DA PRUDÊNCIA DA FÉ – CAPÍTULO XV-LIVRO IMITAÇÃO DE MARIA
Maria
meditava, diz o Evangelho, quando lhe trouxera o Anjo a palavra do Senhor. As reflexões
de Maria eram filhas da humildade e da fé. Esta virgem prudentíssima sabia que
o Anjo de trevas muitas vezes se transforma em Anjo de luz, que o espírito do
erro algumas vezes imita a voz do Espírito da Verdade.
Então,
Maria interroga o Anjo e fica à espera da resposta, a ver se a resposta
concorda com o que do Messias falaram os profetas e com os princípios de sua
religião. E depois que lhe falou o Anjo, já não mais carecia de outra norma de
conduta senão a que se continha na palavra mesma do Anjo, porque traduzia a
palavra de Deus.
Há uma
prudência que torna a alma submissa à fé, bem longe, por isso mesmo, de lhe ser
adversa.
Primeiro a
prudência abre os olhos da alma para que se certifique da natureza da
revelação. Depois, ela os fecha para que a alma cegamente creia. "Não devemos
crer em qualquer espécie de espirito" (1Jo 4,1). Do que me dizem nada
quero crer, em matéria de religião, senão o que está conforme ao que disse
Deus, por si e pela Sua Igreja, "que é a coluna e o apoio da Verdade"
(1Tim 3,15).
De muitas
maneiras podemos conhecer o que foi revelado por Deus.
Mas, uma
vez que a revelação é certa, "anátema a um Anjo mesmo" (G1 1,8) que o
contrário pretendesse ensinar-me do que ela me ensina.
Creio no
que a religião me ensina, porque nada me ensina que Deus não haja dito. E o que
de mais acertado haverá do que aquilo que é a Verdade mesma? Tão impossível
será que me engane como Deus me enganaria ou enganar-se-ia a si próprio.
Refinada
loucura é crer alguém uma coisa como palavra de Deus sem justos motivos. Não só
de pagão é essa loucura, senão de muitos cristãos também. Ao contrário, crer em
alguma coisa baseada em justos motivos como palavra de Deus será prova isso de
grande sabedoria. Crer firmemente nas verdades reveladas por Deus e participar
da infalibilidade do próprio Deus! O exame feito em matéria de religião com o
mesmo espírito de Maria tem o salutar efeito de nos fazer inabaláveis na fé.
Pessoas há, entretanto que fazem tal exame com intenção de entreter os erros
que amam, em vez de aprender o que devem crer e o que devem amar.
A intenção
delas não é o encontro, a pesquisa, o conhecimento da Verdade, mas antes as
razões de duvidar da Verdade, que suportar já podem.
Regras
acertadas não procuram por saber em que devem crer e como devem viver, senão
que o alvo das suas pesquisas é viverem no crime sem remorsos.
Um sistema
de irreligião parece bem ao gosto de muitos a quem a fé constrange.
Em via de
regra, suspeita-se da fé quando esta começa a se tornar incômoda. É a santidade
de suas máximas que aos incrédulos revolta, mais ainda que a
incompreensibilidade dos seus mistérios. Ou às paixões renunciam, ou jamais deixarão
de lutar n'alma os remorsos e pavores. Daí vem a deliberação que se tomará de
em nada mais crer ou duvidar de tudo, menos a respeito do torto caminho em que
se perdem muitos.
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