São Cláudio de la Colombière, grande Apóstolo do Sagrado
Coração
Natural de Saint-Symphorien, perto de Lyon, Cláudio de la Colombière provinha de família que já dera ilustres membros à Magistratura. De sua mãe, muito piedosa, recebeu a formação religiosa que despertaria nele a vocação.
O fato de ter sido aluno do Colégio dos jesuítas de Lyon, cujos professores eram conhecidos por sua militância antijansenista (3), marcou a fundo sua espiritualidade e futuro apostolado, baseado na misericórdia e na confiança.
Noviço jesuíta, seus dotes invulgares já aos 19 anos chamaram a atenção de seu mestre, o Pe. Jean Papon, que assim o descreve ao Geral da Companhia, em relato de 1660: temperamento “suave” e aparência “delicada”, “grande talento, rara capacidade de juízo, prudência consumada, muita experiência da vida. Começou bem os estudos. Apto para qualquer coisa” (4).
Religioso exímio e fidalgo consumado
Ainda estudante foi escolhido para preceptor de dois filhos do poderoso ministro de Luís XIV, Colbert: Nicolau, futuro Arcebispo de Rouen, e João Batista, futuro marquês de Seignelay e Ministro da Marinha.
Na residência de Colbert – grande mecenas da cultura – conviveu com pessoas polidas, elegantes e cultas. Tornou-se amigo de Olivier Patru, membro da Academia Francesa, considerado o homem que falava o melhor francês no Reino. Nessa convivência completou sua educação, tornando-se não apenas um perfeito religioso, mas também consumado fidalgo (5).
O Pe. Nicolau La Pesse, editor de seus “Sermões”, em Lyon, no ano de 1684 (6) assim o descreve:
“Espírito vivo, juízo seguro, fino e penetrante, alma nobre, jeito e graça. Distinguia-se sobretudo por sua maneira de pensar e pela elegância e precisão de expressão. Quando falava com as pessoas, sua distinção e doçura conquistavam os espíritos e os corações. A união com Deus transparecia no seu rosto e nas suas palavras. A oração era nele habitual. Como era reto e esclarecido, considerava com extrema justiça qualquer assunto que tivesse de tratar” (7).
“É preciso ser santo para fazer santos”
Ordenado sacerdote em 1669, o Pe. de La Colombière voltou a Lyon para lecionar no Colégio da Trindade, durante três anos. Retirou-se depois para a Casa São José, ali completando o período da probatio, ou seja, o ano de recolhimento e meditação prescrito pela regra da Companhia de Jesus.
Descendendo de família de notários, o jovem jesuíta “sentia muito o valor dos compromissos jurídicos e especialmente dos votos feitos a Deus”. Não só naquela Casa religiosa, mas ainda durante três a quatro anos, meditou de tal modo sobre as Constituições e o espírito da Companhia de Jesus, que fez o voto de “observar as Constituições, as regras comuns, as regras da modéstia e as da vida Sacerdotal” (8) o mais perfeitamente possível.
Foi esse o meio que escolheu para santificar-se. Nesse sentido, lê-se em uma das deliberações que tomou durante a probatio: “Não importa o preço: é preciso que Deus esteja contente. É verdade que é preciso ser santo para fazer santos, e meus defeitos muito consideráveis me fazem conhecer quanto estou distante da santidade; mas, meu Deus, fazei-me santo, e não poupai nada para me fazer bom. Quero sê-lo, não importa o que me custar” (9).
Encontro de dois Santos
Com essas qualidades espirituais e intelectuais, o Pe. Cláudio estava já preparado para a grande missão de sua vida.
Tendo sido transferido o Pe. Pierre Papon, superior dos jesuítas de Paray-le-Monial, o Pe. de la Colombière foi designado para substituí-lo no cargo. Isso mostra o alto conceito em que era tido.
Havia no Convento das Visitandinas daquela cidade uma jovem religiosa, simples, de pouca cultura, que parecia estar sendo favorecida por graças extraordinárias e necessitava de uma direção segura. Sua Superiora, Madre de Saumaise, apesar de reconhecida virtude e discernimento, não se sentia segura para julgar questão tão delicada. Recorrera, para isso, às notabilidades locais. Estas foram unânimes em julgar que se tratava de ilusões...
A boa Madre, no entanto, hesitava: a Irmã Margarida Maria (1647-1690) era sensata, humilde, obediente e não parecia ter nada de visionária nem querer se valorizar por essas experiências místicas. Portanto, era preciso que elas fossem julgadas por alguém com santidade, vasta cultura e profundo saber teológico, e com renome de grande prudência e juízo seguro. A quem recorrer?
Foi durante esse impasse que o Pe. Cláudio chegou a Paray-le-Monial e conheceu a vidente.
A chancela do renomado jesuíta à nova devoção
Em sua primeira preleção às monjas, o Pe. Cláudio notou uma que o ouvia mais atentamente. A superiora informou-o que se tratava da Irmã Margarida Maria.
- “É uma alma visitada pela graça”, comentou o jesuíta.
Ao mesmo tempo, uma voz interior dizia à mencionada freira: “Eis aquele que te envio” (10).
Como os santos geralmente falam a mesma linguagem, o Pe. de la Colombière e a Irmã Margarida Maria logo se entenderam. Ele interpretou a experiência mística da religiosa e estimulou-a vivamente a seguir as inspirações do Espírito que a dirigia.
E, contra a generalidade das opiniões, empenhou seu juízo de aprovação de maneira serena e firme. A Superiora poderia ficar tranqüila; aquilo vinha de Deus.
São Cláudio de la Colombière representou assim a caução humana das visões de Santa Margarida Maria. Acontecesse o que fosse – e muita perseguição e incompreensão ainda teriam lugar –, um fato irremissível estava posto: o jesuíta afamado por sua prudência e segurança de juízo estava certo da autenticidade das visões da Irmã Margarida Maria.
Nos 20 meses em que o Pe. Cláudio foi Superior da residência jesuíta em Paray-le-Monial, fundou associações de piedade, pregou missões e dirigiu numerosas almas.
Porém, a grande importância de seu apostolado consistiu no apoio inestimável que prestou a Santa Margarida Maria: uma nova luz – a devoção ao Sagrado Coração – iria encher os espaços da Igreja sob o bafejo de Papas e Santos. Coube ao Pe. de la Colombière, naquele momento, a missão de proteger o seu tímido bruxuleio inicial contra as várias tempestades. E ele foi fiel ao encargo recebido.
Apostolado fecundo: ódio dos hereges e prisão
Entrementes, outro campo ainda maior de apostolado reclamava o zelo prudente do Padre de la Colombière: a Inglaterra.
O Duque de York, herdeiro do trono e futuro Jaime II, casara-se com a Princesa italiana Maria Beatriz d’Este, filha do Duque de Módena, encantadora, séria, piedosa e de grande inteligência. O Pe. Cláudio foi escolhido para a difícil tarefa de ser seu confessor e o pregador de sua capela. Deveria viver em meio a uma população cheia de prevenções anticatólicas; ter hábitos de Corte, sem se deixar mundanizar; saber agradar com naturalidade, mas ser firme nos princípios. Poderia fazer um grande bem, porém haveria sempre o risco de comprometer os interesses católicos de forma gravíssima, se fosse inábil ou imprudente. Tal missão pressupunha não apenas uma virtude sólida, mas também destreza, tato e experiência da vida.
Perfeito filho da obediência, o Pe. Cláudio deixou Paray-le-Monial rumo a Londres, em agosto de 1676.
Na capital inglesa, não se limitou a ser o pregador e diretor de consciência da Duquesa de York. Seus densos e piedosos sermões na capela do palácio atraíam muita gente. Visitava doentes e converteu muitas pessoas. Resgatou da apostasia dezenas de Sacerdotes. Sempre que possível, inculcava a devoção ao Sagrado Coração, que recebera de Santa Margarida Maria, e ao Escapulário.
O ódio anti-religioso contra ele aumentou. Para destruir as perspectivas favoráveis que a Religião Católica encontrava na Inglaterra neste final de século XVII, foi desencadeada uma das mais terríveis campanhas de calúnias da História, misto de estrondo publicitário, denúncias no Parlamento, medidas judiciais e pressões sobre a Corte e o Rei. Embora baseada na mentira, a febricitação criada convulsionou o Parlamento e a opinião pública.
São Cláudio, acusado injustamente de um suposto complô contra o Rei, o “Oates Plot”, foi lançado nos calabouços infectos e gelados do King’s Bench, onde as péssimas condições agravaram sua tuberculose incipiente. Em dezembro de 1678, banido da Inglaterra voltou para a França.
Às portas da morte, zelo não arrefece
O Padre de la Colombière viveu ainda alguns meses, sempre muito doente. Foi-lhe dado um ofício pouco cansativo – diretor espiritual dos seminaristas em Lyon –, tendo durante essa fase exercido benéfica influência sobre o futuro Pe. de Galliffet, o qual se transformou num dos maiores apóstolos da devoção ao Sagrado Coração no século XVIII.
São Cláudio faleceu em Paray-le-Monial no dia 15 de fevereiro de 1681, celebrizando-se como o Santo da confiança e o pregador da misericórdia do Sagrado Coração. Beatificado por Pio XI em 1929, foi canonizado por João Paulo II em 1992.
Natural de Saint-Symphorien, perto de Lyon, Cláudio de la Colombière provinha de família que já dera ilustres membros à Magistratura. De sua mãe, muito piedosa, recebeu a formação religiosa que despertaria nele a vocação.
O fato de ter sido aluno do Colégio dos jesuítas de Lyon, cujos professores eram conhecidos por sua militância antijansenista (3), marcou a fundo sua espiritualidade e futuro apostolado, baseado na misericórdia e na confiança.
Noviço jesuíta, seus dotes invulgares já aos 19 anos chamaram a atenção de seu mestre, o Pe. Jean Papon, que assim o descreve ao Geral da Companhia, em relato de 1660: temperamento “suave” e aparência “delicada”, “grande talento, rara capacidade de juízo, prudência consumada, muita experiência da vida. Começou bem os estudos. Apto para qualquer coisa” (4).
Religioso exímio e fidalgo consumado
Ainda estudante foi escolhido para preceptor de dois filhos do poderoso ministro de Luís XIV, Colbert: Nicolau, futuro Arcebispo de Rouen, e João Batista, futuro marquês de Seignelay e Ministro da Marinha.
Na residência de Colbert – grande mecenas da cultura – conviveu com pessoas polidas, elegantes e cultas. Tornou-se amigo de Olivier Patru, membro da Academia Francesa, considerado o homem que falava o melhor francês no Reino. Nessa convivência completou sua educação, tornando-se não apenas um perfeito religioso, mas também consumado fidalgo (5).
O Pe. Nicolau La Pesse, editor de seus “Sermões”, em Lyon, no ano de 1684 (6) assim o descreve:
“Espírito vivo, juízo seguro, fino e penetrante, alma nobre, jeito e graça. Distinguia-se sobretudo por sua maneira de pensar e pela elegância e precisão de expressão. Quando falava com as pessoas, sua distinção e doçura conquistavam os espíritos e os corações. A união com Deus transparecia no seu rosto e nas suas palavras. A oração era nele habitual. Como era reto e esclarecido, considerava com extrema justiça qualquer assunto que tivesse de tratar” (7).
“É preciso ser santo para fazer santos”
Ordenado sacerdote em 1669, o Pe. de La Colombière voltou a Lyon para lecionar no Colégio da Trindade, durante três anos. Retirou-se depois para a Casa São José, ali completando o período da probatio, ou seja, o ano de recolhimento e meditação prescrito pela regra da Companhia de Jesus.
Descendendo de família de notários, o jovem jesuíta “sentia muito o valor dos compromissos jurídicos e especialmente dos votos feitos a Deus”. Não só naquela Casa religiosa, mas ainda durante três a quatro anos, meditou de tal modo sobre as Constituições e o espírito da Companhia de Jesus, que fez o voto de “observar as Constituições, as regras comuns, as regras da modéstia e as da vida Sacerdotal” (8) o mais perfeitamente possível.
Foi esse o meio que escolheu para santificar-se. Nesse sentido, lê-se em uma das deliberações que tomou durante a probatio: “Não importa o preço: é preciso que Deus esteja contente. É verdade que é preciso ser santo para fazer santos, e meus defeitos muito consideráveis me fazem conhecer quanto estou distante da santidade; mas, meu Deus, fazei-me santo, e não poupai nada para me fazer bom. Quero sê-lo, não importa o que me custar” (9).
Encontro de dois Santos
Com essas qualidades espirituais e intelectuais, o Pe. Cláudio estava já preparado para a grande missão de sua vida.
Tendo sido transferido o Pe. Pierre Papon, superior dos jesuítas de Paray-le-Monial, o Pe. de la Colombière foi designado para substituí-lo no cargo. Isso mostra o alto conceito em que era tido.
Havia no Convento das Visitandinas daquela cidade uma jovem religiosa, simples, de pouca cultura, que parecia estar sendo favorecida por graças extraordinárias e necessitava de uma direção segura. Sua Superiora, Madre de Saumaise, apesar de reconhecida virtude e discernimento, não se sentia segura para julgar questão tão delicada. Recorrera, para isso, às notabilidades locais. Estas foram unânimes em julgar que se tratava de ilusões...
A boa Madre, no entanto, hesitava: a Irmã Margarida Maria (1647-1690) era sensata, humilde, obediente e não parecia ter nada de visionária nem querer se valorizar por essas experiências místicas. Portanto, era preciso que elas fossem julgadas por alguém com santidade, vasta cultura e profundo saber teológico, e com renome de grande prudência e juízo seguro. A quem recorrer?
Foi durante esse impasse que o Pe. Cláudio chegou a Paray-le-Monial e conheceu a vidente.
A chancela do renomado jesuíta à nova devoção
Em sua primeira preleção às monjas, o Pe. Cláudio notou uma que o ouvia mais atentamente. A superiora informou-o que se tratava da Irmã Margarida Maria.
- “É uma alma visitada pela graça”, comentou o jesuíta.
Ao mesmo tempo, uma voz interior dizia à mencionada freira: “Eis aquele que te envio” (10).
Como os santos geralmente falam a mesma linguagem, o Pe. de la Colombière e a Irmã Margarida Maria logo se entenderam. Ele interpretou a experiência mística da religiosa e estimulou-a vivamente a seguir as inspirações do Espírito que a dirigia.
E, contra a generalidade das opiniões, empenhou seu juízo de aprovação de maneira serena e firme. A Superiora poderia ficar tranqüila; aquilo vinha de Deus.
São Cláudio de la Colombière representou assim a caução humana das visões de Santa Margarida Maria. Acontecesse o que fosse – e muita perseguição e incompreensão ainda teriam lugar –, um fato irremissível estava posto: o jesuíta afamado por sua prudência e segurança de juízo estava certo da autenticidade das visões da Irmã Margarida Maria.
Nos 20 meses em que o Pe. Cláudio foi Superior da residência jesuíta em Paray-le-Monial, fundou associações de piedade, pregou missões e dirigiu numerosas almas.
Porém, a grande importância de seu apostolado consistiu no apoio inestimável que prestou a Santa Margarida Maria: uma nova luz – a devoção ao Sagrado Coração – iria encher os espaços da Igreja sob o bafejo de Papas e Santos. Coube ao Pe. de la Colombière, naquele momento, a missão de proteger o seu tímido bruxuleio inicial contra as várias tempestades. E ele foi fiel ao encargo recebido.
Apostolado fecundo: ódio dos hereges e prisão
Entrementes, outro campo ainda maior de apostolado reclamava o zelo prudente do Padre de la Colombière: a Inglaterra.
O Duque de York, herdeiro do trono e futuro Jaime II, casara-se com a Princesa italiana Maria Beatriz d’Este, filha do Duque de Módena, encantadora, séria, piedosa e de grande inteligência. O Pe. Cláudio foi escolhido para a difícil tarefa de ser seu confessor e o pregador de sua capela. Deveria viver em meio a uma população cheia de prevenções anticatólicas; ter hábitos de Corte, sem se deixar mundanizar; saber agradar com naturalidade, mas ser firme nos princípios. Poderia fazer um grande bem, porém haveria sempre o risco de comprometer os interesses católicos de forma gravíssima, se fosse inábil ou imprudente. Tal missão pressupunha não apenas uma virtude sólida, mas também destreza, tato e experiência da vida.
Perfeito filho da obediência, o Pe. Cláudio deixou Paray-le-Monial rumo a Londres, em agosto de 1676.
Na capital inglesa, não se limitou a ser o pregador e diretor de consciência da Duquesa de York. Seus densos e piedosos sermões na capela do palácio atraíam muita gente. Visitava doentes e converteu muitas pessoas. Resgatou da apostasia dezenas de Sacerdotes. Sempre que possível, inculcava a devoção ao Sagrado Coração, que recebera de Santa Margarida Maria, e ao Escapulário.
O ódio anti-religioso contra ele aumentou. Para destruir as perspectivas favoráveis que a Religião Católica encontrava na Inglaterra neste final de século XVII, foi desencadeada uma das mais terríveis campanhas de calúnias da História, misto de estrondo publicitário, denúncias no Parlamento, medidas judiciais e pressões sobre a Corte e o Rei. Embora baseada na mentira, a febricitação criada convulsionou o Parlamento e a opinião pública.
São Cláudio, acusado injustamente de um suposto complô contra o Rei, o “Oates Plot”, foi lançado nos calabouços infectos e gelados do King’s Bench, onde as péssimas condições agravaram sua tuberculose incipiente. Em dezembro de 1678, banido da Inglaterra voltou para a França.
Às portas da morte, zelo não arrefece
O Padre de la Colombière viveu ainda alguns meses, sempre muito doente. Foi-lhe dado um ofício pouco cansativo – diretor espiritual dos seminaristas em Lyon –, tendo durante essa fase exercido benéfica influência sobre o futuro Pe. de Galliffet, o qual se transformou num dos maiores apóstolos da devoção ao Sagrado Coração no século XVIII.
São Cláudio faleceu em Paray-le-Monial no dia 15 de fevereiro de 1681, celebrizando-se como o Santo da confiança e o pregador da misericórdia do Sagrado Coração. Beatificado por Pio XI em 1929, foi canonizado por João Paulo II em 1992.