; entra luz de duas janelas e fica tudo um. 5 – Quem chega a Deus fica um Espírito com ele. Meu viver é Cristo. Morre a borboleta: sua vida é Cristo. 6 – Entende-se mais, passado o tempo, às vezes com muita força. Dos seios de Deus mana leite que sustenta toda a gente do castelo, servidores dos desposados. Do centro, vêm setas que dão vida à vida e sol, que chega às potências. Alma fica, ali, em paz. 7 – Sempre a paz pode encher-nos, caso nos esvaziemos e desapeguemos do ser criaturas. Jesus pediu que fôssemos UM COM O PAI. 8 – Deus quer-nos dentro, deixando quanto pode impedir este espelho reflicta Sua imagem. 9 – Aqui nem sentidos nem imaginação perturbam. Ande-se com mais temor de O ofender e desejos de O servir, grande confusão pelo pouco que faz e por quanto está obrigada. Grande dor é não poder sofrer por Ele. 10 – A Alma está sempre nesta paz, mas não os sentidos e potências. Há tempos de guerra e fadigas. 11 – Toda a barafunda exterior não a retira do centro, pois as paixões já estão vencidas.
CAPÍTULO III
1. Na borboleta repousa Cristo. Efeitos verdadeiros: 2 – Esquecimento de si e do prémio – céu, vida, honra – em Deus. Deus confiou-lhe suas coisas; Sua Palavra tornou eficaz, nada conta senão a glória de Deus. Por ela daria a vida. 3 –O exterior executa, dolorosamente, salvo se trata da honra do Senhor. 4 – Deseja padecer, mas com paz, pois interessa o cumprimento da vontade de Deus. 5 – Gozam interiormente com perseguições e cobram amor a quem as provoca, sofrendo por não poder tirá-los de alguns trabalhos e dar-lhes-iam com prazer todas as mercês que lhes faz o Senhor, para que não mais O ofendam. 6 – Antes desejava morrer para gozar o Senhor. Agora quer viver para sofrer e servir, para que o Senhor seja louvado. Sua glória: que o Senhor não seja ofendido. 7 – Alguma vez regride, mas logo cai em si e quer viver, por ser a oferenda mais custosa que pode oferecer-Lhe. 8 – Sua Majestade é quem vive, por isso não aspira a gozos, mas aos tormentos que Ele teve em vida, ao menos em desejos. Desapegada de tudo. Desejo de soledade e de aproveitar a alguma alma. Sem aridez, mas memória e ternura com o Senhor, louvando-O. Distraída, o Senhor chama-a do centro da alma, despertando as potências, com grande suavidade. Percebe que não é de si. 9 –Não houvendo outro, grande seria o ganho dos toques suaves e penetrantes do Senhor. Também na oração de união, se cumprimos os seus mandamentos. Reconhecer donde vem tão amoroso recado e louvá-lO. Nunca deixar de atendê-lO, mesmo que seja em público, dispõem vontade a determinar-se. 10 – Aqui em paz, com certeza de estar em Deus e sem temor do demónio. Nada têm a ver aqui os sentidos e potências, pois Deus introduziu a alma onde tudo lhe vem dEle e ela só cabe estar disposta. 11 – Tudo ocorre em silêncio e olhando Deus como que por fresta. Raramente e por pouco tempo perde esta visão. 12 – Já não tem arroubamentos, nem soledade. Goza e repousa naquela companhia. Parece que Deus a fortaleceu, dilatou e habilitou. 13 – Deus dá, com o ósculo o que antes a esposa pedia. Lembra a Escritura e deseja que cristãos a leiam. Esta não é paz definitiva e poder-se-ia perder, se nos afastássemos de Deus. 14 – Quanto mais favorecidas de Deus, mais temerosas e acobardadas de si mesmas. Desejam só servi-lo e tudo entregam à misericórdia de Deus. 15 – As tempestades existem, mas depressa passam e não afectam.
CAPÍTULO IV
1. Por vezes as coisas da ronda do castelo importunam a alma. 2 – Deus fortalece-a para não torcer vontade de Deus e sua determinação. É para permanecer na humildade, sabendo o que é e quanto deve ao Senhor. 3 – Têm imperfeições, pecados inadvertidos e tormentos, também por verem as almas que se perdem e sempre andam com temor. Suplicar ao Senhor que Seu temor é grande dom. 4 – Deus dá estas mercês para que se possa seguir Jesus no padecer. 5 – Os que andam mais perto do Senhor mais padecem. Os dons especiais de Deus vêm para os fortalecer. 6 – As pessoas que vivem perto de Deus não fazem caso da honra. A oração e matrimónio espiritual têm uma finalidade: nasçam obras, virtudes. 7 – Prova dos dons divinos: pôr por obra os desejos e petições da oração. 8 – Ser espiritual é ser escravo de Deus, para que Ele a possa vender por escravos de todos, como Ele o foi. Alicerce deste edifício é a humildade, portanto determinar-se a ser a menor de todas. 9 – Não se ficar em rezar e contemplar, mas exercitar-se nas virtudes, pois quem não cresce, decresce. 10 – A paz interior desta alma é para não ficar sossegada, nem ociosa, no exterior. Fortalece-a a companhia do Forte. 11 – Contagiada daquela fortaleza e com os manjares ali recebidos, contagia toda a gente do castelo e da cerca para trabalhar, conquanto tudo lhe pareça nada. 12 –Utilizar estas forças para servir; na oração, indo por caminhos trilhados. Marta e Maria devem andar juntas. 13 – A melhor parte de Maria seria pelo que ia sofrer no seguimento de Cristo. 14 – Às vezes o demónio dá-nos desejos impossíveis, para que creiamos que fizemos o que devíamos, tendo deixado por fazer o que está na nossa mão. Humildade, mortificação, serviço, caridade e amor do Senhor tal, que a todas incendeie no Seu amor. 15 – Quanto melhores forem, mais agradará ao Senhor o serviço e orações. O mais valioso é o amor. 16 – Encontremo-nos sempre onde sempre O louvemos.