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AS MENSAGENS DAS APARIÇÕES DE FÁTIMA - O ALTAR DO MUNDO - A HISTÓRIA QUE MUDOU O DESTINO DA HUMANIDADE



Onde aconteceu: Em Portugal.

Quando: Em 1917.

A quem: A Irmã Lúcia, Jacinta e Francisco Marto.


 
HISTÓRIA DAS APARIÇÕES.
JESUS CRISTO veio trazer à terra a Mensagem, única e suficiente, que está contida no seu Evangelho e nos ensinamentos oficiais da Igreja.

Mas os homens são muito esquecidos e distraídos e, pelo tempo fora, vão querendo pôr de lado alguns aspectos da Mensagem divina. Então Deus digna-se relembrar tais aspectos menosprezados, mas em perigo de se adulterarem com os costumes e a mentalidade de cada época, ou até mais, contrariados pelo inimigo fundamental que é o demônio.

Umas vezes intervém Nosso Senhor em pessoa para dar a conhecer aos homens estas Mensagens a que podemos chamar de parciais, ou de repetição. É o caso das revelações do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria.

Outras vezes, mais freqüentes, o Senhor deixa vir sua Mãe.

Mais raro e até talvez único na história da Igreja é ter Nossa Senhora mandado um Anjo à sua frente, para iniciar uma preparação que Ela depois quis continuar, e para dar aos acontecimentos de Fátima um preâmbulo, logo colocou os protagonistas num clima saturado de sobrenatural, e de onde se depreendem já as coordenadas daquilo que viria a constituir o âmago da Mensagem:

Deus ofendido; necessidade de reparação; mudança de vida.


AS APARIÇÕES DO ANJO.
Na primavera de 1916, três pastorzinhos tinham levado o seu rebanho de ovelhas para o pasto perto da aldeia de Fátima. Foi como qualquer dia, como os outros na vida de Lúcia com 09 anos, seu primo Francisco com 08 anos e sua irmãzinha Jacinta de 06 anos.

Transcrevemos em seguida as palavras exatas de Lúcia sobre as três aparições do Anjo, estando presentes apenas ela e os seus dois priminhos, Francisco e Jacinta.


1ª Aparição do Anjo.

Conta a Irmã Lucia.
“As datas não posso precisá-las com certeza, porque, nesse tempo, eu não sabia ainda contar os anos, nem os meses, nem mesmo os dias da semana. Parece-me, no entanto, que deveu ser na Primavera de 1916 que o Anjo nos apareceu a primeira vez na nossa Loca do Cabeço... subimos a encosta em procura dum abrigo e como foi, depois de aí merendar e rezar, que começamos a ver, a alguma distância, sobre as árvores que se estendiam em direção ao Nascente, uma luz mais branca que a neve, com a forma dum jovem, transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios do Sol. À medida que se aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições. Estávamos surpreendidos e meios absortos. Não dizíamos palavra.

Ao chegar junto de nós, disse:

– Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.

E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão. Levados por um movimento sobrenatural imitamo-lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar:

– Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Depois de repetir isto três vezes, ergueu-se e disse:

– Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.

E desapareceu.
A atmosfera do sobrenatural que nos envolveu era tão intensa, que quase não nos dávamos conta da própria existência, por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição em
que nos tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração.
A presença de Deus sentia-se tão intensa e íntima que nem mesmo entre nós nos atrevíamos a falar.”

Cada uma das palavras do Anjo e até das da narrativa de Lúcia, mereceriam longo e apropriado comentário e dariam lugar para proveitosa meditação. Será feito em ocasião mais oportuna.


2ª Aparição do anjo.

 “A segunda deveu ser no pino do Verão, (junho) nesses dias de maior calor, em que íamos com (os) rebanhos para casa, no meio da manhã, para os tornar a abrir só à tardinha. Fomos, pois passar as horas da sesta à sombra das árvores que cercavam o poço já várias vezes mencionado.
De repente, vimos o mesmo Anjo junto de nós.

– Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.

– Como nos havemos de sacrificar? – perguntei.

– De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal.
Sobretudo, aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar.

Estas palavras do Anjo gravaram-se em nosso espírito, como uma luz que nos fazia compreender quem era Deus, como nos amava e queria ser amado; o valor do sacrifício, ecomo o sacrifício Lhe era agradável, como por atenção ao sacrifício oferecido, convertia os pecadores.
Por isso, desde esse momento, começamos a oferecer ao Senhor tudo que nos mortificava, mas sem discorrermos a procurar outras mortificações ou penitências, exceto a de passarmos horas seguidas prostrados por terra, repetindo a oração que o Anjo nos tinha ensinado.

  
3ª Aparição do anjo.

A terceira aparição parece-me que deveu ser em Outubro ou fins de Setembro, porque já não íamos passar as horas da sesta a casa. Passamos da Prégueira (é um pequeno olival pertencente à meus pais) para a Lapa, dando a volta à encosta do monte pelo lado de Aljustrel e Casa Velha.
Rezamos aí o terço e a oração que na primeira aparição o Anjo nos tinha ensinado. Estando, pois, aí, apareceu-nos pela terceira vez, trazendo na mão um cálice e sobre ele uma Hóstia, da qual caíam, dentro do cálice, algumas gotas de sangue. Deixando o cálice e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a oração:

– Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.

Depois, levantando-se, tomou de novo na mão o cálice e a Hóstia e deu-me a Hóstia a mim e o que continha o cálice deu-o a beber à Jacinta e ao Francisco, dizendo, ao mesmo tempo:

– Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.

De novo se prostrou em terra e repetiu conosco mais três vezes a mesma oração:

– Santíssima Trindade... etc.

E desapareceu.
Levados pela força do sobrenatural que nos envolvia, imitávamos o Anjo em tudo, isto é, prostrando-nos como Ele e repetindo as orações que Ele dizia. A força da presença de Deus era tão intensa que nos absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia privar-nos até do uso dos sentidos corporais por um grande espaço de tempo.
Nesses dias, fazíamos as ações materiais como que levados por esse mesmo ser sobrenatural que a isso nos impelia. A paz e felicidade que sentíamos era grande, mas só íntima, completamente concentrada a alma em Deus. O abatimento físico, que nos prostrava, também era grande.»


E aqui temos, na simplicidade fiel da narradora e protagonista, contada uma das cenas mais portentosas de toda a história humana nas suas relações com o sobrenatural. Tanto as palavras proferidas como o cenário e todos os gestos, são densos de doutrina e de profundo significado que deixamos ao estudo dos entendidos, com vista a conclusões e aplicações práticas.

Citamos apenas umas palavras de Lúcia:
Na terceira aparição, a presença do sobrenatural foi ainda muitíssimo mais intensa. Por vários dias, nem mesmo o Francisco se atrevia a falar. Dizia depois:
– Gosto muito de ver o Anjo; mas o pior é que, depois, não somos capazes de nada. Eu nem andar podia, não sei o que tinha! Apesar de tudo, foi ele quem se deu conta, depois da terceira aparição do Anjo, das proximidades da noite. Foi quem disso nos advertiu e quem pensou em conduzir o rebanho para casa.

Passados os primeiros dias e recuperado o estado normal, perguntou o Francisco:
– O Anjo, a ti, deu-te a Sagrada Comunhão; mas a mim e à Jacinta, que foi o que Ele nos deu?
– Foi também a Sagrada Comunhão? – respondeu a Jacinta, numa felicidade indizível. – Não vês que era o Sangue que caía da Hóstia?
– Eu sentia que Deus estava em mim, mas não sabia como era! E prostrando-se por terra, permaneceu por largo tempo, com a sua Irmã, repetindo a oração do Anjo: Santíssima Trindade..., etc.


AS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA.


Os povos envolvidos em guerra (1ª guerra mundial 1914-1918) espalhavam a morte, medo e a dor. Portugal atravessava uma grave crise, almas desorientadas envolviam-se na descrença, corações com fé suplicavam paz e a salvação para o mundo. Foi nesta atmosfera humana que brilhou o belo e risonho dia 13 de Maio de 1917.
Neste dia as três crianças apascentavam um pequeno rebanho na Cova da Iria, freguesia de Fátima, conselho de Vila Nova de Ourém, hoje diocese de Leiria-Fátima. Chamavam-se Lúcia de Jesus, já com 10 anos, e Francisco e Jacinta Marto, seus primos, de 09 e 07 anos.
Por volta do meio dia, depois de rezarem o terço, como habitualmente faziam, entretinham-se a construir uma pequena casa de pedras soltas, no local onde hoje se encontra a Basílica. De repente, viram uma luz brilhante; julgando ser um relâmpago, decidiram ir-se embora, mas, logo abaixo, outro clarão iluminou o espaço, e viram em cima de uma pequena azinheira (onde agora se encontra a Capelinha das Aparições), uma "Senhora mais brilhante que o sol", de cujas mãos pendia um terço branco.
A Senhora disse aos três pastorinhos que era necessário rezar muito e convidou-os a voltarem à Cova da Iria durante mais cinco meses consecutivos, no dia 13 e àquela hora. As crianças assim fizeram, e nos dias 13 de Junho, Julho, Setembro e Outubro, a Senhora voltou a aparecer-lhes e a falar-lhes, na Cova da Iria. A 19 de Agosto, a aparição deu-se no sítio dos Valinhos, a uns 500 metros do lugar de Aljustrel, porque, no dia 13, as crianças tinham sido levadas pelo Administrador do Conselho, para Vila Nova de Ourém.
Na última aparição, a 13 de Outubro, estando presentes cerca de 70.000 pessoas, a Senhora disse-lhes que era a "Senhora do Rosário" e que fizessem ali uma capela em Sua honra.
Depois da aparição, todos os presentes observaram o milagre prometido às três crianças em Julho e Setembro: o sol, assemelhando-se a um disco de prata, podia fitar-se sem dificuldade e girava sobre si mesmo como uma roda de fogo, parecendo precipitar-se na terra.

Posteriormente, Nossa Senhora apareceu só a Lúcia uma 7ª vez em 15 de Junho de 1921 na cova da Iria como ela mesma conta em seu diário, indicando o caminho que Lúcia deveria seguir.
Após sendo Lúcia já religiosa de Santa Doroteia, Nossa Senhora apareceu-lhe novamente em Espanha (10 de Dezembro de 1925 e 15 de Fevereiro de 1926, no Convento de Pontevedra, e na noite de 13/14 de Junho de 1929, no Convento de Tuy), pedindo a devoção dos cinco primeiros sábados (rezar o terço, meditar nos mistérios do Rosário, confessar-se e receber a Sagrada Comunhão, em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria) e a Consagração da Rússia ao mesmo Imaculado Coração. Este pedido já Nossa Senhora o anunciara em 13 de Julho de 1917, na parte já revelada do chamado "Segredo de Fátima".

 
Deus olhou para o mundo com bondade e misericórdia no silêncio da Cova da Iria.


1ª APARIÇÃO – 13 de Maio de 1917.

Lúcia descreve com exatidão o primeiro encontro com a Virgem da carrasqueira:

Andando a brincar com a Jacinta e o Francisco, no cimo da encosta da Cova da Iria a fazer uma paredezita em volta de uma moita, vimos de repente como que um relâmpago.
– É melhor irmos embora para casa. Disse a meus primos:
– Estão a fazer relâmpagos e pode vir trovoada.
E começamos a descer a encosta, tocando as ovelhas em direção à estrada. Ao chegar mais ou menos a meio da encosta quase junto de uma azinheira grande que aí havia, vimos outro relâmpago e dado alguns passos mais adiante vimos sobre uma carrasqueira uma Senhora vestida toda de branco mais brilhante que o Sol, espargindo luz mais clara e intensa que um copo de água cristalina atravessado pelos raios do sol mais ardente.
Paramos surpreendidos pela aparição. Estávamos tão perto que ficávamos dentro da luz que a cercava ou que Ela espargia, talvez a metro e meio, mais ou menos.
Então Nossa Senhora disse-nos:
– Não tenhais medo, hei não vos faço mal.
– De onde é Vossemecê? Lhe perguntei.
– Sou do Céu!
– E que é que Vossemecê me quer?
– Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia e a esta mesma hora, depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei aqui ainda uma sétima vez.
– E eu também vou para o Céu?
– Sim, vais!
– E a Jacinta?
– Também.
– E o Francisco?
– Também, mas tem que rezar muitos terços...
Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores?
– Sim queremos!
– Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.

Foi ao pronunciar estas palavras (a graça de Deus, etc...) que abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazia-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz; mais claramente que nos vemos no melhor dos espelhos.
Então por um impulso íntimo, também comunicado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente: "Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro, Meu Deus, Meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento."

Passados os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou:

– Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz do mundo e o fim da guerra.

Em seguida começou a elevar-se serenamente subindo em direção ao nascente até desaparecer na imensidade da distância. A luz que A circundava ia como que abrindo um caminho no cerrado dos astros, motivo porque algumas vezes dissemos que vimos abrir-se o Céu.


2ª APARIÇÃO – 13 de Junho de 1917.

Aí pelas 11 horas saí de casa, passei por casa de meus tios onde a Jacinta e o Francisco me esperavam e lá vamos para a Cova da Iria à espera do momento desejado... Depois de rezar o terço com a Jacinta e Francisco e mais pessoas que estavam presentes (Conforme contou o Sr. Inácio António Marques, assistiram 40 pessoas!), vimos de novo o reflexo da luz que se aproximava (a que chamávamos relâmpago) e em seguida Nossa Senhora sobre a carrasqueira, em tudo igual a Maio.
– Vossemecê que me quer? Perguntei.

– Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois direi o que quero.

– Pedi a cura de um doente.

– Se, se converter, curar-se-á durante o ano.

– Queria Pedir-lhe para nos levar para o Céu.

– Sim, a Jacinta e o Francisco levo-os em breve, mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração. A quem a aceita, prometer-lhe-ei a salvação e estas almas serão amadas de Deus, como flores colocadas por Mim para enfeitar o Seu Trono.

– Fico cá sozinha? Perguntei com pena.

– Não, filha! E tu sofres muito! Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.

Foi no momento em que disse estes palavras, que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus.
A Jacinta e o Francisco parecia estarem na parte dessa luz que se elevava para o Céu, e eu, na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora estava um Coração cercado de espinhos que parecia estarem-Lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade que queria reparação.
Eis ao que nos referíamos quando dizíamos que Nossa Senhora nos tinha revelado um segredo em Junho. Nossa Senhora não nos mandou ainda desta vez guardar segredo, mas sentíamos que Deus a isso nos movia.



3ª APARIÇÃO – 13 de Julho de 1917.

Escreve a Irmã Lúcia
Momentos depois de termos chegado à Cova da Iria, junto da carrasqueira, entre numerosa multidão de povo, estando a rezar o terço, vimos o reflexo da costumada luz e em seguida Nossa Senhora sobre a carrasqueira.

– Vossemecê que me quer? Perguntei.

– Quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que continuem o rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só ela Lhes poderá valer.

– Queria pedir-Lhe para nos dizer quem é, para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemecê nos aparece.

– Continuem a vir aqui todos os meses, em Outubro direi quem sou, o que quero, e farei um milagre que todos hão de ver para acreditar.

Aqui fiz alguns pedidos, que não recordo bem quais foram.
O que me lembro é que Nossa Senhora disse que era preciso rezar o terço para alcançar as graças durante o ano. E continuou:

– Sacrificai-vos pelos pecadores, e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício:  "O Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria."


        
         SOBRE O SEGREDO DE FÁTIMA.

1ª e 2ª Parte do segredo

1ª. Consta da visão do inferno.
2ª. A Devoção ao Meu Imaculado Coração com a  comunhão reparadora nos primeiros sábados e a  Consagração da Rússia.

O texto que segue, nesta narração, fazia já parte do segredo que, em 1917, Nossa Senhora pediu aos Pastorinhos não contassem a ninguém e que eles não revelaram nem mesmo quando o Administrador os prendeu e ameaçou mandar fritar em azeite a ferver. Só em 31 de Agosto de 1941, na carta escrita em Tuy ao Bispo D. José Alves Correia da Silva, Lúcia diz ser "chegado o momento" de falar do segredo, acrescentando: Bem; o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar.

1ª Parte:

A primeira foi, pois, a vista do inferno! Nossa Senhora .... Ao dizer estas palavras, abriu de novo as mãos como nos dois meses passados. O reflexo pareceu penetrar a terra e vimos como que um mar de fogo, mergulhados nesse fogo os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que deles mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo de todos os lados semelhante ao cair das fagulhas nos grandes incêndios, sem peso, nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Devia ser ao deparar-me com esta visão que dei esse Ai, que dizem ter-me ouvido.

 

(No jornal O Século, de 23 de Julho de 1917, lia-se: "ouviu-se um ruído semelhante ao ribombar do trovão, pro rompendo as crianças num choro aflitivo, fazendo gestos epiléticos e caindo depois em êxtase.")

Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa. Esta visão foi um momento, e graças à Nossa boa Mãe do Céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Céu. Se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor. Assustados e como que a pedir socorro, levantamos a vista para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza:

         2ª parte:

- Vistes o inferno para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz: a guerra vai acabar. Mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite iluminada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas: por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal conservar-se-á sempre o dogma da fé, etc...


3ª Parte do segredo.

Quanto à terceira parte do segredo, encontrando-se Lúcia doente, em Tuy, descreveu-a em 3 de Janeiro de 1944, também por ordem do Bispo de Leiria, entregando-a num envelope fechado. Lúcia diz nessa carta:

Escrevo em ato de obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de sua Ex.cia. Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe.
 Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos numa luz imensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas num espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre”. Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam varias tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus.

Continuando a carta de 31 de Agosto de 1941:

– Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco sim, podeis dizê-lo. Quando rezardes o terço, dizei depois de cada mistério:

Ó meu Jesus, perdoai-nos livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o céu, principalmente aquelas que mais precisarem.

Seguiu-se um instante de silêncio e perguntei:

– Vossemecê não me quer mais nada?

– Não, hoje não te quero mais nada.

E como de costume começou a elevar-se em direção ao nascente até desaparecer na imensa distância do firmamento.»



4ª APARIÇÃO – 19 de Agosto de 1917.

         A Aparição foi no domingo, em 19 de Agosto de 1917 ao cair da tarde..
         Andando com as ovelhas na companhia de Francisco e seu irmão João, num lugar chamado Valinhos e sentido que alguma coisa de sobrenatural se aproximava e nos envolvia, suspeitando que Nossa Senhora nos viesse a aparecer e tendo pena que a Jacinta ficasse sem A ver, pedimos a seu irmão João que a fosse chamar. Como ele não queria ir, ofereci-lhe para isso dois vinténs e lá foi a correr.
         Entretanto, vi com o Francisco, o reflexo da luz a que chamávamos relâmpago; e chegada a Jacinta, vimos Nossa Senhora sobre uma carrasqueira.

 - Que é que Vossemecê me quer?

- Quero que continueis a ir à Cova da Iria no dia 13, que continueis a rezar o terço todos os dias. No último mês farei o milagre para que todos acreditem.

- Que é que Vossemecê quer que se faça ao dinheiro que o povo deixa na Cova da Iria?

- Façam dois andores: um, leva-lo tu com a Jacinta e mais duas meninas vestidas de branco; o outro que o leve o Francisco com mais três meninos. O dinheiro dos andores é para a festa de Nossa Senhora do Rosário e o que sobrar é para a ajuda duma capela que hão de mandar fazer.

- Queria pedir-lhe a cura de alguns doentes.

- Sim, alguns curarei durante o ano.

E tomando um aspecto mais triste:

- Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno, por não haver quem se sacrifique e peça por elas.
        
E como de costume, começou a elevar-se em direção ao nascente.
         A Aparição nos Valinhos foi para o Francisco de dobrada alegria. Sentia-se torturado pelo receio de que Ela não voltasse. Depois dizia:
- De certo não nos apareceu no dia 13 para não ir a casa do Sr. Administrador, talvez por ele ser tão mau.
         Em seguida, como a irmã disse que queria ficar ali o resto da tarde:
- Não! Tu tens que ir embora, porque a mãe hoje não te deixou vir com as ovelhas.
E para animar, foi acompanhá-la à casa.
     
O tempo todo as três crianças dedicavam à oração e a imaginar que mortificações poderiam praticar pela conversão dos pecadores. No mês de agosto, de maior seca, chegaram a ficar nove dias sem beber água. Em lugar de comer as frutas doces que os pais lhes davam, comiam ervas do campo e pinhas verdes. Tendo encontrado uma corda áspera no caminho para Aljustrel, os três a repartiram para usar na cintura como um silício, dia e noite.
Eram claros os sinais de que essas penitências agradavam a Deus. Particularmente, Jacinta agora era mais paciente, carinhosa, e aberta aos sofrimentos. Teve muitas visões sobre coisas futuras. Certo dia rezou três Ave-Marias por uma mulher muito doente, e todos os sintomas da doença desapareceram. Por outra mulher, que os injuriava chamando-as de impostoras e mentirosas, Jacinta pediu que os três fizessem muitas penitências para que se convertesse; e de fato, nunca mais a ouviram dizer uma palavra menos bondosa.




5ª APARIÇÃO – 13 de Setembro de 1917.

         Dia 13 de Setembro de 1917. Ao aproximar-se a hora, lá fui com a Jacinta e o Francisco, entre numerosas pessoas que a muito custo nos deixavam andar...
Chegamos por fim à Cova da Iria, junto da carrasqueira, e começamos a rezar o terço com o povo. Pouco depois vimos o reflexo da luz e a seguir Nossa Senhora sobre azinheira.

- Continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra. Em Outubro virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, São José com o Menino Jesus para abençoarem o mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda. Trazei-a só durante o dia.

- Têm-me pedido para Lhe pedir muitas coisas, a cura de alguns doentes, dum surdo-mudo.

- Sim, alguns curarei; outros não. Em Outubro farei o milagre para que todos acreditem.
        
E começando a elevar-se, desapareceu como de costume.



6ª APARIÇÃO – 13 de Outubro de 1917.

         Conta Irmã Lúcia:
Tinha-se espalhado o boato que as autoridades haviam decidido fazer explodir uma bomba junto de nós, no momento da aparição. Não concebi, com isso, medo algum, e falando a meus primos, dissemos:
- Mas que bom, se nos for concebida a graça de subir dali com Nossa Senhora para o Céu!
         No entanto meus pais assustaram-se e pela primeira vez quiseram acompanhar-me, dizendo:
- Se a minha filha vai morrer, eu quero morrer a seu lado.
         Meu pai levou-me então pela mão até o local das aparições, mas desde o momento da aparição não o voltei mais a ver até que me encontrei à noite no seio da família.
         Pelo caminho as cenas do mês passado, porém mais numerosas e comovedoras. Nem a lamaceira dos caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais humilde e suplicante.
         Chegados à Cova da Iria junto da carrasqueira, levada por um movimento interior, pedi ao povo que fechasse os guarda-chuvas para rezarmos o terço. Pouco depois vimos o reflexo da luz e em seguida Nossa Senhora sobre a carrasqueira.

- Que é que Vossemecê quer?

- Quero dizer-te que façam aqui uma capela em minha honra.
  "Sou a Senhora do Rosário". Que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas.

- Eu tinha muitas coisas para lhe pedir. Se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc.
         Respondeu-me dizendo:

- Uns sim, outros não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados.

E tomando um aspecto triste:

- Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido.


O SOL DANÇOU EM FÁTIMA.


Despedindo-se, a Senhora abriu as mãos, como das outras vezes, e o brilho que delas saía subia até onde devia estar o sol. A multidão viu as nuvens se abrirem e o sol aparecer entre elas, no azul do céu, como um disco luminoso. Muitos ouviram Lúcia gritar:

- Olhem para o sol!

 


Porém, ela estava em êxtase e não se recorda de ter dito isso, pois estava totalmente absorta em outras visões que se sucederam... 
Na cova da Iria 70.000 pessoas esperavam durante 4 horas, à chuva, molhadas até aos ossos, em poças de água com cerca de 10cm de profundidade, agüentando até o frio.

Conta Lúcia:
"Desaparecida Nossa Senhora na imensidade do firmamento, vimos ao lado do sol São José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco com um manto azul. São José com o Menino pareciam abençoar o mundo, pois faziam com as mãos uns gestos em forma de cruz."
E somente Lúcia teve a visão seguinte:
"Pouco depois, desvanecida essa aparição, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora que me dava a idéia de ser Nossa Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abençoar o mundo da mesma forma que São José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda Nossa Senhora em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo".

Enquanto isso, a multidão presenciava o milagre prometido por Nossa Senhora:
O sol rompia as nuvens e, bem no zênite, na posição de meio-dia, brilhava como um disco de prata. Era possível realmente olhar para ele, sem que sua luz ofuscasse. Isso foi por um instante.
Todos ainda olhavam para o sol, assombrados, quando ele começou a "dançar", segundo a descrição das pessoas: ele começou a girar sobre si mesmo, como uma bola de fogo, e então parou. Logo voltou a girar, mas velozmente. Ainda girando, suas bordas ficaram escarlates e começaram a lançar chamas por todo o céu, e com isso sua luz se refletia em tudo e em todos, com as diferentes cores do espectro solar. Ainda girando rapidamente, e espargindo chamas coloridas, por três vezes o sol pareceu desprender-se do céu e precipitar-se em zigue-zague sobre a multidão.
Muitos julgavam ser o fim do mundo, e as pessoas se ajoelhavam na lama pedindo perdão de seus pecados. Houve quem fizesse confissão pública em altos brados, e alguns dos que haviam ido até a Cova para fazer troça dos crédulos prostraram-se em terra entre soluços e orações desajeitadas. O fenômeno durou por uns dez minutos, e depois, elevando-se em zigue-zague, o sol voltou a sua posição normal e brilhante, ofuscando como o sol comum.
As pessoas se entreolhavam e diziam:
"Milagre! Milagre! As crianças tinham razão! Nossa Senhora fez o milagre! Bendito seja Deus! Bendita seja Nossa Senhora!" Muitos riam, outros choravam de alegria, e houve quem notasse que suas roupas se haviam secado subitamente.

Durante mais de quatro horas chovera torrencialmente e fizera muito frio. E então, exatamente como fora profetizado 92 dias antes, exatamente à hora indicada, parou a chuva e ficou imediatamente bom tempo. Apareceu um maravilhoso arco-íris, promissor de felicidade. A natureza utilizou aqui este jogo de luz, embora contra as regras, pois um arco-íris normalmente pode ser visto de manhã ou à tardinha, não ao meio-dia. Mas o arco-íris apareceu sobre Fátima ao meio-dia, as suas cores brilharam com uma intensidade cem vezes superior à normal, formando em vez de um arco abobado, uma grande faixa com 12 metros de altura que cobriu homens, muros e árvores.
Depois deste jogo de cores, o poderoso calor crescente empurrou o tempo chuvoso para o céu. A água evaporou-se rapidamente, e surgiu um grande calor. Mas isso não incomodou ninguém.

Os nossos físicos não conhecem processos tão rápidos de secagem, pois a quantidade da água evaporada não pode subir em poucos minutos para a atmosfera. Quando terminou o triplo jogo de luz, tudo estava completamente seco. Vários milhares de toneladas de água deviam ter-se evaporado em menos de 3 minutos. Certamente o ar, o quarto elemento, causaria os maiores problemas para os operadores de televisão. Enquanto eles poderiam mais ou menos filmar os efeitos dos elementos acima descritos, não teriam capacidade de captar a coluna do ar.
         As muitas nuvens e altitudes que diferiam de algumas centena a vários milhares de metros, foram movidas, e de tal maneira sobrepostas que o sol verdadeiro perdeu o brilho e nenhuma das 70.000 pessoas sofreu danos na retina ocular. Desse modo as diferentes aberturas entre nuvens foram dirigidas com precisão sensacional.
        
No meio da multidão estiveram os três Pastorinhos que, durante o bailar do sol, se encontraram com a Senhora de dignidade real.
        
Se tivéssemos estado naquele dia em Fátima, mesmo só como observadores, teríamos regressado a nossas casas com um entusiasmo de inexplicável felicidade. O nosso pensamento teria sido: Que maravilha é o nosso planeta!
         A água pantanosa e a lama fria transformaram-se em suave beleza estival!
         O disco, que se confundiu com o sol, bailou nas alturas e desceu em frente da multidão, numa proximidade palpável, sem contudo ameaçar!      
        
Graças a Deus e graças aquela que do céu nos trouxe à terra este presente, certamente não com a intenção de assustar, mas para provar a sua vinda!
         

Sobre os Sinais.

Só um milagre – obra divida – põe nos acontecimentos o sinete de Deus. Assim aconteceu com o próprio Salvador.
         Jesus, no início da sua vida pública, encontrou vendedores e cambistas no templo e expulsou-os a todos. Então os judeus perguntaram-lhe: Que sinal nos dás de poderes fazer isto?
         Jesus respondeu-lhes: Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei.
         Replicaram então os judeus: Quarenta e seis anos levou este templo a construir, e Tu vais levantá-lo em três dias?
         Ele, porém, falava do templo que é o seu corpo. Por isso, quando Jesus ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha dito... (Jô 2,17-22).
         Outra altura, quando Ele ensinou o povo e anunciou o Evangelho, também os sumos sacerdotes, os escribas e os anciãos se aproximaram dele e lhe perguntaram: com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu autoridade para as fazeres? (Mt 11,27-28)
         Jesus disse-lhes: Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou o que sou e que nada faço por mim mesmo, mas falo destas coisas tal como o Pai me ensinou. E aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou só, porque faço sempre aquilo que lhe agrada. (Jô 8,28-29)
         Noutro dia disseram-lhe alguns doutores da lei e fariseus: Mestre, queremos ver um sinal feito por ti.
         Ele respondeu-lhes: Geração má e adúltera! Reclama um sinal, mas não lhe será dado outro sinal, a não ser o do profeta Jonas. Assim com Jonas esteve no ventre do monstro marinho, três dias e três noites, assim o Filho do Homem estará no seio da terra, três dias e três noites. (Mt 12,38-40; Lc 11,29-32)
         Quando vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: Vem lá a chuva; e assim sucede. E quando sopra o vento sul, dizeis: Vai haver muito calor; e assim acontece. Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é que não sabeis reconhecer o tempo presente? (Lc 12,54-56) As obras que o Pai me confiou para levar a cabo, estas mesmas obras que eu faço, dão testemunho de que o Pai me enviou. E o pai me enviou mantém o seu testemunho a meu favor. Nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu rosto, nem a sua palavra permanece em vós, visto não credes neste que ele enviou. (Jo 5,36-38) Na festa da Dedicação do templo, Jesus afirmou de novo: Se não faço as obras do meu Pai, não creias em mim; mas se as faço, embora não queirais crer em mim, crede nas obras, e assim vireis a saber e ficareis a compreender que o Pai está em mim e eu no Pai. (Jo 10,37-38)
         Embora Jesus tivesse realizado diante deles tantos sinais portentosos, não criam nele. (Jô 12,37) Jesus levantou a voz e disse: Quem crê em mim não é em mim que crê, mas sim naquele que me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em mim não fique nas trevas. (Jo 12,44-46) Jesus, ressuscitou no terceiro dia, como tinha anunciado.
        
A missão de Nossa Senhora foi também confirmada pelo milagre do sol, em 13 de Outubro de 1917. Se mais nada tivesse acontecido, houve pelo menos uma profecia claramente anunciada três meses antes e completamente cumprida!
No dia e à hora anunciada, deu-se um fenômeno nunca antes visto, que dezenas de milhares de pessoas presenciaram e testemunharam.

Testemunhou-o também o jornalista Avelino de Almeida, que fora enviado pelo diário “O Século”, para relatar o acontecimento desse dia 13 de Outubro de 1917, na Cova da Iria. Com os seus próprios olhos viu as coisas espantosas e nesse jornal diário, em 15 de Outubro, Sob o título: “Como o sol bailou ao meio dia em Fátima”, descreveu:
E, quando já não imaginava que via alguma coisa mais impressionante do que essa rumorosa, mas pacífica multidão animada pela mesma obsessiva idéia e movida pelo mesmo poderoso anseio, que vi eu ainda de verdadeiramente estranho na charneca de Fátima? A chuva, à hora pronunciada, deixar de cair; a densa massa de nuvens romper-se e o astro rei – disco de prata fosca – em pleno zênite aparecer e começar dançando num bailado violento e convulso, que grande número de pessoas imaginava ser uma dança serpentina, tão belas e rutilantes cores revestiu sucessivamente a superfície solar...
Milagre, como gritava o povo; fenômeno natural, como dizem sábios?
Não curo agora de sabê-lo, mas apenas de afirmar o que vi... O resto é com a ciência e com a Igreja.

7ª Aparição – 15 de Junho de 1921.

Na 1ª aparição de Nossa Senhora em 13 de Maio de 1917, ELA disse:
- Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia e a esta mesma hora, depois vos direi quem Sou e o que quero.
Depois voltarei aqui ainda uma sétima vez.


Em 1920 a Diocese de Leiria foi restaurada, e sagrado Bispo diocesano D. José Alves Correia da Silva, que logo quis informar-se dos acontecimentos de Fátima e do paradeiro da Lúcia, única sobrevivente dos pastorinhos.
         Ao saber que, nessa ocasião, ela se encontrava em Fátima, pediu a uma senhora da sua confiança o favor de ir ver se, com a licença da mãe, a levava a Leiria.
         Assim, Lúcia encontrou-se pela primeira vez com D. José que a interrogou sobre as aparições, ao que ela respondeu o melhor que pode e soube. Depois, propôs-lhe deixar Fátima para ir para o Porto, porque por lá ainda não era conhecida. Não falaria a ninguém das aparições de Fátima, nem de seus pais, nem da sua família, nem revelaria o seu verdadeiro nome, nem a sua terra natal; não receberia visitas, a não ser das senhoras a quem a ai entregar, para cuidarem dela; não devia escrever a ninguém, a não ser a sua mãe, devia mandar as suas cartas ao Vigário do Olival, que se encarregaria de entregá-las à mãe, e que esta, as cartas que lhe escrevesse devia, igualmente, enviá-las ao Vigário do Olival para, por meio de Sua Reverendíssima, lhe serem enviadas; que não voltaria a Fátima para passar férias nem para qualquer outra coisa, sem a sua licença.
        
Sabemos hoje, do diário da Irmã Lúcia:
         De novo em Fátima, guardei inviolável o meu segredo, mas a alegria que senti, ao me despedir do Senhor Bispo, durou pouco tempo, Lembrava-me dos meus familiares, da casa paterna, da Cova da Iria, Cabeço, Valinhos, do poço... e agora deixar tudo, assim, de uma vez para sempre? Para ir não sei bem para onde...? Disse ao Sr. Bispo que sim, mas agora vou dizer-lhe que me arrependi e que para aí não quero ir.
        
E como que em oração dirigida à Mãe do Céu, continua:
         Assim foste Tu, a que me tomaste pela mão e me conduziste os passos. Sim, mais de uma vez, vieste à terra para indicar-me o caminho, sem Ti, teria perdido o norte e desviado o caminho estreito.
         Foi o dia 15 de Junho de 1921, viste a minha luta, a indecisão e o arrependimento do sim que antes tinha dado, a incerteza do que iria encontrar, a resolução de voltar atrás. O conhecimento do que deixava, e a saudade a desgarrar-me o coração!
         Esse Adeus a tudo, no desabrochar da juventude onde um belo futuro me sorria na casa da minha querida Senhora D. Assunção Avelar e outras que me ofereciam, o carinho maternal com igual afeto, deixar tudo e a casa paterna, por uma incerteza do que iria encontrar, oprimia-me o coração e fazia-me pressentir o que nem queria pensar!...
Podia lá ser? Perguntava a mim mesma. - Não, - digo a minha Mãe que não quero ir e com não aparecer amanhã em Leiria tudo está resolvido, volto depois para Lisboa, para Santarém para casa da minha querida Sr. D. Adelaide, ou para Leiria para as Senhoras Patrício, em qualquer dos sítios estou muito melhor, posso estudar e conseguir um bom futuro.
Para onde o Sr. Bispo me quer levar, não sei como será, é com a condição de não voltar mais a casa, por isso não voltarei mais a ver a família, nem estes lugares benditos! Cova de Iria, Loca do Cabeço, Valinhos, Poço do Arneiro, a Igreja onde fica o meu Jesus escondido e onde tantas graças tenho recebido! O sorriso da minha primeira Comunhão! Vila Nova de Ourém onde fica a Jacinta, o cemitério onde ficam os restos mortais de meu querido Pai e Francisco! Nunca mais voltar a pisar esta terra abençoada, para ir sabe Deus para onde! Sem nem sequer poder escrever diretamente à minha mãe! Impossível, não vou!
E foi entre esta multidão de pensamentos sombrios que percorri o caminho desde a Igreja de Fátima, onde de manhãzinha cedo foi para assistir à Santa Missa e comungar por despedida, até à Cova de Iria.
Aí ajoelhada e debruçada sobre a pequena grade que resguardava a terra que tinha alimentado a feliz carrasqueira onde Nossa Senhora pousou os Seus Imaculados pés, deixei as lágrimas correrem em abundância enquanto que pedia a Nossa Senhora perdão de não ser capaz de oferecer-Lhe desta vez, este sacrifício que me parecia superior as minhas forças. Recordava sim, esse mais belo dia 13 de Maio de 1917, em que tinha dado o meu “Sim” prometendo aceitar todos os sacrifícios que Deus quisesse enviar-me. E esta recordação era como que uma luz no fundo da alma, um escrúpulo que me não dava paz, e me fazia verter uma torrente de lágrimas.
Nesse momento, bem longe estava eu de pensar num novo encontro, nem no cumprimento da promessa: “Voltarei aqui, uma sétima vez”. Tinha tantos mais dignos do que eu a quem podias manifestar-Te!  Mas não é aos filhos mais pequeninos e necessitados que as mães socorrem em primeiro lugar? Por certo que, desde o Céu, o Teu maternal olhar me seguia os passos e no espelho Imenso da Luz que é Deus, viste a luta daquela a quem prometeste especial proteção. “Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.”
Assim solícita, mais uma vez desceste à terra, e foi então que senti a tua mão amiga e maternal tocar-me no ombro; levantei o olhar e vi-Te, eras Tu, a Mãe Bendita a dar-me a Mão e a indicar-me o caminho; os Teus lábios descerraram-se e o doce timbre da tua voz restituiu a luz e a paz à minha alma.
Disse Nossa Senhora:
 - “Aqui estou pela sétima vez, vai, segue o caminho por onde o Senhor Bispo te quiser levar, essa é a vontade de Deus.”
Repeti então o meu “Sim”, agora bem mais consciente do que, o dia 13 de Maio de 1917 e enquanto que de novo Te elevavas ao Céu, como num relance, passou-me pelo espírito toda a série de maravilhas que naquele mesmo lugar, havia apenas 4 anos, ali me tinha sido dado contemplar. Recordei a minha querida Nossa Senhora do Carmo e nesse momento senti a graça da vocação à vida religiosa e o atrativo pelo Claustro do Carmelo.
Tomei por protetora a minha querida Sóror Teresinha do Menino Jesus. Dias depois, por conselho do Sr. Bispo, tomei por norma a “Obediência”  e por lema as palavras de Nossa Senhora narradas no Evangelho – “Fazei tudo o que Ele vos disser”.


8ª Aparição – 10 de Dezembro de 1925 – á Irmã Lucia na Espanha.
Dia 10/12/1925, apareceu-lhes a SS. Virgem e ao lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. A SS. Virgem, pondo-lhe no ombro a mão e mostrando, ao mesmo tempo, um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos.
Ao mesmo tempo, disse o Menino:
Tem pena do Coração de tua SS. Mãe que está coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos lhe cravam sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar.
E em seguida disse a SS. Virgem:
Olha, minha filha, o Meu coração cercado de espinhos que os homens ingratos me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de me consolar e diz que todos aqueles que durante cinco meses, ao 1º sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.

 FÁTIMA E A MODERNIDADE – PROFECIA E ESCATOLOGIA.

Apresentamos aqui um estudo do Sr. D. Antônio dos Santos Marto, bispo de Fátima - Portugal.

“O raio e o trovão precisam de tempo, a luz dos astros precisa de tempo, as ações precisam de tempo para poderem ser vistas e ouvidas” (Nietzsche) Esta frase de Nietzsche, apesar de se referir a um contexto diferente, pode bem aplicar-se à mensagem das aparições de Nossa Senhora em Fátima em 1917. Só distanciando-nos no tempo, no início de um novo século, somos capazes de captar toda a sua grandeza, profundidade e relevância.

Um historiador inglês, G. J. Hobsbawn, define o século XX como “século breve”: O faz começar em 1914 com a primeira guerra mundial e acabar em 1989 com a queda do muro de Berlim.
Precisamente este período de tempo é abrangido de modo especial na mensagem de Fátima. As aparições tiram o seu significado particular do momento histórico, social, político, cultural e religioso ao qual dirigem a sua interpelação e que procuram iluminar com a sua mensagem.
Segundo a doutrina de S. João da Cruz as aparições são o invólucro da mensagem. A primazia cabe à mensagem de amor. A Igreja considera-as “revelações privadas” que não podem ser comparadas à Revelação consignada na Sagrada Escritura. O seu objetivo não é fundamentar a fé mas servi-la.

Não acrescentam nada à única revelação, mas podem ser um humilde apelo. Constituem sinais sensíveis nos quais Deus se comunica segundo a capacidade daquele que o recebe. O seu papel pode aproximar-se ao dos ícones que, segundo a teologia oriental, são uma “verdadeira objetivação, inspirada pelo Espírito Santo [...] geradora e portadora de presença”. Elas pertencem à ordem do carisma, isto é, são um dom de Deus a um membro do corpo de Cristo para bem de todo o corpo. Como todos os carismas de caráter excepcional, não devem ser procuradas mas acolhidas, em ação de graças, com discernimento e prudência.
Na expressão de K. Rahner, uma revelação privada não representa uma inovação, isto é, uma nova interpretação das realidades da fé; é antes a revelação de um imperativo evangélico numa determinada situação histórica da Igreja e do mundo, a realizar com urgência num preciso momento requerido pela própria situação histórica e de acordo com os princípios gerais da revelação oficial e da fé eclesial. Por isso a revelação privada é uma atualização de uma determinada época, uma aplicação histórica da revelação fundadora num determinado tempo, de modo a inseri-la nas consciências e na cultura como graça, promessa, existência e juízo, de modo a que os ouvintes e os destinatários se confrontem com um chamamento direto de Deus que convida à obediência da fé.

As aparições são um sinal de Deus para a nossa geração. E Maria aparece como a serva do Senhor, disponível ao serviço da Igreja no mundo. As aparições querem ainda preparar a Igreja para o futuro, por vezes com tons apocalípticos. Penso ser necessário fazer este preâmbulo à maneira de introdução porque, relativamente às aparições, constata-se com freqüência uma curiosidade por vezes doentia que corre o risco de se fixar sobre detalhes periféricos sem captar o fundamental.
As aparições e a conseqüente revelação não podem fazer esquecer a dramática situação histórica na qual a comunidade cristã está inserida. Por isso só na medida em que as aparições se colocam numa relação com a história quotidiana e com as grandes provocações que partem da humanidade, se pode pensar estarmos perante uma mensagem que é dada para provocar a fé, que se tornou tépida e indiferente.
Uma reflexão teológica a este propósito não poderá dispensar uma análise atenta ao contexto sócio cultural em que as aparições acontecem, por exemplo, as condições peculiares que a Igreja vive num determinado momento.

1. No horizonte da Modernidade.

É bem evidente como a mensagem de Fátima se refere à nova era dos tempos modernos com particular incidência na época dos dois grandes conflitos que marcam a história do século XX, com todo o contexto em que estes se inserem e com tudo aquilo de que são expressão. A primeira e a segunda guerra mundiais constituem como que um prisma do mal neste século, onde de vários ângulos se refletem e se podem observar as principais facetas do mal e os seus efeitos perversos:

– A novidade trágica da forma política totalitária, nas versões do estalinismo e do nazismo, típica do século XX;
– O recurso à mentira sistemática para fabricar uma verdade e reescrever a história;
– Um programa de negação de Deus e da Sua expulsão da vida pública e das próprias consciências através um ateísmo e um laicismo militantes;
– A aniquilação e a morte do ser humano e o desprezo total da dignidade da pessoa, na expressividade numérica de dezenas de milhões de vítimas, em nome da pureza radical da ideologia, da revolução ou da raça, elevadas à categoria de novas divindades;
– A novidade daquela que viria a ser chamada a “guerra total” que, infringindo os códigos tradicionalmente aceites, dava via livre à liquidação dos civis e inocentes, usando todos os instrumentos científico-técnicos mais modernos. Isto representa o levar até ao extremo o poder arbitrário que não conhece limites, qualquer limite.
– O fenômeno coletivo de ódio e de violência que se apoderou de pessoas e povos.

Numa leitura teológica dos sinais dos tempos, a guerra mundial e a guerra total representam isto é, tornam presente, um concentrado do mal, um símbolo real damundialização do pecado experimentada pela primeira vez na sua monstruosidade, no seu horror e terror a nível planetário.
Põem em evidência tanto as formas do mal organizado do qual está tragicamente cheio o nosso século, como a aceitação da normalidade e da banalidade do mal, agora racionalmente justificado e legitimado, cientifica e tecnicamente programado e executado. À distância de tempo aparecem-nos hoje com mais clareza a metamorfose, a ruptura e a degeneração da modernidade e dos seus êxitos potencialmente destruidores.
A novidade dos tempos modernos não consiste propriamente no fato de o homem ter decidido usar livre e publicamente a razão, segundo o lema de Kant. Este lema lança as suas raízes no cristianismo, na convicção de que o homem é criado à imagem de Deus, capaz de conhecimento criador.
O que marca a ruptura de uma época é o fato de a modernidade se apresentar como um projeto ambicioso de salvação do homem pelo homem, que teve a sua expressão teórica extrema no século XIX com “os mestres da suspeita” e a sua mensagem, de que foi herdeiro maior o marxismo: é preciso que Deus morra para que o homem viva.

O século XIX deixou na consciência geral, como herança, esta chaga aberta que entrou pelo século XX: o rancor contra Deus como inimigo do homem, que veio a redundar na própria morte do homem. Sintetizando com palavras de João Paulo II: “Esta mensagem, isto é a mensagem de Fátima, destina-se de modo particular aos homens do nosso século, marcado pelas guerras, pelo ódio, pela violação dos direitos fundamentais do homem, pelo enorme sofrimento de homens e nações e por fim, pela luta contra Deus até à negação da sua existência.”
A mensagem de Fátima contempla com lucidez e amargura esta tumultuosa e dramática vicissitude histórica. Depois das Escrituras é talvez a denúncia mais forte e impressionante do pecado do mundo que convida toda a Igreja e o mundo a um exame de consciência sério. Só quem tem o sentido forte da dignidade do homem perante Deus, do seu destino eterno, pode compreender quão grande é a tragédia do pecado e como a perda do sentido do pecado é, no mais profundo, a perda do sentido de tudo aquilo que é verdadeiramente humano.

“Com a eliminação de Deus das consciências, é o próprio homem que entra em perigo. No final do século está em jogo e risco não só a existência de Deus, mas também a dignidade do homem.”

Perante esta situação da humanidade ferida, a mensagem de Fátima é porta-voz do clamor das vítimas e torna-se um convite a ler a história a partir das vítimas, a deter-se perante o mistério do homem diante do mistério de Deus. Repropõe de modo veemente a antiga e sempre atual interpelação do Gênesis: “Adão, onde estás?” (3,9); isto é: onde está o homem? Onde está o homem no universo concentracionário de Auschwitz ou do gulag soviético? “Como se pode acreditar no homem ou inclusive como se pode crer na humanidade, que palavra sonora a este respeito! Se em Auschwitz se teve de experimentar aquilo de que o homem é terrivelmente capaz?”

O cinismo dos opressores modernos não é porventura expressão da impiedade do mundo moderno e do seu horripilante desprezo e abandono de Deus? Quem salvará o homem do próprio homem?


2. Nuvem de Misericórdia

A singular coincidência temporal destas aparições com horas históricas de extrema gravidade, a guerra, o novo credo do Bolchevismo e, por referência posterior, no novo paganismo nazi, permite-nos compreendê-las tanto em chave psicanalítica de pré-admoestação fatídica como em chave histórico salvífica de profecia, ou seja, de irrupção da Palavra do Alto, Palavra da Graça por vias não institucionais, isto é por via carismática.

A sugestiva expressão de S. Tiago de Sarug, falecido em 521, referida a Maria como “Nuvem de Misericórdia que carrega as angústias e esperanças de todo o mundo”, traduz bem o sentido das aparições de Fátima e o cerne da sua mensagem. Em primeiro lugar, a aparição da Virgem Mãe com a sua mensagem é percebida como uma intervenção do Altíssimo para manifestar e assegurar aos fiéis a não impassibilidade do coração de Deus, a sua vulnerabilidade, a sua dor e o seu grito de amor perante a devastação do pecado destruidor e o sofrimento do mundo e da Igreja: O Deus compassivo, o Deus para nós.
As arquiteturas da teologia clássica distanciavam demasiado Deus, metafisicamente, do humano; levavam os crentes a pensar num Deus não muito diferente do Destino dos pagãos, soberano, surdo, mudo e distante. Uma falsa idéia de Deus que não ia muito para além dos limites de um certo deismo: Deus motor imóvel, causa primeira, “monarca celeste e patriarca do Universo” (Moltmann), apático, impassível – “um Deus reduzido a um postulado abstrato da razão teórica ou prática, revestido eventualmente de um manto cristão”. Assim se ocultava o rosto genuíno do Deus de Jesus Cristo.
Na mensagem de Fátima, a desgraça e o pecado não deixam Deus indiferente, e Raquel continua a chorar os seus filhos (cf. Mt 2, 18). Por isso, do princípio ao fim, o cerne da mensagem está no convite premente a reconduzir para o centro da vida cristã e do mundo a adoração de Deus, Senhor da História, o reconhecimento da sua primazia, a adesão à sua vontade salvífica, o convite a acender o desejo de amor a Deus e estimular à prática do amor reparador. Tudo o resto tem aqui o seu centro de unidade e de irradiação.
Em segundo lugar, e numa certa ligação com o aspecto anterior, reflete-se na mensagem um paradoxo que é uma constante da História da salvação: a saber, o extremo e misterioso contraste entre a “grande” história das nações e dos seus conflitos, a história dos grandes e dos poderosos com a sua própria cronologia e geografia do poder, e a “pequena” história ignorada dos humildes e dos pequenos, dos pobres, privados do saber e do poder, na periferia do mundo.

E daqui, da periferia, são chamados a intervir na história a favor da paz, com outra força, outro poder, outros meios, aparentemente inúteis e ineficazes aos olhos humanos: o poder da oração do justo, dita com fervor, a perseverança na oração para obter o dom da paz através da adoração, da devoção reparadora, da conversão e do próprio sacrifício segundo os costumes piedosos da época, estão em consonância perfeita com o dado revelado na Escritura.

Os muros de Jericó caíram ao som das trombetas da oração, afirmava La Pira em 1959, no regresso da primeira viagem que um político ocidental efetuava à Rússia, depois da guerra.

Nesta perceptiva, a mensagem de Nossa Senhora é um apelo para nos abrirmos a uma outra dimensão da história, alimentada por outra Presença, sustentada por outra Força, conduzida por outra Luz, orientada para outra Meta, já agora misteriosa e silenciosamente presentes e operantes na cadeia das gerações que guardam a Promessa, “as Promessas” do Senhor e a transmitem, “as transmitem” de geração em geração.
O próprio filão de espiritualidade mariana que integra a mensagem de Nossa Senhora encontra em Maria, um pólo luminoso na contemplação do mistério da benevolência divina e da sua condescendência.
A devoção ao Coração Imaculado de Maria introduz-nos na “humanidade e benignidade do Nosso Deus e Senhor Jesus Cristo”. Chama-nos à fé simples e pronta “Daquela que acreditou no cumprimento das palavras do Senhor” (Lc 1,45). Ela acompanha não só o drama do “mistério da iniqüidade” no mundo, mas também o mistério da gestação dos crentes e do risco de incredulidade e de apostasia.
Nestes dois aspectos centrais acabados de referir, a não impassibilidade de Deus e a intervenção dos humildes na história por meio da adoração e intercessão, julgamos poder encontrar o eixo que permite coordenar organicamente os vários elementos típicos da mensagem de Fátima:
– O elemento sacrificial, centrado no sacrifício eucarístico e na oferta de si mesmo com Cristo.
– O elemento escatológico (visão do inferno e conversão dos pecadores) de uma urgência impressionante, à primeira vista quase desumana, a sublinhar o forte relevo que assumem as desgraças que pendem sobre a humanidade e sobre a Igreja, por causa do pecado. Traduz, à sua maneira, a advertência evangélica: “se não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo” (Lc 13,3).
– O elemento mariano da devoção e da consagração ao Coração Imaculado, como caminho para a adoração profunda do mistério de Deus, expresso no sim imaculado de Maria ao Seu desígnio de Amor, e assim também para alcançar o Dom da paz.
– O elemento eclesial, como comunhão solidária de toda a Igreja na intercessão pela paz no mundo e pela própria Igreja perseguida.
– O elemento pedagógico-religioso, concretizado em exercícios de piedade como orações, devoções, sacrifícios de matriz popular, como caminho espiritual simples e acessível a todo o povo, segundo os costumes do tempo e num registro de linguagem psicológica e afetiva: reparar, consolar, desagravar...


3. Num horizonte de fé Cristológica e Trinitária.

Por fim, toda a mensagem de Fátima é nos apresentada num horizonte de fé Cristológica e Trinitária. Aqui encontramos o contexto próximo em que está inserida a dimensão eucarística. A mensagem de Fátima na sua totalidade consta de três ciclos:

O ciclo angélico (aparições do anjo - 1916), o ciclo mariano (aparições de Nossa Senhora de 13 de Maio a 13 de Outubro de 1917) e o ciclo do Coração de Maria (aparições de Pontevedra em 1925-1926 e de Tuy – 1929 à Irmã Lúcia).

A meu ver, as aparições do Anjo e a última aparição em Tuy constituem, respectivamente, o pórtico de entrada e a chave de abóbada, à luz dos quais deve ser enquadrada e perspectivada toda a mensagem. É nelas que aparece marcadamente o mistério eucarístico em relação íntima com o mistério Trinitário.

Na primeira aparição, o Anjo comunica e suscita nos videntes o espírito de adoração reparadora na fé, esperança e caridade através de uma oração simples e bela:
“Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos; peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam”.
Na segunda aparição suscita o espírito de sacrifício através do sacrifício quotidiano.
E na última, explícita e concretiza o espírito de adoração sacrificial numa dimensão Trinitária e eucarística, através da oração e da comunhão, conferindo-lhe uma finalidade reparadora.

A oração do Anjo é extremamente iluminante:
“Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu Vos adoro profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrifícios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.
Já na primeira aparição de Nossa Senhora, a 13 de Maio, quando a graça de Deus lhes é revelada e comunicada sob a forma de “Luz tão intensa..., que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus que era essa luz”, os videntes rezaram intimamente:

“Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento”.


Aparição à Irmã Lúcia em 13 de Junho de 1929 – Tuy - Espanha

A Visão da Santíssima Trindade

Por fim, temos a última aparição em Tuy.
A Qual abóbada remata e sintetiza toda a mensagem nessa visão deslumbrante que compendia num só e único olhar o mistério da Trindade, o sacrifício redentor da Cruz, o sacrifício eucarístico e a presença e participação singular de Maria sob a cruz, com o Seu Coração Imaculado em todo este mistério da salvação do mundo.

 
Conta Ir. Lúcia:
- Eu tinha pedido e obtido licença das minhas Superioras e Confessor para fazer a Hora-Santa das 11 à meia-noite, de quintas para sextas-feiras. Estando uma noite só, ajoelhei-me entre a balaustrada, no meio da capela, a rezar, prostrada, as Orações do Anjo (...). Sentindo-me cansada, ergui-me e continuei a rezá-las com os braços em cruz. A única luz era a da lâmpada.
 De repente iluminou-se toda a Capela com uma luz sobrenatural e sobre o Altar apareceu uma Cruz de luz que chegava até ao teto. Em uma luz mais clara via-se, na parte superior da cruz, uma face de homem com corpo até a cinta, sobre o peito uma pomba também de luz e, pregado na cruz, o corpo de outro homem. Um pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um cálice e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas faces do Crucificado e duma ferida do peito. Escorregando pela Hóstia, essas gotas caíam dentro do Cálice. Sob o braço direito da cruz estava Nossa Senhora, “era Nossa Senhora de Fátima com o Seu Imaculado Coração... na mão esquerda... sem espada, nem rosas, mas com uma Coroa de espinhos e chamas...”, com o Seu Imaculado Coração na mão... Sob o braço esquerdo da cruz, umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do Altar, formavam estas palavras: “Graça e Misericórdia”. Compreendi que me era mostrado o mistério da Santíssima Trindade e recebi luzes sobre este mistério que não me é permitido revelar.

É interessante notar como esta representação da Trindade na Cruz é chamada na iconografia cristã “Trono da Graça”, pela evocação da passagem de Heb 4, 14-16:
“Tendo portanto um Sacerdote eminente que penetrou nos céus, Jesus, o Filho de Deus, conservemos firme a confissão de fé. De fato, não temos um Sumo Sacerdote incapaz de compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós, exceto no pecado. Vamos pois confiantes ao trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça para ser ajudados em tempo oportuno”.
E como não evocar ainda, por associação, o prólogo de São João onde nos apresenta o Verbo Encarnado como “O Filho Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”, isto é, de amor misericordioso e fiel, de “cuja plenitude todos nós recebemos graças sobre graças” (Jo 1, 14-16)?

Além disso, a arte iconográfica exprimiu por vezes este mistério com mais profundidade e finura do que certas teologias acadêmicas. Tal acontece na tradição iconográfica do Ocidente, quando apresenta e representa como que numa estética teológica o mistério Trinitário no madeiro da Cruz. É como uma síntese plástica desta teologia: o Pai que entrega o Filho para ser solidário com os homens, e sofre na dor do seu amor; o Filho que se entrega a si próprio totalmente pela multidão dos irmãos; a pomba do Espírito de Amor que sustenta o Filho na sua entrega e que, por sua vez, é entregue pelo Filho à humanidade como dom do seu amor sofredor. É este mistério de amor que celebramos na Eucaristia.


4. Conclusão.

Graça e Misericórdia, Graça do Amor misericordioso, é esta, portanto a síntese da mensagem de Fátima e da revelação do Deus compassivo que, no Seu Amor Trinitário, se inclina sobre todos os sofrimentos humanos, sobre a humanidade para fazer-lhe sentir toda a Sua ternura, para Se manifestar como Pai amoroso de toda a criatura.

Compreendemos então como o Papa João Paulo II, recordando o octogésimo aniversário das aparições de Fátima, escrevia, numa mensagem ao bispo local:
“Às portas do Terceiro Milênio, observando os sinais dos tempos neste século XX, Fátima conta-se certamente entre os maiores, até porque anuncia na sua Mensagem muitos dos sinais sucessivos e convida a viver os seus apelos; sinais como as duas guerras mundiais, mas também grandes assembléias de Nações e Povos sob o signo do diálogo e da paz; a opressão e as convulsões vividas por diversos países e povos, mas também a voz e a vez dadas a populações e gentes que entretanto se levantaram na arena internacional; as crises, as deserções e tantos sofrimentos dos membros da Igreja mas também um renovado e intenso sentido de solidariedade e de recíproca dependência no Corpo Místico de Cristo, que se vai consolidando em todos os batizados...; o afastamento e abandono de Deus da parte de indivíduos e sociedades, mas também uma irrupção do Espírito de Verdade nos corações e nas comunidades tendo-se chegado à imolação e ao martírio para salvar a “imagem e semelhança de Deus no homem” (Gn 1,27), para salvar o homem do homem. De entre estes e outros sinais dos tempos, como dizia, sobressai Fátima, que nos ajuda a ver a mão de Deus, guia providente e Pai paciente e compassivo também deste século XX”.

À luz destas chaves hermenêuticas, Fátima apresenta-se como um sinal de Deus para a nossa geração, uma palavra profética para o nosso tempo, uma intervenção divina na história humana mediante o rosto materno de Maria. Quando Maria se move para uma missão recebida de Deus, nunca é por algo de pouca importância ou por questões marginais, já que se trata sempre do grave problema do destino do mundo e da salvação dos homens.
Pensando bem, portanto, as coordenadas da mensagem de Fátima são amplas e contêm teologicamente uma profecia à luz da escatologia. “A profecia, no sentido bíblico do termo, não significa predizer o futuro, mas sim aplicar a vontade de Deus ao tempo presente, e por conseguinte, indicar o caminho reto do futuro”.
Por outro lado, as vicissitudes da humanidade e da Igreja devem ser submetidas ao critério escatológico ou do fim último. Somente abrindo os horizontes sobre a eternidade e proclamando a esperança teologal é possível iluminar o sentido da história aberta ao futuro de Deus e opor-se ao mal que ameaça a humanidade.
Neste sentido, na mensagem de Fátima a premonição do “juízo” que impende sobre o mundo como possibilidade de autodestruição infernal, isto é de acabar reduzido a cinzas, é anunciada juntamente com a esperança de vencer o mal a partir da nossa conversão a Deus. A mensagem de Fátima é, portanto advertência e, ao mesmo tempo consolação da esperança teologal: o mal é vencido pelo amor Trinitário revelado na cruz e ressurreição de Jesus, e pelo amor de Maria por nós.

   
            A APROVAÇÃO DA IGREJA.


D. José Alves Correia da Silva, bispo de Leiria, a cujo território pertencia o lugar dos acontecimentos, estudou e mandou estudar as aparições da Santíssima Virgem. Dando especial relevo aos documentos das testemunhas do milagre do sol do dia 13 de Outubro de 1917, declarou, em 13 de Outubro de 1930, dignas de crédito as visões das crianças nos dias 13, de Maio a Outubro de 1917, na Cova da Iria e permitiu oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima.
Assim, a voz do povo coincidiu com a voz de Deus e com a voz da Igreja.

          O Francisco dizia depois do dia 13 de Outubro:
- Gostei muito de ver Nosso Senhor, mas gostei mais de O ver naquela luz onde nós estávamos também. Daqui a pouco já Nosso Senhor me leva lá para ao pé Dele e então vejo-o sempre.


EM COIMBRA... COM A IRMÃ LÚCIA.

No primeiro dia do conclave, 26 de Agosto de 1978, os cento e onze cardeais da Igreja Católica, reunidos na Capela Sistina do Vaticano, elegeram o Cardeal Albino Luciani, Patriarca de Veneza, 263º sucessor de S. Pedro, Vigário de Cristo na terra. Foi um dos mais rápidos conclaves da história da Igreja.
O Cardeal Luciani tomou o nome de João Paulo I. A 29 de Setembro de 1978, os 1.300 sinos da Cidade Santa transmitiam aos habitantes de Roma uma notícia triste: Deus levara para si a alma do Santo Padre João Paulo I. Tal como o Cardeal Roncalli, também o Cardeal Luciani estivera em Fátima antes de ser eleito Papa.
A 10 de Julho de 1977 presidira à concelebração no altar do Recinto. Numa breve alocução aos peregrinos recordara que um dos seus antecessores, o Cardeal Roncalli, havia sido peregrino de Fátima, e que, ali mesmo proferira uma homilia aos peregrinos sobre as aparições do Anjo e de Nossa Senhora. De igual modo, ele, Patriarca de Veneza, apelava ao cumprimento da Mensagem de Fátima: penitência e oração, principalmente a reza do terço.
No dia 11 de Julho de 1977, o Cardeal Albino Luciani celebrou missa no Carmelo de Coimbra, onde conversou com a comunidade e em especial com a Irmã Lúcia. As suas impressões escreveu-as na revista intitulada « Il Cuore della Madre », no número de Janeiro de 1978.
“Segunda-feira, 11 de Julho concelebrei com alguns sacerdotes de Veneza e de Veneto, na igreja das carmelitas de Coimbra, cidade portuguesa com cerca de cem mil habitantes. Imediatamente depois, sozinho, os cardeais podem entrar na clausura, encontrei-me com toda a comunidade das irmãs (22 entre professas e noviças); em seguida falei longamente com a Irmã Lúcia dos Santos, a única sobrevivente dos três videntes de Fátima. A Irmã Lúcia tem 70 anos, mas suporta-os bem, assegurou-me ela própria sorrindo.

Não acrescentou como Pio IX “suporto-os tão bem que não me cai nenhum de cima”, mas a jovialidade, o falar expedito, o interesse apaixonado que revela, ao falar, por tudo aquilo que diz respeito à Igreja de hoje com os seus graves problemas, mostram a sua juventude espiritual. O português compreendo-o mais ou menos bem, por ter estado algumas semanas no Brasil; mas mesmo que ignorasse completamente a língua, eu teria compreendido, do mesmo modo que ela insistia comigo a necessidade de termos hoje cristãos e sobretudo seminaristas, noviços e noviças decididos a entregar-se a Deus sem reservas.
Falava-me com muita energia e convicção de “freiras, padres e cristãos de cabeça firme”; radical como os santos: “ou tudo ou nada”, se se quer ser de Deus a sério. A Irmã Lúcia não me falou das aparições. Perguntei-lhe alguma coisa sobre a famosa ‘dança do sol’. Não a viu. Setenta mil pessoas durante dez minutos seguidos, em 13 de Outubro de 1917, viram o sol tomar várias cores, girar sobre si mesmo três vezes e depois precipitar- se velozmente para a terra. Lúcia com os dois companheiros, via ao mesmo tempo, junto ao sol imóvel a Sagrada Família e em quadros sucessivos a Virgem como Nossa Senhora das Dores e como Nossa Senhora do Carmo.
Chegados a este ponto alguém perguntará: então o Cardeal interessa-se por revelações privadas? Não saberá ele que o Evangelho contém tudo? Que as revelações mesmo aprovadas não são artigos de fé? Sei isso muito bem. Mas artigo de fé contido no Evangelho é também este outro: Sinais acompanharão aqueles que crêem (Marcos 16, 17).
Se hoje se tornou moda perscrutar os sinais dos tempos e assistimos a uma inflação e praga de ‘sinais’ creio seja lícito referir-me ao sinal de 13 de Outubro de 1917 atestado por anti-clericais e incrédulos. E por detrás do sinal é oportuno atender às coisas contidas naquele sinal. Quais?

Primeiro: Arrepender-se dos próprios pecados e evitar ofender mais o Senhor.

Segundo: Rezar. A oração é o meio de comunicação com Deus, mas os meios de comunicação entre os homens (tv, rádio, cinema, imprensa) hoje prevalecem descaradamente e parecem querer pôr de lado totalmente a oração: “ceci tuera cela” assim se diz; parece que isto se está a verificar.
Não sou eu mas Karl Rahner que escreve: “Está em ato, mesmo no interior da Igreja, um empenho exclusivo do homem pelas realidades temporais, o que não é uma escolha legítima mas uma apostasia e perda total da fé”.

Terceiro: Recitar o Rosário. O sírio Naaman, grande general, desdenhava o simples banho no Jordão. Alguns fazem como Naaman: “Sou um grande teólogo, um cristão amadurecido que respira a Bíblia a plenos pulmões e a sua liturgia por todos os poros e falam-me do Terço?! Contudo também os quinze mistérios do Rosário são Bíblia e também o Pai Nosso, a Ave-Maria e o Glória, são Bíblia unida à oração que faz bem à alma. Uma Bíblia estudada por mero esforço de investigação poderia encher o espírito de soberba, e esvaziá-lo de todo o resto; não é raro o caso de especialistas da Bíblia perderem a fé.

Quarto: O inferno existe e podemos cair nele. Em Fátima, Nossa Senhora ensinou esta oração: “Ó meu Jesus perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu.”
Neste mundo há coisas importantes, mas nenhuma é mais importante do que merecer o paraíso com uma vida boa. Não é Fátima a dizê-lo, mas sim o Evangelho: “Que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a própria alma?” (Mateus 16.26)


SOBRE OS TRÊS VIDENTES DE FÁTIMA

LÚCIA DE JESUS 

A principal protagonista das Aparições nasceu em 22 de Março de 1907, em Aljustrel, paróquia de Fátima, e faleceu no dia 13 de Fevereiro de 2005.
 Em 17 de Junho de 1921, ingressou no Asilo de Vilar (Porto), dirigido pelas religiosas de Santa Doroteia.
Depois foi para Tuy, onde tomou o hábito, com o nome de Maria Lúcia das Dores. Fez a profissão religiosa de votos temporários em 3 de Outubro de 1928 e, em 3 de Outubro de 1934, a de votos perpétuos. No dia 25 de Março de 1948, transferiu-se para Coimbra, onde ingressou no Carmelo de Santa Teresa, tomando o nome de Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado. No dia 31 de Maio de 1949, fez a sua profissão de votos solenes.
A Irmã Lúcia veio a Fátima várias vezes: em 22 de Maio de 1946; em 13 de Maio de 1967; em 1981, para dirigir, no Carmelo, um trabalho pictórico sobre as Aparições; em 13 de Maio de 1982, 13 de Maio de 1991 e 13 de Maio de 2000.
Faleceu no Convento de Santa Teresa, em Coimbra, a 13 de Fevereiro de 2005. A 19 de Fevereiro de 2006 o seu corpo foi trasladado para a Basílica do Santuário de Fátima, onde foi tumulado ao lado da sua prima, a vidente Beata Jacinta Marto.


FRANCISCO MARTO

Nasceu em 11 de Junho de 1908, em Aljustrel. Faleceu santamente no dia 4 de Abril de 1919, na casa de seus pais. Muito sensível e contemplativo, orientou toda a sua oração e penitência para "consolar a Nosso Senhor".
Os seus restos mortais ficaram sepultados no cemitério paroquial até ao dia 13 de Março de 1952, data em que foram trasladados para a Basílica da Cova da Iria, lado nascente.


JACINTA MARTO

Nasceu em Aljustrel, no dia 11 de Março de 1910. Morreu santamente em 20 de Fevereiro de 1920, no Hospital de D. Estefânia, em Lisboa, depois de uma longa e dolorosa doença, oferecendo todos os seus sofrimentos pela conversão dos pecadores, pela paz no mundo e pelo Santo Padre.
Em 12 de Setembro de 1935 foi solenemente trasladado o seu cadáver do jazigo da família do Barão de Alvaiázere, em Vila Nova de Ourém, para o cemitério de Fátima, e colocado junto dos restos mortais do seu irmãozinho Francisco.
No dia 1 de Maio de 1951, efectuou-se, com a maior simplicidade, a trasladação dos restos mortais de Jacinta para o novo sepulcro preparado na Basílica da Cova da Iria, lado poente.
O processo de beatificação dos Videntes de Fátima, Francisco e Jacinta Marto, depois das primeiras diligências feitas em 1945, foi iniciado em 1952 e concluído em 1979.
Em 15 de Fevereiro de 1988, foi entregue ao Santo Padre João Paulo II e à Congregação para a Causa dos Santos a documentação final levou o Santo Padre a proclamar "beatos" os dois videntes de Fátima, a 13 de Maio de 2000. O último passo será, como esperamos, a canonizacão, pela qual serão declarados "santos".


HISTÓRIA DOS PROCESSOS DE BEATIFICAÇÃO DE FRANCISCO E JACINTA MARTO

Os processos de beatificação dos Servos de Deus Francisco e Jacinta Marto, tiveram início em 30 de Abril de 1952, mas, pela sucessão dos bispos da diocese de Leiria-Fátima, impedimento e morte de vários membros do Tribunal, e ainda devido às modificações introduzidas após a realização do Concílio Vaticano II, os processos só foram entregues à Sagrada Congregação para a Causa dos Santos, em Roma, em 3 de Agosto de 1979 (o do Francisco) e a 2 de Julho do mesmo ano (o da Jacinta). A mesma congregação aceitou como Postulador das causas dos videntes de Fátima, em Roma, o Rev. P.Molinari, SJ, que se dedicou ao desenvolvimento jurídico das causas. Como postulador "extra urbem", foi nomeado, em 14 de Dezembro de 1979, o Rev.P.Luis Kondor, SVD..
Os processos foram abertos, em Roma, em 20 de Dezembro de 1979. Os trabalhos de tradução do português para italiano terminaram em Fevereiro de 1982.
Porém, em Abril de 1981, a Sagrada Congregação para a Causa dos Santos estudou num plano de princípios, a possibilidade da beatificação e canonização de crianças não-mártires, abrindo, assim, perspectivas favoráveis à beatificação dos videntes de Fátima, Francisco e Jacinta Marto.
Passo importante no processo de beatificação foi a publicação dos decretos de heroicidade de virtudes dos dois videntes, feita em 13 de Maio de 1989.
Segundo nova norma introduzida para as beatificações e canonizações, torna-se necessário o reconhecimento científico de um milagre, no caso, obtido por intercessão dos Servos de Deus Francisco e Jacinta Marto.

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